Os dois primeiros anos de Graça na escola...
Cristina Maria Rosa
"Nasci sem biblioteca, e, aos sete
anos, imaginava rapidamente aprender a ler e começar a ter acesso aos livros.
Engano bobo: os livros seriam mais difíceis do que eu pensava. Apenas grandes
cartazes exibiam para nós a história de Lili. Ah, o livro, esse primeiro e
preciosíssimo livro... apenas alguns puderam comprá-lo, e eu não estava entre
estes. Dona Julieta, uma santa professora, apesar de muito brava, chegava com
as fichas de cartolina manuscritas, todos os dias. Eu achava as historinhas da
Lili simplesmente o máximo: Olhem para mim. Eu me chamo Lili. Eu comi muito
doce. Vocês gostam de doce? Eu gosto tanto de doce! Se íamos à biblioteca, o
que acontecia muito raramente, uma velha e casmurra professora lia para nós em
voz alta os preciosos textos, em livros – preciosíssimos livros – que não podíamos
tocar. Distantes, eu os desejava cada vez mais, enlouquecia de vontade de ter
especialmente um deles, que contava coisas extraordinárias: As mais belas
histórias, de Lúcia Casassanta. Era uma antologia de contos infantis do mundo
inteiro, narrados com leveza, rapidez e técnica narrativa quase impecável. A
biblioteca tinha esse livro, Dona Julieta tinha esse livro, dois colegas ricos
tinham esse livro. Mais ninguém. Deviam ser mesmo muito caros os livros em
1955. Assim, virgem de livros, passei os dois primeiros anos da escola. Aqueles
dois colegas ricos, muito ricos, milionários, pois éramos todos muito pobres,
compraram, no segundo ano, um livro de Ciências e outro de Geografia (PAULINO,
2004, p.50).
Bônus: O texto de Graça foi enviado por Micheline. Agradecida!
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