Convidada a recomendar um livro para os ouvintes do programa Tons e Letras, produzido e apresentado
pelo Luis Dill[1]
na Rádio FM Cultura de Porto Alegre[2], escolhi
Felpo Filva, de Eva Furnari. Em seu programa, Dill oferece ao público, informações do
universo literário. Assim, autores, editores, tradutores, ilustradores,
leitores, além de entrevistas aprofundadas são sua “matéria” semanal.
E por que Felpo Filva, de Eva Furnari é bom?
Ele não é bom, é maravilhoso!
Escrito em 2006 e integrando a série Do
avesso, uma de suas características é permitir sucessivas leituras, sem
perder o poder de encantamento.
Na narrativa dessa paulistana maluca – a Eva Furnari - Felpo é um coelho
poeta que, recluso em sua toca, ignora as cartas que seus leitores insistem em
enviar. Um dia, resolve escrever sua Biografia.
Assim, diante de sua máquina de escrever, rememora a infância:
“Capítulo I – A infância
Meu nome é Felpo Filva. Sou poeta e escritor. Sou um coelho solitário,
não gosto de sair da toca. Quando eu era pequeno sofri muito porque tinha uma orelha
mais curta que a outra. Os colegas sempre zombavam de mim...” (FURNARI, 2006,
p. 09).
Interrompido pelo carteiro, Felpo percebe, entre a correspondência
trazida por ele, um envelope grande, lilás, amarrado com um laço de fita de
cetim. Ao abri-lo, sua vida nunca mais será a mesma.
Charlô Paspatu, a leitora que lhe envia a carta, assim escreve:
“Rapidópolis, 20 de fevereiro
Prezado Senhor Felpo Filva
Meu nome é Charlô e admiro demais o seu talento e os seus poemas, mas,
se me permite, tem algunzinhos deles que eu não gosto nem um pouco.
Sinceramente, eu discordei da história do poema da Princesa do Avesso!
Cruz-credo, que final pavoroso!” (FURNARI, 2006, p. 12).
Felpo, indignado com a petulância da desconhecida, amassa e joga fora a
carta.
Sim.
A carta vai para o lixo, mas o assunto não.
E, a partir desse início sedutor, a obra, em 56 belas e instigantes
páginas, de maneira intensa e original registra
e inventa a complexidade do
tempo de Felpo, um poeta que se apaixona e reinventa a si mesmo.
No livro, o leitor é convidado a conhecê-lo em seus limites e
possibilidades.
E quem pode ouvir ou ler essa história?
Pequenos desde os cinco, seis anos, se encantam com Felpo e suas
peripécias, especialmente quando descobre, em um dia de muita chuva, que Charlô
está em apuros com um piano!
Felpo Filva é imperdível.
É uma porta para a literatura de Eva Furnari, uma autora e ilustradora
de primeira.
Seus personagens, muitos, variados, de todos os tipos físicos e
psicológicos, integram uma galeria de curiosos sujeitos, todos prontinhos para
serem desvendados.
Felpo Filva, esse livro incrível, revela idéias e sentimentos que têm a
propriedade de durar na memória do leitor.
A partir de situações aparentemente prosaicas, como escrever uma receita
de bolo, tomar um chá com alguém, sair de casa, conversar e saber o que os
outros pensam de nossas atitudes, o leitor é convidado a pensar e rir. Até de
si mesmo.
Se um “clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha
para dizer", como afirma Ítalo Calvino, Felpo Filva, de Eva Furnari, é um
clássico na Literatura para crianças.
Ouça, o programa vai ao ar aos sábados.
Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
Twitter: @fm_cultura
Facebook: fmcultura107.7
Contato: programacao@fmcultura.com.br
[1] Luís Dill estreou em 1990 com a novela policial juvenil
"A caverna dos diamantes". Possui mais de 40 livros publicados além de participações
em diversas coletâneas. Seu livro "Destino sombrio" (Companhia das
Letras) recebeu o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil. O autor tem o site www.luisdill.com.br
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