terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Cultura escrita: o que é isso?

 

Cultura escrita: o que é isso? Um pouco de saber, sabor e palavras

Cristina Maria Rosa - Universidade Federal de Pelotas


Tu sabes o que é Cultura Escrita?

Eu me aventurei a escrever o que penso, a partir de uma pergunta que recebi recentemente de um amigo Pedagogo.

No entanto, na imagem acima tu já podes imaginar o que significa para mim esta tão interessante palavra: escrita. E pode observar que estou em um local e momento em que vários aspectos dessa palavra/termo/categoria se encontram: livros, música, tempo, escolha, lazer. 

Verdade.

Foi um momento especial. Mas, também, um momento que já vivi e vivo constantemente. 

Onde estou? No escritório de meu filho, usufruindo de parte de seus livros. Mas, isso não é tudo...

Estava em férias e podia estar sem calçados, com os pés sobre um suporte, quase deitada. Um bom lugar para ler um livro...

Cultura escrita

Para compreender o que é cultura escrita é necessário considerar que nós, humanos, nos relacionamos com a natureza, pois somos uma das espécies do planeta. Nesta relação, produzimos cultura, ou seja, intervimos e transformamos, generalizamos e descartamos, valorizamos e usufruímos de vários artefatos. Um deles, determinante, foi a cultura do fogo. Outro? A língua escrita.

Nós, humanos, nos relacionamos também com nossos iguais, os outros seres humanos. Inventamos a maternidade, o cinema, a internet. Inventamos artefatos impressos de todos os tipos nestas e a partir destas interações. Inventamos até "direitos humanos", uma ideia sobre nós mesmos que transformamos em lei. 

Ana Maria de Oliveira Galvão (2014), uma professora mineira respeitada, conceitua “cultura escrita” como “o lugar simbólico e material que o escrito ocupa em/para determinado grupo social, comunidade ou sociedade” e acrescenta que a definição “baseia-se na acepção antropológica de cultura”. Então, cultura escrita é mais que apenas uma, pois é múltipla, já que vivemos em sociedades complexas, nas quais o acesso e o uso de escritos não pode ser descrito com simplicidade.

Eu penso que...

Cultura escrita é tudo o que produzimos de modo a perpetuar nossa estada na vida – a própria e a da espécie. Com palavras. Mas, eventualmente também, com desenhos, cores, imagens. E também os modos como acionamos e usamos esses registros. E como os guardamos e os revemos.

Isso nos leva a imaginar que não há apenas uma cultura e, sim, “culturas do escrito” ou “culturas escritas”, pois “não existe um único lugar para o escrito em uma determinada sociedade ou em/para um determinado grupo social” (Galvão, 2014). E nem mesmo um único lugar a ser ocupado por pessoas que a produzem, uma vez que todos nós, cotidianamente, somos capazes de intervir na feitura de “bens materiais e simbólicos”.

Um bom exemplo é a Literatura..

Uma arte a ser fruída, ela não significa o mesmo para quem escreve, edita, lê, relê, nunca lê.

Nesta arte, prazer e pensamento, ludicidade e reflexão, o doce e útil vínculo que há nos melhores textos nem sempre tem o mesmo valor. Para que tal ocorresse, seria necessário um “letramento literário”, ou seja, um “processo ativo de apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos”, de acordo com Graça Paulino (2014), pois este “configura a existência de um repertório textual, a posse de habilidades de trabalho linguístico-formal, o conhecimento de estratégias de construção de texto e de mundo que permitem a emersão do imaginário no campo simbólico”.

Na história da cultura escrita, manuscritos, impressos, ritos e gostos interferem e dependem de quem os lê.

Eu amo ler, então, fica parecendo bem fácil ensinar a amar a ler...


 

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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