Graça e os romances de “capa e espada”.
Cristina Maria Rosa
O que leu Graça Paulino
antes de ingressar na Faculdade de Letras? O que conta desse tempo? Antes de
ingressar, com seu repertório de textos, na Faculdade de Letras, o que
imaginava?
Por ter dado “início bem
cedo à tarefa gratíssima de circular sem medo pelos labirintos das páginas
impressas” e “cercada de livros por todos os lados”, o que revela Graça Paulino
(2004) em “Minha vida no mundo da escrita”?
Na adolescência,
capa e espada!
Michel Zevaco, o primeiro
autor citado como lido por Graça depois da cartilha O livro de Lili, de Anita
Fonseca e As mais belas histórias, de Lúcia Casasanta, foi um sujeito que, se
Graça conhecesse, com certeza, se tornaria amiga. Escritor, romancista,
anarquista, professor, jornalista, editor e diretor de cinema francês, Michel
Zevaco escreveu e publicou muitos romances de “capa e espada”. Graça assim o
cita, em suas memórias:
Minha mãe foi quem se
empenhou no meu sucesso no mundo da escrita de modo mais insistente. [...]
fazia parte do projeto de vida dela. Por ela frequentei a escola, e graças a
ela pude ler em paz Michel Zevaco. Sim, Michel Zevaco, embora fosse autor de
capa e espada, adquiria a seriedade de um autor científico, pois, ao me ver
lendo, sem saber de que se tratava, minha mãe sempre dizia: vamos deixar a
Graça em paz. Está estudando. Precisa estudar: Gosta de estudar (PAULINO, 2004,
p. 45).
E o que escreveu
Michel Zevaco?
"Les Pardaillan"
começou a ser publicado em episódios em jornais em 1900 e, imediatamente, foi
um grande sucesso popular na França. No Brasil, O Fanfarrão, é considerado um de seus melhores livros. Mas há outros,
muitos outros...
Outra memória
Pesquisando leitores de
mesmo autor, encontrei Eduardo Chaves (https://chaves.space/),
que, no início dos anos 50, com a família, migrou do interior – Maringá, PR –
para São Paulo. Decididos a permanecer, em Santo André, o então menino Eduardo encontrou
bancas de jornal com também revistas e livros. Ele descreve o momento:
Para quem só havia morado,
até aquele momento, em cidade de ruas de terra, em casa de madeira, sem água
corrente, sem eletricidade, sem chuveiro, só tomando banho de bacia, e com
privada no fundo do quintal, Santo André da Borda do Campo era um deslumbre.
[...] Tudo era novidade. Uma das novidades principais para mim é que em Santo
André havia livrarias e bancas e jornal [...].,
Eduardo Chaves menciona, em
Eu, meu pai e Les Pardaillan (https://chaves.space/2019/08/25/eu-meu-pai-e-les-pardaillan/comment-page-1/),
a chegada a sua casa dos romances históricos de Zévaco. Leia:
Logo meu pai começou trazer
uns livros para casa da série “Os Pardaillan”, de autoria do escritor francês
do início do século, Michel Zévaco. Eram dez romances históricos ao todo — e me
parece que foram publicados naquela época, aqui no Brasil, um por mês, quase em
série. Meu pai os devorava, minha mãe os lia religiosamente, e, naturalmente,
esse fato me despertou a curiosidade: fiz o mesmo, comecei a lê-los e não parei
mais. Eu tinha de 8 para 9 anos, mas lia com fluência desde os cinco [...]. Fiquei
fascinado [...].
Bônus
No relato de Eduardo Chaves
há um bônus. Em 1988, na “Livraria Francesa, da Barão de Itapetininga”, encontrou
e comprou a Collection Bouquins: a
série completa dos Pardaillan, no original. O bônus? Segundo diz a Introdução
dos livros na Collection Bouquins,
Jean-Paul Sartre era fã incondicional dos Pardaillan.
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