Lendo sobre Graça
Cristina Maria Rosa
Transformar o país num país
melhor para muitos, para a maioria… Essa é uma das minhas utopias. Eu acredito
que talvez cheguemos lá. Num Brasil Literário também. Ainda não temos um Brasil
Literário, mas precisamos continuar lutando por ele. […] Considero a literatura
como um processo de reumanização, de ressocialização, na linha de Antonio
Candido. Se nós considerarmos dessa maneira, a prática de leitura literária
pode ser vista como coletiva e não como prática de elite, fechada. Não podemos
perder a ideia de que a transformação é possível. Manter vivas as utopias é
manter vivo o ser humano. (Graça Paulino, Presença Pedagógica, nov./dez. 2011,
V7, Nº 102).
Uma homenagem...
Em 30 de agosto de 2019, Letícia
Pires escreveu, em memória a “uma pesquisadora genial, uma cidadã ativa e a uma
mulher forte”. Lembrando suas inspiradoras, valiosas e atemporais palavras, publicou,
no Jornal Pensar a Educação em Pauta[1], um
tributo à Graça Paulino. Com o título “Herança e Esperança de um Brasil
Literário – Uma homenagem à Graça Paulino”, a autora do texto revela que o texto
é fruto de uma parceria do projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil com a
diretoria da Faculdade de Educação da UFMG para valorizar a produção de
conhecimento no Ensino, na Pesquisa ou Extensão. Leia:
Militante por uma educação de
qualidade para todos, defensora da democratização da literatura e inquestionavelmente
uma mulher à frente do seu tempo. A professora e pensadora Graça Paulino, que
nos deixou recentemente, deixará um legado indiscutível para a educação e para
a literatura no país.
Formada em Letras pela UFMG,
mestre em literatura pela mesma instituição e doutora em teoria literária pela
UFRJ, a professora Maria das Graças Rodrigues Paulino se tornou uma referência
em estudos literários no país. Para além dos títulos, Graça desempenhou uma
função importante no desenvolvimento de um papel político da educação,
tornando-se defensora de mudanças estruturais para um Brasil mais literário e
democrático.
À influências de sua trajetória
pessoal, a professora tinha como missão incitar a função social da literatura
e, principalmente, formar leitores literários. Esse termo, calcado pela
própria, diz respeito à conexão entre a democratização e a apropriação da
literatura para si, diz respeito ao letramento como processo e prática. Tão
quanto essa ideia se relaciona a outros termos centrais nas produções de Graça:
a educação e a leitura literária, entendidos como uma ponte entre a literatura
e o ensino. Para Marta Passos, amiga, ex-orientanda de Graça e professora do
CEFET-MG, esses termos podem ser entendidos a partir da percepção de que “a
leitura pode ser ensinada. É possível ensinar habilidades de leitura literária
para que seja possível entender quais estratégias é necessário mobilizar para
compreender um texto. A literatura, para Graça, não deveria ser vista como fim
único utilitário e pedagógico, mas também estético”.
Em harmonia a seus objetivos e na
busca por mudanças nas estruturas sociais e políticas do país, Graça encabeçou
e realizou diversos projetos de ensino, pesquisa e extensão. Em destaque, está
seu envolvimento com o PNBE – Programa Nacional Biblioteca nas Escolas e o
Projeto LIEDE – Literatura para Educadores, cujo principal objetivo era a
produção gráfica de obras de autores clássicos brasileiros – que estão em
domínio público. Essa ação buscava a facilitação do acesso de professores a
esses materiais, desenvolvendo o interesse, fortalecendo a prática de leitura
e, principalmente, promovendo um acesso livre à literatura.
Para além, um dos projetos de
Graça se apoiava na realização dos eventos “Jogo do Livro”: conferências para a
discussão sobre letramento e literatura no Brasil. Neste ano, no XIII encontro,
que acontecerá do dia 1º a 4 de Outubro, na FAE/UFMG, cujo tema é “Acervos
literários: formação, mediação e pesquisa”, ocorrerá uma homenagem à
professora, ressaltando seu legado, definido por Marta como “seus textos, suas
aulas, suas práticas, em seus conceitos e sua luta”.
Militante por uma educação de qualidade para todos, defensora da democratização da literatura e inquestionavelmente uma mulher à frente do seu tempo. A professora e pensadora Graça Paulino, que nos deixou recentemente, deixará um legado indiscutível para a educação e para a literatura no país.
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