O livro que recomendei hoje, 07 de dezembro aos ouvintes do Programa Tons & Letras como imprescindível neste final de ano é O lagarto, de José Saramago. Conto breve incluído no livro A
Bagagem do Viajante, foi publicado
originalmente em 1973 e é uma “história de fadas” repleta de ironia e
poesia. Ouça como inicia:
“De hoje não passa.
Ando há muito tempo para contar uma história de fadas, mas isso de fadas foi
chão que deu uva, já ninguém acredita, e por mais que venha a jurar e
tresjurar, o mais certo é rirem-se de mim. Afinal de contas, será minha simples
palavra contra a troça de um milhão de habitantes. Pois vá o barco à água, que
o remo logo se arranjará”.
No Brasil, o conto
foi publicado pela Companhia das Letrinhas
e chega às mãos dos leitores em uma encadernação vigorosa: é colorido,
ilustrado com xilogravuras de página inteira, possui capa dura e foi impresso em
papel produzido a partir de fontes responsáveis. Para ampliar seus atributos,
há minibiografias do autor e do ilustrador nas páginas finais. Mas é no site https://acasajosesaramago.com/ que li a seguinte informação: “Cabe esclarecer que saramago é uma planta
herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência,
serviam como alimento na cozinha dos pobres”. São palavras do escritor em sua
autobiografia referindo-se a seu nome e a sua origem.
Saramago alimento.
Concordo!
Mais um pedacinho, que o melhor do
livro é sua escrita:
“A história é de fadas. Não que elas
apareçam (nem eu o afirmei), mas que história há de ser a deste lagarto que
surgiu no Chiado? Sim, apareceu um lagarto no chiado. Grande e verde, um sardão
imponente, com uns olhos que pareciam de cristal negro, o corpo flexuoso
coberto de escamas, rabo longo e ágil, as patas rápidas. Ficou parado no meio
da rua, com a boca entreaberta, disparando a língua bífida, enquanto a pele
branca e fina do pescoço latejava compassadamente”.
Uma peculiaridade – as xilogravuras
feitas especialmente para o livro pelo artista popular brasileiro José
Francisco Borges – reapresentam para os leitores uma técnica de origem chinesa,
produzida a partir de entalhe em madeira. A imagem resultante é o contrário
do que foi talhado, exigindo do artesão o conhecimento de cores, sombra
e luz, frente e verso, entre outras habilidades. Quando mergulhada em tinta, imprime os
relevos deixados propositalmente e a xilogravura pode ser considerada tataravó
das impressoras atuais, até mesmo as 3D.
Aparentemente um conto para crianças
(pela encadernação e colorido, tamanho e formato do livro e até mesmo pela
proposta de Saramago em nomeá-la conto de fadas), O Lagarto foi lançado em 2016
pela Fundação José Saramago. O autor, falecido em 2010, é o mais reconhecido
escritor em língua portuguesa e suas publicações são, a cada dia, redescobertas
por novos leitores.
Apresente Saramago para os seus!
Eles vão ficar encantados com este
conto de fadas, embora, como escreve Saramago, “isto de contos de fadas já não
é nada o que era”! Quer conhecer o desfecho da
narrativa sobre o lagarto que apareceu no Chiado? Leia O lagarto, de José Saramago.
Cultive os autores em língua portuguesa e não deixe de
presentear livros no Natal.
O lagarto, de José Saramago.
Cristina Maria Rosa, 07 de dezembro
de 2016.
Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
Twitter: @fm_cultura
Facebook: fmcultura107.7
Contato: programacao@fmcultura.com.br
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