O pensamento
precede a expressão? A fala organiza o pensamento? O que é pensamento? E
linguagem? Há diferença entre linguagem verbal e não verbal? Essas e outras
questões estão imbricadas quando se busca saber como interagir com crianças
pequenas, entre os primeiros meses de via e a chegada à escola para a
alfabetização.
Cada vez mais cedo,
educadores têm de saber receber as crianças e desenvolver essa “faculdade
cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar
e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir,
processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2014, 192), a linguagem.
Como “seres muito
particulares”, nós humanos produzimos “sentido por meio de símbolos” e
cada um desses sinais, signos, ícones, gestos, é neutro, ingênuo, vazio de
sentido e cabe à nossa capacidade de linguagem “interpretar o sentido
implicado em cada manifestação dos outros membros da nossa espécie” (BAGNO,
2014, 192-193).
Há duas linguagens
quando intentamos representar o que pensamos e conhecemos, o que sentimos e
desejamos partilhar: a linguagem verbal e a linguagem não verbal.
Como
elas se distinguem?
A linguagem verbal é aquela que se
expressa por meio da palavra, da língua falada em nossa casa e cidade, em
nosso Estado e País. Para Marcos Bagno (2014), “toda linguagem é
sempre uma “imitação da língua”, uma tentativa de produção de sentido tão
eficiente quanto a que se realiza linguisticamente”. Essa linguagem é o “sistema
de signos mais completo, complexo, flexível e adaptável de todos” (BAGNO, 2014,
192-193). A linguagem verbal pode ser oral, escrita ou gestual.
Já a linguagem não verbal é a que “se
vale de outros signos, não linguísticos, signos que podem ser dos mais diversos
e diferentes tipos: cores, sons, figuras, bandeiras, fumaça, ícones etc. É essa
riqueza de possibilidades de representação e expressão que nos permite falar
de linguagem musical, linguagem cinematográfica, linguagem teatral,
linguagem corporal, linguagem da dança, da pintura, da escultura, da
arquitetura, da fotografia, incluindo as linguagens secretas, que exigem o
domínio de códigos reservados a poucos iniciados” (BAGNO, 2014, 192-193).
Linguagem
e Pensamento
Os estudos de
Vygotsky (1991) indicam que o pensamento da criança
pequena inicialmente evolui sem a linguagem, constituindo o pensamento pré-lingüístico[1],
assim como os seus primeiros balbucios evidenciam uma forma de comunicação
sem pensamento ou linguagem
pré-intelectual[2].
Nos
primeiros meses de vida, na chamada primeira infância ou fase pré-intelectual[3],
algumas funções sociais da fala se tornam aparentes: a criança tenta atrair a
atenção do adulto por meio de sons diferenciados, em variados tons e intensidades.
Busca – e quase sempre consegue – obter retorno a suas demandas: colo, carinho,
comida ou mesmo dormir, brincar, ouvir.
Observa-se
– a partir dos estudos de Vygotsky, (1991) – que aproximadamente até os dois
anos, as crianças possuem um pensamento
pré-lingüístico e uma linguagem
pré-intelectual, mas a partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando
um novo tipo de organização do pensamento e da linguagem.
É nesse
momento que se evidencia, nas crianças, o pensamento
verbal, mediado por conceitos relacionadas à linguagem e a fala racional, com função simbólica,
generalizante. È nesse momento que as crianças descobrem que cada objeto tem
seu nome.
A fala,
então, começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser
verbalizados. Assim, segundo Vygotsky, o desenvolvimento do pensamento é
determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e
pela experiência sócio-cultural da criança.
Concluindo...
1. O
pensamento da criança pequena inicialmente evolui sem
a linguagem, constituindo o pensamento
pré-lingüístico;
2. Seus primeiros balbucios evidenciam uma forma de comunicação sem
pensamento ou linguagem pré-intelectual;
3. O pensamento precede a expressão, via
palavra;
4. A
fala organiza o pensamento;
5. Pensamento
é uma faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana;
6. Linguagem
é a capacidade de expressar o que pensamos, sentimos, observamos, aprendemos;
Assim,
ao interagir com crianças pequenas, entre os primeiros meses de via e a chegada
à escola para a alfabetização, é importante que o educador nomeie o mundo,
dando sentido às demandas dos pequenos, oferecendo a eles o universo conceitual
disponível.
.
Referências:
VYGOTSKY,
Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
BAGNO,
Marcos. Linguagem. Glossário CEALE. Belo Horizonte/UFMG: Faculdade de Educação,
2014.
[1] Antes de dominar a linguagem, a criança demonstra
capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios
para atingir objetivos. É o que Vygotsky (1991) chamou de fase pré-verbal do
pensamento. Nesta fase, a criança é capaz de pegar um brinquedo que caiu atrás
de um móvel. É um conhecimento prático que independe da linguagem. A inteligência
utilizada para tal é considerada primária e é encontrada também em primatas.
[2] Embora não dominem a linguagem como um
sistema simbólico, os pequenos também utilizam manifestações verbais. O choro e
o riso têm a função de alívio emocional, mas também servem como meio de contato
social e de comunicação. É o que Vygotsky chamou de fase pré-intelectual da
linguagem. Essas fases podem ser associadas ao período sensório-motor descrito
pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), no qual a ação da criança no
mundo é feita por meio de sensações e movimentos, sem a mediação de
representações simbólicas. "É a fase na qual a criança depende de sentidos
como a visão para atuar no mundo e se manifesta exclusivamente por meio de sons
e gestos, ligados à inteligência prática".
[3] A fase
pré-intelectual é composta de pensamento pré-linguístico e linguagem
pré-intelectual.
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