Alfabetização Literária.
Cristina Maria Rosa
É o processo de apresentação da
literatura a todos e demanda deliberação, constância e qualificação, pois a
formação do gosto não pode ser aleatória, eventual e desprovida de critérios.
Desenrolando...
Alfabetização Literária é o processo
de apresentação da literatura – seus atributos e ritos – a todos: bebês,
crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Na alfabetização literária é
indispensável, essencial, primordial a deliberação (desejar, imaginar, planejar
e propor a leitura), constância (ler frequentemente, ao menos uma vez ao dia) e
qualificação (selecionar obras e atuar com habilidade). Isso significa dizer
que a formação do gosto por ler literatura não pode ser aleatório, eventual e
desprovido de critérios. Esses atributos – deliberação, constância e
qualificação – serão, a seguir melhor explicitados.
O que é um processo deliberado?
Apresentar a literatura para as
crianças em casa e na escola demanda saber de seu poder antes, durante e
posteriormente à vida escolar. Desse modo, deve ser premeditado, ou seja,
planejado, concebido, engendrado, criado, idealizado, imaginado, tramado,
tecido antes da presença de usuários e seus modos de conhecer os livros e seus
segredos. Nesse processo cabe selecionar obras, preparar locais de leitura, ler
antes de ler para outrem, aprender a ler pontuando sons e silêncios. Todo texto
tem ritmo, o leitor precisa encontrá-lo e esse atributo integra a apresentação
do ler literatura.
Um processo frequente é aquele que
tem periodicidade, é costumeiro, cotidiano, habitual, presente, recorrente, não
é eventual. Isso significa dizer que desde bem pequenas as crianças podem
conviver com as delícias que os ritos de manipular, folhear, ouvir, ver e até
cheirar e abraçar os livros proporciona. Processo frequente significa ter
constância, continuidade, reiteração, sequência, assiduidade. Processo
frequente é o que permite amiudar-se com os objetos de conhecimento, ou seja,
tornar-se íntimo do livro e da leitura.
E o que é um processo qualificado de
apresentação do livro e da leitura? É o
que se cerca de critérios de escolha de obras, autores, temas e atitudes na
apresentação aos futuros leitores. Ser qualificado significa ser apto,
capacitado, especializado, habilitado, instruído, preparado para escolher o que
ler e dialogar ou mesmo silenciar sobre o lido. É ter a sensibilidade de
apresentar a arte e deixar que essa reverbere no ser que está se apropriando de
suas qualidades.
Habilidade referencial à vida dos
humanos em sociedade, além de integrar os saberes docentes, qualificar o
processo de aquisição da linguagem oral e inserir as crianças pequenas na
cultura escrita, a alfabetização literária é urgente e imprescindível.
Pesquisadores interessados no tema
como Bartolomeu Campos de Queiros (2009), Beatriz Cardoso (2014), Lígia
Cademartori (2014), Ana Maria Machado (2002), Graça Paulino (2014), Regina
Zilberman (2003) e Tzvetan Todorov (2012), são unânimes em atribuir à escola o
poder e o dever de ensinar a amar a literatura. Dialogando com as reflexões e
proposições desses que me antecederam na produção teórica e metodológica,
contribuo pesquisando o que, como e quando ler para crianças. Com pesquisa
iniciada em 2014, acompanho um grupo de bebês em seus processos de aquisição da
leitura e as conclusões a que venho chegando indicam que o conhecimento dos
termos “alfabetização literária”, “literatura infantil” e “mediador” devem
fazer parte da formação do professor que atua na educação infantil e anos
iniciais da escolarização. Penso que as similitudes e diferenças entre os
termos "acervo" e "repertório literário" são preponderantes
para o estabelecimento de critérios para a escolha de obras que devem ser disponibilizadas
aos pequenos na escola.
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