segunda-feira, 5 de junho de 2017

Repertório literário de bebês: como produzir...



Cristina Maria Rosa

Bebês possuem repertório literário?
Se sim, como podemos ampliá-lo?
Se não, como podemos inserir nosso bebês em práticas de leitura literária?
A quem cabe esta tarefa? Pais? Profesoras? Cuidadoras? Avós? Irmãos mais velhos? 
Evidências...
Há evidências observáveis em comportamentos espontâneos de bebês com os livros que integram seu “repertório literário”. Embora pareça cedo mencionar repertório quando se trata de um bebê, as atitudes deste em relação aos livros indicam se já foi apresentado ou não a práticas culturais nas quais o livro é protagonista.
O que observei, em pesquisa que venho desenvolvendo com bebês entre zero etrês anos desde 2015, é que há gestos, ritos, modos de ter contato com o livro mesmo quando o bebê indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto. Esses modos de manipular o objeto independem de sua idade cronológica e revelam o quanto familiarizado o bebê está com livros e modos de ler.
Em muitos casos, o bebê confunde o livro com um objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca, por exemplo. E inicia sua exploração com os saberes que têm. O primeiro gesto que observei foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do objeto.
Logo depois, o bebê está em busca de um modo de pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte conhecida de sensações. Após bater, tocar, pegar a aproximar, o bebê leva o livro à boca, evidenciando que não conhece, não foi apresentado ao livro como objeto cultural.
Pode também ocorrer de o bebê, ao “pegar de qualquer jeito”, amassar, sacudir, virar, rasgar, jogar fora, afastar, descartar, abandonar, guardar na embalagem. Ao tentar olhar e ou folhear, se ainda não sabe ou não consegue, pode acontecer dele folhear de “atrás para frente”, ou pegar várias páginas ao mesmo tempo, folheando “a grosso modo”.
São índicios de que ao bebê, ainda não foram disponibilizados os rudimentos do comportamento leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a alfabetização literária, que ocorre entre zero e onze anos.
Entre os bebês que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura escrita, as atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam seu repertório de informações sobre o livro, a leitura e a literatura.
Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pude observar que o bebê costuma folhear e ajudar o adulto a folhear.
Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto. Quando permitem, escolhe o que quer que leiam, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa.
Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado (riscado, rasgado, amassado), responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou cenas ou escritos, e balbuciar, exclamar, por a mão na cabeça e “ler” em voz alta, com entonação, são alguns dos indícios de que o bebê sabe claramente quais os ritos esperados quando objeto em interação é o livro.
Percebi que alguns bebês estranham quando o livro é desconhecido, mas podem comparar, descartar, fechar ou devolver ao dono, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.
Procedimentos para produzir um repertório literário para bebês.
A “apresentação” do livro e de “ritos do ler” dá início à formação do leitor literário já na primeiríssima infância, nem sempre oportunizada no ambiente familiar, devendo necessariamente ocorrer na escola. No processo, a escolha criteriosa de livros e a integração dos bebês ao comportamento leitor são preponderantes.
Para que tenhamos disponível um repertório a oferecer, é importante se cercar de narativas familares que prepararam a chegada deste bebvê ao mundo. Assim, as primeiras história e serem narradas, oralmente, ao bebê, são as que integram a sua vida. Logo depois, deve-se agregar a essas, as dos demais sujeitos que habitam o seu mundo: irmãos, avós, tiso e tias, pai e mão, biológicos ou não.
Os livros - de todos os gêneros - podem ser apresentados desde sempre e logo que o bebê fique ereto em seu colo, coloque a sua fente, um livo aberto. Contenha o bebê com teu braço esquerdo e leia para ele, deleitando-se também com o que vê, conhece e sente.
Pronto.
É assim que se inicia.
Depois disso, amplie e diversifique seu acervo.
Não esqueça dos ritos, tão importantes qando os conteúdos literários neste momento: olhar, escolher, folhear, ler, observar, discriminar, evidenciar, relacionar, cuidar, fechar, guardar. Todas essas pr´ticas integrama formação do leitor desde a primeiríssima infância e logo, logo, o pequenois terá seus prediletos. 

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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