sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Quatro de setembro: mais um dia com Graça...




Lendo sobre Graça
Cristina Maria Rosa

Transformar o país num país melhor para muitos, para a maioria… Essa é uma das minhas utopias. Eu acredito que talvez cheguemos lá. Num Brasil Literário também. Ainda não temos um Brasil Literário, mas precisamos continuar lutando por ele. […] Considero a literatura como um processo de reumanização, de ressocialização, na linha de Antonio Candido. Se nós considerarmos dessa maneira, a prática de leitura literária pode ser vista como coletiva e não como prática de elite, fechada. Não podemos perder a ideia de que a transformação é possível. Manter vivas as utopias é manter vivo o ser humano. (Graça Paulino, Presença Pedagógica, nov./dez. 2011, V7, Nº 102).

Uma homenagem...
Em 30 de agosto de 2019, Letícia Pires escreveu, em memória a “uma pesquisadora genial, uma cidadã ativa e a uma mulher forte”. Lembrando suas inspiradoras, valiosas e atemporais palavras, publicou, no Jornal Pensar a Educação em Pauta[1], um tributo à Graça Paulino. Com o título “Herança e Esperança de um Brasil Literário – Uma homenagem à Graça Paulino”, a autora do texto revela que o texto é fruto de uma parceria do projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil com a diretoria da Faculdade de Educação da UFMG para valorizar a produção de conhecimento no Ensino, na Pesquisa ou Extensão. Leia:

Militante por uma educação de qualidade para todos, defensora da democratização da literatura e inquestionavelmente uma mulher à frente do seu tempo. A professora e pensadora Graça Paulino, que nos deixou recentemente, deixará um legado indiscutível para a educação e para a literatura no país.
Formada em Letras pela UFMG, mestre em literatura pela mesma instituição e doutora em teoria literária pela UFRJ, a professora Maria das Graças Rodrigues Paulino se tornou uma referência em estudos literários no país. Para além dos títulos, Graça desempenhou uma função importante no desenvolvimento de um papel político da educação, tornando-se defensora de mudanças estruturais para um Brasil mais literário e democrático.
À influências de sua trajetória pessoal, a professora tinha como missão incitar a função social da literatura e, principalmente, formar leitores literários. Esse termo, calcado pela própria, diz respeito à conexão entre a democratização e a apropriação da literatura para si, diz respeito ao letramento como processo e prática. Tão quanto essa ideia se relaciona a outros termos centrais nas produções de Graça: a educação e a leitura literária, entendidos como uma ponte entre a literatura e o ensino. Para Marta Passos, amiga, ex-orientanda de Graça e professora do CEFET-MG, esses termos podem ser entendidos a partir da percepção de que “a leitura pode ser ensinada. É possível ensinar habilidades de leitura literária para que seja possível entender quais estratégias é necessário mobilizar para compreender um texto. A literatura, para Graça, não deveria ser vista como fim único utilitário e pedagógico, mas também estético”.
Em harmonia a seus objetivos e na busca por mudanças nas estruturas sociais e políticas do país, Graça encabeçou e realizou diversos projetos de ensino, pesquisa e extensão. Em destaque, está seu envolvimento com o PNBE – Programa Nacional Biblioteca nas Escolas e o Projeto LIEDE – Literatura para Educadores, cujo principal objetivo era a produção gráfica de obras de autores clássicos brasileiros – que estão em domínio público. Essa ação buscava a facilitação do acesso de professores a esses materiais, desenvolvendo o interesse, fortalecendo a prática de leitura e, principalmente, promovendo um acesso livre à literatura.
Para além, um dos projetos de Graça se apoiava na realização dos eventos “Jogo do Livro”: conferências para a discussão sobre letramento e literatura no Brasil. Neste ano, no XIII encontro, que acontecerá do dia 1º a 4 de Outubro, na FAE/UFMG, cujo tema é “Acervos literários: formação, mediação e pesquisa”, ocorrerá uma homenagem à professora, ressaltando seu legado, definido por Marta como “seus textos, suas aulas, suas práticas, em seus conceitos e sua luta”.


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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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