Escolhi “O adiado avô”, de Mia Couto como
leitura recomendada para os ouvintes do programa Tons e Letras qua vai ao ar no sábado, dia 21/05, sábado, na FM Cultura de Porto Alegre.
O conto de Mia, "O adiado avô", está publicado junto a outros 16 contos
que privilegiam histórias da infância no livro “A menina sem palavra: histórias
de Mia Couto”, Editado no Brasil pela Boa Companhia, em 2013.
Mia Couto é um jovem autor que escreve poemas,
crônicas, romances e contos. Eu, gosto mais dos contos. Sua prosa poética, um jeito de escrever que
nos deixa em dúvida se é narrativa ou poema, lembra os escritos de Guimarães
Rosa. Quando leio Mia Couto, sempre rememoro “Fita verde no Cabelo: Nova velha estória”.
E ouso pensar que tanto Guimarães quanto Mia escreveram para que eu os leia.
Mas, vamos ao “adiado avô”, pois urge conhecer
palavras de Mia Couto. Escolhi o primeiro parágrafo, que reproduzo aqui:
“Nossa irmã Glória pariu e foi
motivo de contentamentos familiares. Todos festejaram, excepto o nosso velho,
Zedmundo Constantino Constante, que recusou ir ao hospital ver a criança. No
isolamento de seu quarto hospitalar, Glória chorou babas e aranhas. Todo o dia
seus olhos patrulharam a porta do quarto. A presença de nosso pai seria a
bênção, tão esperada quanto o seu próprio recém-nascido.
– Ele há-de vir, há-de vir.
Não veio. Foi preciso trazerem o
miúdo a nossa casa para que o avô lhe passasse os olhos. Mas foi como um olhar
para nada. Ali no berço não estava ninguém.”
Pergunto a vocês, leitores: Zedmundo
será avô?
No desenrolar do conto, uma
instigante e pungente história em sete páginas, o tema é o pertencimento. E, ao mesmo tempo, refere-se ao desejo
de voltar aos braços dos cuidadores na infância: pais, mães, avós, tios, irmãos
mais velhos. É um modo de observar a saudade
de dar colo e de ganhar colo. Mia Couto revela, nas palavras do adiado avô,
como é difícil adultecer. Leia:
"... no côncavo de suas
intimidades, o velho Zedmundo se explicou. Eu não sou avô, eu sou eu, Zedmundo
Constante. Agora, ele queria gozar o merecido direito: ser velho. A gente morre
ainda com tanta vida! Você não entende, mulher, mas os netos foram inventados
para, mais uma vez, nos roubarem a regalia de sermos nós. E ainda mais se explicou: primeiro, não fomos nós porque éramos filhos. Depois,
adiámos o ser porque fomos pais. Agora, querem-nos substituir pelo sermos avós".
Leia “O adiado avô”.
Leia escritores em língua portuguesa.
Leia este e os demais contos de Mia Couto.
E ouça o programa Tons e Letras. Ele vai ao ar às 11 horas dos sábados,
na FM Cultura de Porto Alegre.
Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
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