quarta-feira, 12 de março de 2025

Todos somos diferentes

 


De direitos e liberdades

Cristina Maria Rosa

 

É mulher, preta, nordestina e 60+ o perfil do maior grupo de pessoas com deficiência no Brasil. A última pesquisa realizada pelo IBGE para circunscrever a população com deficiência no país evidenciou, categorizou e indicou informações que circulavam desorganizadas. Hoje, diante dos dados sobre pessoas com deficiência coletados no 3º trimestre de 2022, sabemos quem são as pessoas com deficiência, quais são as suas deficiências, seu grau de escolaridade, onde vivem e como exercem o trabalho, se é que exercem. Um dos dados mais impactantes foi saber que 47,2% das pessoas com deficiência tinham 60 anos ou mais, padrão que se repete em todas as Grandes Regiões do país.

 

A pesquisa...

Há, no Brasil, em torno de 8,9% de pessoas com deficiência. Esse dado foi comunicado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania após pesquisa realizada pelo IBGE em coleta ocorrida em 2022. São, aproximadamente, 19 milhões de pessoas. Alguns, entre esses milhões, são bebês.

No Brasil há, também, desde 2015, uma Lei que objetiva assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais a essas pessoas. A lei deseja, ainda, inclusão social e cidadania.

Tendo por base a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), é resultado do primeiro tratado internacional de direitos humanos a ter sido incorporado pelo ordenamento jurídico brasileiro com o status de emenda constitucional.

 

Deficiência: o que é isso?

Para entender, generalizar e poder atuar diante das deficiências, é preciso, primeiro, saber do que se trata. Para o IBGE, deficiência é quaisquer dificuldades que pessoas enfrentam para realizar atividades cotidianas.

 

No Brasil

Responsável por pesquisas que mapeiam a população brasileira em variados sentidos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2023, divulgou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Ocorrida em 2022, a coleta do módulo “Pessoas com deficiência” foi uma encomenda do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Entre seus resultados, descobriu-se que cerca de 18,9 milhões de brasileiros possui algum tipo de deficiência. Os resultados apresentados dizem respeito a todos os moradores com mais de dois anos de idade[1]. Não é pouco.

 

Critérios...

O modelo adotado pelo IBGE para averiguar quantas e quais são as pessoas com deficiência no Brasil é o funcional. Funcional, em dicionários por mim consultados, é um termo que adjetiva pessoas, equipamentos, métodos. Significa desenvolvido ou executado para ser eficaz, útil ou prático. Também pode se referir a funções orgânicas, matemáticas, químicas ou proposicionais e, no caso da medicina, refere-se a funções vitais, àquelas que indicam o perfeito funcionamento de um órgão ou de todos eles. Quando todos eles funcionam bem, estamos vivos e com saúde!

Funcional, também, é alguém que consegue, sem dor ou dificuldade, executar tarefas simples como subir escadas, enxergar, lembrar-se, ouvir, colocar linha em uma agulha, se fazer compreender. Não só isso, mas com certeza, ao menos isso.

Ser capaz de executar determinadas tarefas de modo a não ter dificuldade – qualidade ou caráter do que é difícil, penoso, árduo, custoso, quase impossível e que gera dor ao ser realizado – foi o critério adotado pela PNAD Contínua 2022 para descrever e quantificar pessoas com deficiência, as que enfrentam dificuldades para realizar atividades cotidianas. A dificuldade mais frequente manifestada foi

 

(...) andar ou subir degraus (3,4%), seguida por enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato (3,1%); para aprender, lembrar-se das coisas ou se concentrar (2,6%); levantar uma garrafa com dois litros de água da cintura até a altura dos olhos (2,3%); para pegar objetos pequenos ou abrir e fechar recipientes (1,4%); para ouvir, mesmo usando aparelhos auditivos (1,2%); para realizar cuidados pessoais (1,2%); de se comunicar, para compreender e ser compreendido (1,1%). Ainda, segundo a pesquisa, 5,5% das pessoas tinham deficiência em apenas uma das suas funções e 3,4% em duas ou mais funções.

 

Acesso à educação

Entre as cerca de 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade do país com algum tipo de deficiência, 19,5% foram registradas pelo IBGE como analfabetas. Matemática simples: se 18,6% da população são pessoas com deficiência, quantas pessoas seriam as 19,5%? Em meu cálculo, um milhão, quarenta e oito mil e trinta e oito pessoas que não sabem ler. Equivale a toda a população de Campinas, em São Paulo, colocada em 14º lugar no rol das mais populosas do país.

 

Uma lei para pessoas

Instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) em 6 de julho de 2015, ela é também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Foi destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5o da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno.

Na lei, considera-se pessoa com deficiência “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” e sua definição será a partir de uma avaliação biopsicossocial, quando necessária. Neste caso, será realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar – com instrumentos criados pelo Poder Executivo – e deverá considerar:

a)    impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

b)    fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

c)    limitação no desempenho de atividades; e

d)    restrição de participação.

 

Por fim...

Estudos e pesquisas que buscam conhecer, descrever e abranger o fenômeno podem, com certeza, ampliar a noção pública de pessoa com deficiência. Uma das justificativas para tal é educar a sociedade como um todo e, por isso, precisam acompanhar a evolução e a adaptação de modelos para o entendimento da deficiência, seguindo as recomendações internacionais. Alguns dos fóruns que organizam a questão a modo global são:

ü Grupo de Washington para Estatísticas sobre as Pessoas com Deficiência,

ü Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde;

ü Convenção de Direitos da Pessoa com Deficiência.

Esses estudos são necessários para termos, no país, um indicador que melhor represente aqueles que de fato vão enfrentar barreiras. Com dados reais, o Brasil e, em especial, as escolas, podem planejar políticas que promovam qualidade de vida, maior participação na sociedade e equalização de oportunidades entre pessoas com deficiência e os demais.

 

Quer saber mais?

Clique em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm e conheça a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).



[1] Dados observados e aqui expressos podem ser consultados em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/pessoa-com-deficiencia/estatisticas.

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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