domingo, 20 de setembro de 2020

Uma Graça de menina...

 

Os dois primeiros anos de Graça na escola...

Cristina Maria Rosa


"Nasci sem biblioteca, e, aos sete anos, imaginava rapidamente aprender a ler e começar a ter acesso aos livros. Engano bobo: os livros seriam mais difíceis do que eu pensava. Apenas grandes cartazes exibiam para nós a história de Lili. Ah, o livro, esse primeiro e preciosíssimo livro... apenas alguns puderam comprá-lo, e eu não estava entre estes. Dona Julieta, uma santa professora, apesar de muito brava, chegava com as fichas de cartolina manuscritas, todos os dias. Eu achava as historinhas da Lili simplesmente o máximo: Olhem para mim. Eu me chamo Lili. Eu comi muito doce. Vocês gostam de doce? Eu gosto tanto de doce! Se íamos à biblioteca, o que acontecia muito raramente, uma velha e casmurra professora lia para nós em voz alta os preciosos textos, em livros – preciosíssimos livros – que não podíamos tocar. Distantes, eu os desejava cada vez mais, enlouquecia de vontade de ter especialmente um deles, que contava coisas extraordinárias: As mais belas histórias, de Lúcia Casassanta. Era uma antologia de contos infantis do mundo inteiro, narrados com leveza, rapidez e técnica narrativa quase impecável. A biblioteca tinha esse livro, Dona Julieta tinha esse livro, dois colegas ricos tinham esse livro. Mais ninguém. Deviam ser mesmo muito caros os livros em 1955. Assim, virgem de livros, passei os dois primeiros anos da escola. Aqueles dois colegas ricos, muito ricos, milionários, pois éramos todos muito pobres, compraram, no segundo ano, um livro de Ciências e outro de Geografia (PAULINO, 2004, p.50).


Bônus: O texto de Graça foi enviado por Micheline. Agradecida!

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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