sábado, 13 de agosto de 2016

Longevas Pelotenses

Em uma casa de tecidos, João também trabalhou.
Por três anos.
1956. 1957. 1958.
Ali conheceu as gurias pelotenses.
Aos moldes das moças de Quintana, eram três.
Pelotenses, as de João.
De Encruzilhada, as do Quintana.
Mas três, as moças dos dois.
As de Quintana sonhavam enganar a morte.
As de João, conseguiram.
Presentes na memória de João, invadiram a minha.
Vida.
E passaram a existir desde então.
Como encontrá-las se não as conheço?
Como tomar um chá com bolo na confeitaria, se nunca as vi?
Como saber delas, de seus ais, seus encantos, seus namoros, seus passos em Paris?
Só isso eu sabia: estiveram na França, nos idos dos 50. Estudaram por lá. E voltaram, as três, para conhecer João.
Conheceram.
Observaram.
Leram seus desenhos.
Uma árvore.
Com raízes. Disse ele.
E desenhou no ar, para mim, a árvore de sua memória no papel para as três moças.
As três longevas pelotenses.
Com detalhes, completou.
E eu imaginei a árvore.
E as mãos de João, hoje talhadas em pedra bruta, elas mesmas ferramentas em tantos anos, voltaram a ser mãos de então. Os olhos, brilhando ao rememorar árvore frondosa, Perspicilium, para que eu visse o passado.
Estou em busca delas, as três moças, desde então.
Planejo cada passinho.
Já reservei uma mesa.
Não abro mão de um café.
E já escolhi minha roupa.
Quero escutá-las.
E dar a notícia ao João.
Quero saber seus nomes.
E quero apresentá-los:
- João, estas são as três moças que te conhecem desde as raízes, quero entoar.
Não perco esse café por nada!

Literatura: necessidade universal imperiosa

Inspirada na leitura que recentemente fiz, elaborado por Luis Camargo, voltei a um belíssimo escrito de Antonio Candido[1]. Filiando-me a seus ensinamentos, afirmo que a literatura contribui para a humanização e enriquecimento do indivíduo e da sociedade. Cito suas palavras para dizer que acredito que “as produções literárias, de todos os tipos e todos os níveis, satisfazem necessidades básicas do ser humano, sobretudo através dessa incorporação, que enriquece a nossa percepção e a nossa visão do mundo”
E por que a literatura é “uma necessidade universal imperiosa” e “fruí-la é um direito das pessoas de qualquer sociedade” como defende Candido?
O argumento central que responde a esta questão está na própria produção literária que, desde muito tempo acompanha a narrativa do que é tornar-se humano em tempos de história e memória de nós mesmos. Para Antonio Cândido, desde “o índio que canta as suas proezas de caça ou evoca dançando a lua cheia até o mais requintado erudito que procura captar com sábias redes os sentidos flutuantes de um poema hermético” o que move esses personagens – sujeitos em busca de representar-se – é a humanização.
Para Antônio Cândido, a humanização é “o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor”. E, afirma: é a literatura que desenvolve em nós “a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”.




[1] CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.)

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Entre a magia e o sonho: a literatura infantil brasileira

Olá
Em breve mais informação sobre o curso de Extensão "Entre a magia e o sonho:  a literatura infantil brasileira"

Quando: de 02 de setembro a 18 de novembro sextas-feiras;
Horas: das 14h às 16h30
Onde? Biblioteca Rio-Grandense
INSCRIÇÕES de 15 a 31 de agosto.
Site para inscrições: bit.ly/literaturainfantil2016

INFORMAÇÕES
Pelo e-mail: furgliteraturainfantil@gmail.com
ou pelo telefone 3235-7803
Certificação de 40 h/a aos participantes com frequência regular. 



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

AULA INAUGURAL PÚBLICA: LITERATURA INFANTIL I


No próximo sábado dia 13/08, acontecerá a aula inaugural pública da Disciplina Literatura Infantil I. Inserida no Currículo da Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPel, a disciplina tem como foco apresentar a literatura clássica e moderna que foi escrita para crianças aos futuros professores.

Para a aula foi selecionada a obra A história mais triste do mundo, do psicanalista gaúcho Mário Corso. Com ilustrações de Bruna Assis Brasil, o livro de 75 páginas é altamente indicado para crianças de todas as idades. Narra parte da vida de Marco, um guri que pequeno ainda, dividiu uma jaula com um leão. De circo, o leão. Mas de verdade.
Autor do mais importante livro sobre os contos de fadas já escrito no Brasil – Fadas no Divã – e do genial Monstruário - Inventário de Entidades Imaginárias e de Mitos Brasileiros, Mário Corso nos ensina a pensar sobre a infância em A história mais triste do mundo, que foi editado, em 2015, pela Bolacha Maria.
A aula é pública, aberta, não apenas para os universitários. Ocorrerá na Livraria Vanguarda do Shopping Partage, no caminho para o Cassino. Será no sábado, 13/08, às 16 horas.
Ao lado, o folder com todas as informações.

Livros que ensinam a pensar Matematicamente

Uma de minhas ex-alunas, professora agora, enviou um e-mail solicitando ajuda para a escolha de livros que "ensinem" matemática aos pequenos. Respondi a ela que estes livros não existem.
No entanto, há alguns que podem ser apoio no estudo de noções matemáticas como quantidade e suas relações, por exemplo. E indiquei alguns. A seguir, a lista dos indicados:

1. Um deles é: Os problemas da família Gorgonzola, da Eva Furnari. Embora ele pareça mais complexo que a capacidade de compreensão de meninos e meninas de sete, oito anos, a escrita de Furnari oferece sugestões inspiradoras para elaborar exercícios de compreensão do que é e para que servem as quantidades.
2. Da mesma autora há Listas Fabulosas. Eu adoro. É um jeito de ensinar quantidades, inspiradas em listas de coisas quaisquer. Pode ser listas de pedacinhos que temos no corpo, por exemplo: Quantas orelhas? Quantos dedos? Quantos fios de cabelo? E se fôssemos adicionar tudo isso, quantos “pedacinhos” teríamos?
3. Outro livro é A casa sonolenta. Nele há a apresentação da noção de muitos, de infindável, de continuidade e de adição e subtração. Com a frase “Era uma vez uma casa sonolenta onde todos viviam dormindo”, é evidenciada a ideia de princípio e, após, a relação de um mais um: “Nessa casa tinha uma cama”, “Nessa cama tinha uma avó”, “Em cima dessa avó tinha um menino”, e assim por diante. Ao final, todos, um depois do outro, acordam.
4. Outro livro, bem simples e didático, é Cabe na Mala, da Ana Maria Machado, que explora a ideia de inserir mais um, aumentando assim as quantidades.
5. Bartolomeu Campos de Queiros escreveu Os cinco sentidos e, embora o tema seja outro, podes utilizar a noção de mais um sentido que temos para o mais um, da adição e o menos um, da subtração. Podes até brincar com a noção de seriação. Ex: O que vem primeiro? E depois?
6. E não dá para esquecer do livro A Zeropéia, do Ziraldo. A noção nele é de subtração ou menos um. Ela vai amarrando as patinhas (tinha cem no início) e vai ficando sem movimento.
Espero ter ajudado.
Vou continuar pesquisando...

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Sapato Furado, de Mario Quintana


Convidada a selecionar mais um texto magnífico para os ouvintes do programa Tons e Letras, coordenado pelo jornalista, poeta e escritor Luis Dill, escolhi SAPATO FURADO, de Mário Quintana.
Publicado pela primeira vem em 1994, ano da morte do escritor que viveu 88 anos, ele permanece íntegro entre os apreciadores de Quintana. Editado pela Global Editora, reúne 29 textos indicados em um organizado sumário ao final. Longevidade, humor, precisão, delicadeza, originalidade são suas características mais fortes.
Com incríveis ilustrações de André Mello, o livro nos presenteia com poemas, mas não só. Nele, algumas narrativas poéticas, um gênero híbrido na literatura para crianças que, parece, foi inventado por Mário Quintana.
Dentre tantos, um que leio há bastante tempo, por singelo e ousado:  As três moças de Encruzilhada. Conhece?

Era uma vez três moças que moravam na florescente cidade de Encruzilhada.
E, como eram três moças muito sérias, faltava-lhes o senso de humor e tomavam ao pé da letra o nome de sua cidade natal. E nunca sabiam aonde ir, o que responder...
Para acabar com essa dúvida atroz, depois de infindáveis hesitações, resolveram o seguinte: a primeira sempre diria "sim", a segunda que "não" e a terceira responderia com ar sonhador:
– Talvez"...
Ora, um dia a Morte apareceu à primeira, e a moça disse que sim.
A Morte a levou.
No outro dia a Morte apareceu à segunda e esta disse que não.
- Como ousas contrariar-me? – eu sou a única Potestade do Céu e da Terra a quem ninguém pode dizer "não".
E levou a moça.
Enfim, no terceiro dia, a Morte apresentou-se à última das três – e a moça ficou olhando, olhando a cara da Morte e finalmente suspirou:
- Talvez...
E a Morte retirou-se, danada da vida!


Leia Mário Quintana para seus filhos, sobrinhos, alunos, pois a leitura é uma arte que se transmite, mais do que se ensina.
E leia narrativas poéticas...
Que tal “Sapato Furado”
É um excelente modo de conhecer o nosso maior poeta, Mário Quintana!

Dados:
Sapato Furado, de Mário Quintana.
Leitora: Cristina Maria Rosa, 01 de agosto de 2016.

Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
Twitter: @fm_cultura
Facebook: fmcultura107.7


Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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