Ocorre, entre 08 e 10 de novembro, o evento Jogo do Livro, na FaE/UFMG.
Uma das comunicações orais que vou fazer é Leitura para meninas: um punho e um útero, inserida no Eixo temático 5 - Formação do leitor de literatura.
A seguir, o resumo aprovado:
Leitura para meninas: um punho e um útero
Cristina Maria Rosa – Doutora em Educação - UFPel
RESUMO: No trabalho apresento a
composição de um acervo que integra um projeto de leitura literária para
adolescentes. Trata-se de literatura produzida para “emancipar” meninas. Ao
desenvolver, por um ano, um trabalho de restauro em uma biblioteca escolar na
periferia urbana de Pelotas, pude conhecer um grupo de meninas, observar suas
andanças pelos corredores e pátios da escola, jogos e brincadeiras. Livres dos
limites da sala de aula e dos programas curriculares, exploram e usufruem da
companhia umas das outras e, também, da presença/ausência dos meninos. E revelam
o que pensam, como agem, o que esperam, sonham, almejam. Tendo como referencial teórico os scripts
de gênero ou cultura que legitima, demarca e estabelece modos de
ser para as masculinidades e as feminilidades (FELIPE, GUIZZO & BECK, 2013),
produzi evidências que indicam
que a sexualidade, para muitas meninas, não é desejo, escolha, direito e,
sim, a materialização do desejo do outro – o pai, o irmão, o colega, o grupo, o
namorado. Para ROSA (2017) “a violência contra mulheres e meninas –
representada por maus tratos emocionais ou violência psicológica – também está
presente nas narrativas literárias, especialmente nos contos clássicos”. E,
lendo, questionando e reverberando internamente os dilemas propostos por estes
contos nem sempre maravilhosos, meninas podem educar-se. Observando de um lócus
privilegiado – a escola – e por um tempo considerável – um ano –, decidi, a
partir de então, reunir um acervo literário para pensar sobre estas “questões de
gênero”. Focando a busca por obras que sugerissem protagonismo, o intuito foi criar
um programa de leituras para meninas em que a liberdade para pensar e escolher
fosse o meio e o fim. Assim, reuni, entre os títulos de minha biblioteca, um
grupo de livros que têm em comum, temas ou protagonistas meninas, mocinhas ou
mulheres que extrapolam os clássicos papéis destinados culturalmente ao gênero
feminino. Na construção dessas personagens e tramas, os autores e autoras
apresentam a nós, leitores, perfis, ideias e desfechos inusitados,
inteligentes, bem humorados, afetivamente includentes e com lógicas não
violentas. Entre os resultados, uma
pequena lista, iniciada por Le petit Chaperon Rouge, conto de
fadas de origem europeia publicado pela primeira vez em 1697, pelo francês
Charles Perrault com um claro recado à infância e às meninas: os lobos existem,
eles são perigosos, eles se disfarçam, eles matam. Os demais títulos são: Maria
vai com as outras, de Sylvia Orthof; Teresinha e Gabriela, de Ruth
Rocha; A Zeropéia, de Herbert de Souza; Bisa Bia, Bisa Bel, de
Ana Maria Machado; Pandolfo Bereba, de Eva Furnari; Mania de
Explicação, de Adriana Falcão; Sebastiana
e Severina, de André Neves; Nós, de Eva Furnari; Ceci tem pipi? De Thierry Lenain; Chapeuzinho
Amarelo, de Chico Buarque; Ervilina e o princês, de Sylvia Orthof; Selma,
de Udo Araiza; Espelho, de Suzi Lee; Vermelho Amargo, de
Bartolomeu Campos de Queirós; Uma chapeuzinho vermelho, de Marjolaine
Leray; O cabelo de Lelê, de
Valéria Belém; Orie, de Lúcia
Hiratsuka; O livro dos grandes
opostos filosóficos, de Oscar Brenifier e Jacques Després; Inês, de
Roger Mello e Mariana Massarani e A ervilha que não era torta... mas deixou
uma princesa assim, de Maria Amália Camargo. Por fim, indico um título,
pleno de sentidos: Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica
Freitas. A escolha se deu pelo título, pois todos temos punhos, mas só meninas têm
útero.
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