terça-feira, 8 de setembro de 2020

8 de setembro: Dia Mundial da Alfabetização


Dia Mundial da Alfabetização
Cristina Maria Rosa

Em um dia como o de hoje, em que se comemoram os frutos do processo de ensinar e aprender a ler e escrever a prosa e a poesia mais a infinidade de outros gêneros textuais que constituem a cultura escrita, não posso deixar de escrever o que é, para mim, “alfabetizar-se”.
Como Pedagoga e Tutora de um grupo de estudantes que serão, em breve professores alfabetizadores, sei que alfabetizar – ensinar a ler e escrever – é tarefa primordial de minha profissão. Tanto, que, brincando e falando sério ao mesmo tempo, afirmo que se um Pedagogo não souber alfabetizar e não for capaz de ensinar a amar a leitura, pode “rasgar” o diploma.
Por quê? Porque essa habilidade é primordial desde que a escrita foi inventada e transformou-se em viabilizadora de acordos, privados e de estado, espontâneos e religiosos, memorialísticos e historiográficos.
Na Universidade só há um Curso de Graduação que tem o aval da sociedade científica e da sociedade como um todo para formar alfabetizadores: a Licenciatura em Pedagogia. É por isso que entender de infâncias, de processos de aprendizagem, de literatura e de aquisição da escrita é a “nossa praia”. Sim, também aprendemos a gerir escolas, a aplicar ou contestar leis que regulam a educação no país, a incluir crianças atípicas no ambiente escolar, a refazer rodas do brincar e a oportunizar aos que chegam à escola e nela permanecem a se expressar artisticamente e matematicamente.
Como poucas profissões, unimos a arte e a razão e buscamos inspirar pessoinhas, desde tenra idade, a amar os livros, as palavras contidas nele, as sonoridades e os silêncios. Ensinamos também tudo o que herdamos de valioso: pensar, arquitetar, multiplicar, dividir, explorar, surpreender, projetar, imaginar, pesquisar, duvidar...
E é por isso que esse dia, o Dia mundial da Alfabetização, precisa ser comemorado. 
Mas precisa, também, ser conceituado.
Nada melhor que Magda Soares que, embora não seja Pedagoga, ao se aposentar como professora Titular na UFMG, vinculou-se à escola pública de ensino fundamental para compreender os processos de aprender e ensinar a ler e escrever. Quando estive com ela, em Lagoa Santa-MG,  em 2015, uma grande cerimônia abria a mostra de escritas de professoras e crianças que, inspiradas e instadas por Magda, passaram a ler mais e a escrever autoralmente.
Para Magda, alfabetizar é um “processo de aprendizagem do sistema alfabético e de suas convenções, ou seja, a aprendizagem de um sistema notacional que representa, por grafemas, os fonemas da fala”. Mas é insuficiente, esse conceito, pensa Magda Soares. Ela acrescenta:

É importante destacar que, na prática pedagógica, a aprendizagem da língua escrita, ainda que inicial, deve ser tratada como uma totalidade: a alfabetização deve integrar-se com o desenvolvimento das habilidades de uso do sistema alfabético – com o letramento; embora os dois processos tenham especificidades quanto a seus objetos de conhecimento e aos processos linguísticos e cognitivos de apropriação desses objetos, dissociá-los teria como consequência levar a criança a uma concepção distorcida e parcial da natureza e das funções da língua escrita em nossa cultura (SOARES, 2004, p.21-22).

Cristina Rosa e o filho, antes dos dois anos.
O PET e a Alfabetização
Para mim, a alfabetização começa pelo entendimento do que é a Linguagem. Como “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2004, p. 192-193), a linguagem afirma nossa condição de “seres muito particulares”, porque temos essa “capacidade admirável de significar, isto é, de produzir sentido por meio de símbolos, sinais, signos, ícones”.
Para Marcos Bagno (2004, p. 192-193), nenhum gesto humano é neutro, ingênuo, vazio de sentido: muito pelo contrário. Ele é sempre

“carregado de sentido, nos mais variados graus, e cabe justamente à nossa capacidade de linguagem interpretar o sentido implicado em cada manifestação dos outros membros da nossa espécie”.

Se como espécie herdamos a capacidade de interpretar sentidos, como desenvolvê-los desde pequenos, na escola, o primeiro lugar público que existimos como cidadãos?

Alfabetização Literária
Acreditamos na alfabetização literária como um modo de criar, alimentar, cultuar e imprimir nossa voz e nossos sentidos no mundo que habitamos. Alfabetizar literariamente, então, é criar as condições prévias para as demais alfabetizações que, juntas, produzem crianças, jovens e adultos letrados.
Bônus
Mais sobre o tema, leia o GLOSSÁRIO CEALE. Ele está disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/


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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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