Um
pesquisador que conheço me enviou o seguinte enigma: “Como construir um
problema de pesquisa? Quando penso sobre isso, constato que o problema não
existe por si mesmo. Não está colocado na realidade social, gritando para ser
“resolvido”. Muitas vezes está silenciado, e morrerá sem ser ouvido. Ele
depende de ser inventado. As vozes que escutei, narrei ou traduzi em minhas
pesquisas empíricas, ao longo da minha graduação, possibilitaram a criação de
meus problemas de pesquisa. Nunca os criei antes de escutá-las” (GÓMEZ, 2015).
Debruçado
sobre e iminência de concluir seu trabalho de conclusão de curso e precisando
urgentemente pensar sobre o que escreve, ele argumenta: “O problema é uma
pergunta. Mas, se ele surge no campo, conforme o andamento da pesquisa, então
surge junto com as “respostas”. Dessa forma, tenho de formulá-lo a posteriori, quando já sei como
resolvê-lo. O problema de pesquisa me parece uma presunção científica, um mito.
Problemas de pesquisa são criados pelo pesquisador, quando já se sabe responde-los,
então não são mais problemas. E, se são criados sem antes saber sua
resposta/solução, então não é um problema e sim, hipótese”
(GÓMEZ, 2015).
Buscando
opinar, escrevi que problemas de pesquisa são, também, curiosidades que temos,
ou seja, nem sempre um “problema” no sentido estrito da palavra. E qual seria o
sentido estrito? De onde vem esta palavra tão comumentemente acionada
por nós diante de um imbroglio -
uma confusão, em italiano?
Segundo
o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra problema tem
origem no latim e é utilizado com o mesmo sentido e adaptação do
grego. Significa, nestas duas línguas, o que se tem diante de si, obstáculo;
proteção, armadura, abrigo; o que é proposto, tarefa, questão, assunto
controverso. E também, lançar, dar o sinal; precipitar, impedir, arrastar;
colocar diante; arremeter, começar uma luta; lançar em rosto, repreender;
propor uma pergunta, questão. O dicionário etimológico define problema a
partir de sua raiz grega, tendo como significado "lançar-se à
frente", algo que precisa ser transposto.
Assim,
um “assunto controverso” que oportuniza um “lançar-se à frente” seria a melhor
conceituação para um problema de pesquisa nas ciências sociais.
Abriga o desejo de dar respostas ainda não dadas, problematizar mais e de outro
modo algo que já foi observado, contradizer e mesmo refutar teses anteriores e,
sem dúvida, observar de ângulo privilegiado. Isso tudo para lançar-se à frente.
Em outras palavras, e assim como o direito garantido às fontes, em busca de voz
própria, o maior problema da formação acadêmica.
Referências:
GÓMEZ,
G.S.R. Apontamentos sobre problema de pesquisa. Projeto de TCC em Ciências
Sociais. Pelotas: UFPel, 2015.
DICIONÁRIO
ETIMOLÓGICO. Disponível online em: http://www.dicionarioetimologico.com.br/problema.
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