terça-feira, 7 de novembro de 2017

Alfabetização Literária de bebês no Jogo do Livro 2017

"Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler", inscrito para ser apresentado no Jogo do Livro que ocorre em Belo Horizonte entre 08 e 10 de novembro de 2017, será uma das comunicações orais no Eixo temático 5 - Formação do leitor de literatura. A seguir, leia, na íntegra, o resumo aprovado.


Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler
Cristina Maria Rosa – Doutora em Educação
UFPel/RS
Renata Junqueira de Souza – Doutora em Letras
UNESP/Presidente/recellij@gmail.com


RESUMO: Tendo como objetivo apresentar resultados de pesquisas que vêm sendo desencadeadas em duas instituições – UNESP/Presidente Prudente/SP e UFPel/RS – no trabalho revelamos que bebês indicam ter “repertório literário” e que este pode ser observado em comportamentos espontâneos e adquiridos. Como fonte teórica para o diálogo com as descobertas que realizamos, pesquisadores para quem as práticas formadoras do leitor são definidas pelo conteúdo – o que ler – e pelos procedimentos ou “como” ler. No primeiro aspecto, Cademartori (2014), Machado (2002), Paulino (2014) e Zilberman (2005), concordam que o texto literário deve ser ponto de partida para a alfabetização literária. Com relação aos procedimentos, Tzvetan Todorov (2010) nos ensina que a principal função de um professor é iniciar os seus “nessa parte tão essencial de nossa existência que é o contato com a grande literatura” e que a escola deveria “ensinar os alunos a amar a literatura”. Como escolha metodológica, a coleta de informações em interações com bebês, os livros, suas mães, suas professoras e as pesquisadoras. Entre os primeiros resultados – embora cedo mencionar repertório quando se trata de bebês –, as atitudes destes em relação aos livros indicam se já foram apresentados a práticas culturais nas quais o livro é protagonista. Nas coletas realizadas tanto no interior de SP, como no RS observamos gestos, ritos e modos de ter contato com o livro mesmo quando o bebê indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto. Esses modos de manipular independem de sua idade cronológica e revelam o quão familiarizado o bebê está com livros e modos de ler. Em alguns casos, confunde o livro com um objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca. O primeiro gesto que observamos foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do objeto. Logo depois, busca pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte conhecida de sensações. Após bater, tocar, pegar e aproximar, o bebê leva o livro à boca, evidenciando que não conhece, não foi apresentado ao livro como objeto cultural. Pode também ocorrer de o bebê, ao “pegar de qualquer jeito”, ao tentar olhar e ou folhear, pode folhear de “trás para frente”, ou pegar várias páginas ao mesmo tempo. São indícios de que ao bebê ainda não foram disponibilizados os rudimentos do comportamento leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a alfabetização literária. Entre os bebês que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura escrita, as atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam seu repertório de informações sobre o livro, a leitura e a literatura. Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pudemos observar que o bebê costuma folhear e ajudar o adulto a folhear. Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto e, quando permitem, escolhe o que quer que leiam, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa. Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado, responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou escritos, e balbucia, exclama, põe a mão na cabeça e “lê” em voz alta, com entonação. São alguns dos indícios de que o bebê conhece ritos esperados quando o objeto em interação é o livro. Percebemos ainda que alguns bebês estranham um livro desconhecido e o comparam, descartam, devolvem, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.

Palavras-chave: literatura na primeiríssima infância; literatura infantil; repertório; formação do leitor literário.


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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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