Cristina Maria Rosa
Bons contatos com o mundo da
leitura literária necessitam de planejamento, conhecimento, disponibilidade e
reconhecimento de que a escola é um bem público ao qual todas as crianças têm
acesso garantido por lei. Nela, no entanto, nem todas aprendem a gostar de ler,
o que é, de algum modo, uma sonegação de direitos.
Tendo como pano de fundo que a
tarefa primordial da escola é inserir crianças no mundo da leitura e que esta
inserção deve integrar o cotidiano[1],
ter efeito duradouro, a proposição, iniciada em 2013 com um grupo de
professoras no sul do Rio Grande do Sul, foi estabelecer um vínculo
imediato entre autor e mediador; incentivar o mediador a ler em voz alta para
seus alunos; gerar efeito duradouro da literatura com a presença do autor na
escola e; produzir um resultado integrado, representado pela produção de um
e-book com o trabalho integrado de escritor, professor e crianças.
Inspirada nos princípios da pesquisa qualitativa (LÜDKE e
ANDRÉ, 1986) – os procedimentos desenvolvidos foram:
a) contato com os mediadores via correio eletrônico,
convidando-os ao projeto;
b) envio de três narrativas infantis para que o
professor escolhesse, a partir de seus critérios, o mais adequado para suas
crianças;
c) leitura da narrativa escolhida pelo mediador às
crianças e a ilustração da narrativa pelas crianças;
d) visita do autor à escola;
e) edição de texto e inserção das imagens produzindo um
livro em mídia digital;
f) impressão de um banner com o novo
formato para retorno do conto ilustrado à escola.
Tendo como produto livros em mídia digital, contou com o
trabalho de professoras leitoras – as mediadoras – com as ilustrações de
crianças de três a doze anos e com o trabalho do escritor que deu novo
tratamento ao texto e as imagens, mesclando-os. Os resultados indicam que a
proposição atingiu seus propósitos – gerar efeito duradouro da literatura
integrando escritor/professor/crianças – e pode ser generalizada.
Um dos contos enviados foi A fome da água, que aborda,
de maneira metafórica, o afogamento de um menino em sua piscina, em casa.
Salvo, ele aprende que a água invade espaços. Importante ressaltar que a
participação das crianças – ilustradoras das narrativas escolhidas como
representativas do projeto, ocorreu de acordo com o trabalho desenvolvido pelas
professoras. A fome da água, conto que foi ilustrado por
crianças de um segundo ano (entre oito e onze anos) de uma EEEF em um bairro
periférico da cidade de Pelotas, no ano de 2015, está disponível online. Se
quiseres conhecê-lo na íntegra, solicite por e-mail: cris.rosa.ufpel@hotmail.com
[1]
Cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia, o que nos cabe
em partilha, aquilo que nos prende intimamente ou uma história a caminho de nós
mesmos, os professores foram convidados a pensar sobre os acontecimentos do
dia-a-dia, rotineiros, que podem ser significados pelas pessoas a partir de seus
hábitos, nos rituais que celebram no recinto doméstico ou na sala de aula, como
invenções dos professores e dos alunos.
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