segunda-feira, 5 de junho de 2017

Repertório e Acervo: indispensáveis


Cristina MAria Rosa

Um dos temas centrais da disciplina optativa Literatura Infantil I é a semelhança e as possíveis diferenças que existem entre os termos “repertório” e “acervo” literário. São duas palavras importantes que agregam valor ao conhecimento prévio que todos devemos ter quando se busca aprofundar saberes no campo da leitura literária na escola.
Mas, o que é repertório? E acervo?
Acervo e repertório, inicialmente apresentam uma semelhança: os dois termos referem-se a “um grupo de”. No entanto, é nas suas diferenças que reside os atributos mais delineadores de cada um dos termos. Enquanto acervo pode significar “grupo selecionado para a um fim” ou, “conjunto alocado em um local fixo ou digital” e ainda “coleção de uma pessoa ou local”, repertório é mais amplo e pode ultrapassar a memória do portador, uma vez que não é preciso "ter" para conhecer.
Aqui neste pequeno texto, no entanto, estou tratando de acervo e repertório literário. E a pergunta a ser respondida é: O que é acervo e repertório literário?
Para iniciar a pensar na resposta a esta questão, é interessante lembrar que cada um de nós tem um grupo de informações literárias. Um conjunto de lembranças sobre momentos com os livros que, não raro, iniciaram na infância e se perpetuaram.
A Fada dos Moranguinhos, meu primeiro livro, a audição de histórias na escola aos cinco anos, um grupo de livro que eu nao podia tocar, a mãe lendo uma carta vinda da itália, o pai trazendo um exemplar de presente, são algumas das minhas memória e integram o meu repertório de informações sobre o livro e a leitura, seu significado e permanência na cultura escrita de minha família.
É esse conjunto único, repleto de emoções e informações que tornam livros, autores, tramas, desfechos, gêneros – um grupo, portanto – os nossos "prediletos" e se cristalizam como o nosso repertório.
Ele, o repertório, é aprimorado com ritos, modos, jeitos de ter e manipular os livros.
Incrementado com dados sobre o valor social desta ou daquela obra.
Acrescido da rede de relações que o conhecimento de uma obra/autor/gênero gera entre a comunidade de leitores.
E se torna pleno quando oportuniza “dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o idealizado” (Bartolomeu Campos de Queirós. Manifesto por um Brasil Literário, 2009).
Repertório
É um grupo de informações literárias único, formado ao longo do tempo em que herdamos, produzimos e utilizamos informações, emoções, memórias, palavras, inventos. Isso é repertório.
Repertório, então, é o grupo de emoções e informações literárias que acumulamos ao longo da vida e que dão sentido ao que chamamos “literatura em minha vida”.
No dicionário
No dicionário, repertório significa “conjunto, índice, aglomerado, coletânea, compilação, coleção, grupo de saberes sobre algo”. Mas também, “conjunto de experiências de vida que cada um de nós possui”. No caso de repertório literário, é o conjunto de experiências literárias que temos e consideramos importantes, imprescindíveis para o letramento.
Assim, desde o primeiro contato com o livro e seu significado até a escolha por gêneros e autores prediletos há um longo processo de alimentação do que se conhece por repertório. Ele é infinito, nem sempre passível de ser descrito, mas reverbera em nossa vida para sempre. Importante antes, durante e posteriormente à escola.
Acervo, por sua vez, abarca o grupo de obras que um sujeito (uma pessoa ou sua família, por exemplo) ou local – livraria, sebo, biblioteca, entre outros – possui. É um grupo nomeado, quase sempre organizado, que integra a biblioteca de alguém ou de um local como escolas e universidades. Pode ser real (material, impresso, físico) ou virtual, quando só está disponível para consulta online.
E pode ainda ser representado por um catálogo de uma editora, um grupo de obras referentes a um tema, as referências utilizadas em um  trabalho científico. O acerco refere-se a um grupo delimitado, finito, que tem regras de uso e acesso, que pode se modificar infinitamente em termos de quantidade e que pode ser acessado por todos, idealmente, ao mesmo tempo.
Um acervo literário pessoal é composto por obras escolhidas, dentro de um recorte temporal, e pode ser completado por herdeiros, ou seja, acrescido de outras obras, infinitamente. Assim, agrega-se ao recebido, modos de uso como ler, conhecer, escolher, guardar, preservar e, muitas vezes, ampliar, doar, selecionar, catralogar...
Ao lidar com um acervo, demando atributos do repertório literário que tenho – os modos de ter e manter, por exemplo – para utilizálo. Nele, uma obra levada para casa – comprada ou roubada de um sebo, biblioteca, livraria ou casa de alguém – assinala o pertencimento ao repertório de histórias que me encantam.

Nenhum comentário:

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

Arquivo do blog