"Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler", inscrito para ser apresentado no Jogo do Livro que ocorre em Belo Horizonte entre 08 e 10 de novembro de 2017, será uma das comunicações orais no Eixo temático 5
- Formação do leitor de literatura. A seguir, leia, na íntegra, o resumo aprovado.
Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler
Cristina Maria
Rosa – Doutora em Educação
UFPel/RS
Renata Junqueira
de Souza – Doutora em Letras
UNESP/Presidente/recellij@gmail.com
RESUMO: Tendo como objetivo apresentar
resultados de pesquisas que vêm sendo desencadeadas em duas instituições –
UNESP/Presidente Prudente/SP e UFPel/RS – no trabalho revelamos que bebês
indicam ter “repertório
literário” e que este pode ser observado em comportamentos espontâneos e adquiridos.
Como fonte
teórica para o diálogo com as descobertas que realizamos, pesquisadores
para quem as práticas formadoras do leitor são definidas pelo
conteúdo – o que ler – e pelos procedimentos ou “como” ler. No primeiro
aspecto, Cademartori (2014), Machado (2002), Paulino (2014) e Zilberman (2005),
concordam que o texto literário deve ser ponto de partida para a alfabetização
literária. Com relação aos procedimentos, Tzvetan Todorov (2010) nos ensina que
a principal função de um professor é iniciar os seus “nessa parte tão essencial
de nossa existência que é o contato com a grande literatura” e que a escola
deveria “ensinar os alunos a amar a literatura”. Como escolha metodológica, a coleta de informações em interações com
bebês, os livros, suas mães, suas professoras e as pesquisadoras. Entre os
primeiros resultados – embora cedo mencionar repertório quando se trata de bebês –, as atitudes destes
em relação aos livros indicam se já foram apresentados a práticas culturais nas
quais o livro é protagonista. Nas coletas
realizadas tanto
no interior de SP, como no RS observamos gestos, ritos e modos de ter contato com o livro mesmo
quando o bebê indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto.
Esses modos de manipular independem de sua idade cronológica e revelam o quão
familiarizado o bebê está com livros e modos de ler. Em alguns casos, confunde o livro com um
objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca. O primeiro gesto que
observamos foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do
objeto. Logo depois, busca pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte
conhecida de sensações. Após bater, tocar, pegar e
aproximar, o bebê leva o livro à boca, evidenciando que não conhece, não foi
apresentado ao livro como objeto cultural. Pode também ocorrer de o bebê, ao
“pegar de qualquer jeito”, ao tentar olhar e ou folhear, pode folhear de “trás
para frente”, ou pegar várias páginas ao mesmo tempo. São indícios de que ao
bebê ainda não foram disponibilizados os rudimentos do comportamento
leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a alfabetização literária. Entre
os bebês que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura
escrita, as atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam
seu repertório de informações sobre o livro, a leitura e a literatura.
Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber
os ritos no trato com o livro – pudemos observar que o bebê costuma folhear e
ajudar o adulto a folhear. Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é
oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto e, quando
permitem, escolhe o que quer que leiam, abre, observa, fecha, troca, guarda.
Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo
conhecido em alguma página ou capa. Ao apontar o livro ou imagens nele, indica
ao adulto que o livro está danificado, responde a perguntas olhando e/ou
apontando para imagens ou escritos, e balbucia, exclama, põe a mão na cabeça e
“lê” em voz alta, com entonação. São alguns dos indícios de que o bebê conhece ritos
esperados quando o objeto em interação é o livro. Percebemos ainda que alguns
bebês estranham um livro desconhecido e o comparam, descartam, devolvem, se não
querem a interação com aquele livro, por exemplo.
Palavras-chave: literatura na primeiríssima
infância; literatura infantil; repertório; formação do leitor literário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário