Letramento Literário: uma entrevista com Zélia Versiani.
Cristina Maria Rosa
Em 30/07/2008,
o Blog Escrita Brasil entrevistou Maria Zelia Versiani Machado. O tema?
Letramento literário. Para conhecer a entrevista na íntegra, clique em: http://escritabrasil.blogspot.com/2008/07/letramento.html
A questão central...
Juliana – O que é Letramento Literário? Qual a importância da existência de um grupo de pesquisa, dentro da academia, sobre o Letramento Literário?
Zélia – O letramento literário – estado ou condição de quem faz usos da
literatura – supõe um processo que pode se iniciar antes de se saber ler e
escrever. Nas histórias, nos provérbios, nos ditos populares, nas adivinhas,
nas parlendas, entre outros textos ficcionais e poéticos da oralidade, por meio
de muitas vozes que não se restringem àquelas do universo familiar mais
próximo. Na escola, com o aprendizado da leitura e da escrita, os impressos –
livros, jornais, revistas e as telas como portadores de textos literários
passam a fazer parte desse processo de letramento, dando mais autonomia ao
leitor. A partir da alfabetização ele poderá interagir mais com a cultura
escrita literária que o envolve. Ele passa a escolher o que quer ler, a indicar
livros de que gostou. O trabalho dos professores, depois disso, continua a ser
imprescindível no sentido de ampliar, a cada etapa da escolaridade, as
experiências literárias de seus alunos.
O termo ‘letramento literário’ foi usado
pela primeira vez no Brasil por Graça Paulino, num trabalho encomendado para a
ANPEd[1],
na sequência do trabalho de Magda Soares[2].
Na época, o nosso grupo de pesquisa tinha o nome Grupo de Pesquisas de
Literatura Infantil e Juvenil. Em seguida passamos a adotar o nome Grupo de
Pesquisas do Letramento Literário – GPELL – pelo fato de, assim, integrarmos
mais a literatura no contexto da cultura escrita às nossas discussões. Desta
forma, a mudança de nome buscou destacar a importância da leitura literária, do
leitor, da formação de leitores – professores e alunos –, da leitura literária
na escola e em bibliotecas, etc. Como grupo de pesquisa do Ceale – Centro de
Alfabetização, Leitura e Escrita, da Faculdade de Educação (UFMG) – a opção
pelo letramento literário afinava-se às ações do Centro, entre as quais aquela
voltada para a formação de professores. A oportunidade de diálogo com
professores da educação básica tem nos mostrado caminhos para levar a
literatura para dentro da sala de aula. Sem esse contraponto, esse diálogo com o
leitor-professor ou aluno, não estaríamos fazendo jus à designação letramento
literário. A outra ponta – para quem e para onde vão os livros – nos interessa
tanto quanto os “bons” livros da literatura. E sabemos que uma exigência para
que ele chegue ao leitor é a de cumplicidade, uma cumplicidade que se alcança
quando o professor é autor e ator do processo, quando partilha as suas leituras
com seus alunos, com outros professores, com pesquisadores. Acreditamos que
essa condição de autoria e de ser ator de suas ações mediadoras na sala de aula
pode ser conquistada pelos professores em cursos de formação. Outra ênfase do
Grupo, a da pesquisa, não tem perdido de vista essa perspectiva da formação de
leitores. Acabei indo além do conceito. Inevitavelmente.
[1] PAULINO, G. Letramento literário: cânones estéticos e cânones escolares. In: 22º Encontro Nacional da ANPED,
1999, Anais do 22º Encontro Nacional da
ANPED. Caxambu: Associação Nacional de Pesquisa em Educação, 1999.
[2] SOARES,
M. Escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A. M.; BRANDÃO, H. M. B.; MACHADO,
M. Z. V. (Orgs.) Escolarização da leitura literária. Belo Horizonte:
Autêntica, 1999.
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