domingo, 2 de novembro de 2008

Artinha da Leitura: Um inédito manuscrito de JSLN

Há uma interessante história a respeito do manuscrito inédito “Artinha da Leitura” do escritor João Simões Lopes Neto. Elaborado na primeira década do século passado, em 25/07/2008 completou 100 anos que “Artinha...” foi rejeitado pelo Conselho de Instrucção Pública do Rio Grande do Sul com o argumento de que Lopes Neto havia empregado uma “orthographia em desacõrdo com o Regulamento” e, portanto, deveria ser reparada por “não obedecer ao criterio de ensino” (Porto Alegre: AHRGS, Acta da 6ª Sessão, 25/07/1908).
O manuscrito foi apresentado ao Conselho de Instrucção Pública para que, depois de julgado, fosse adotado nas escolas públicas. O autor pretendia, com isso, ter escrito um livro “(...) simples, lúcido, saudável, cantante, de alegria e caricioso, que os homens rindo de sua singeleza o estimassem; que fosse amado pelas crianças, que nele, com sua ingênua avidez, fossem bebendo as gotas que se transformassem mais tarde em torrente alterosa de civismo; um livro em que se pudesse condensar o coração meigo, valente e virtuoso da mãe brasileira; a serenidade dos nossos heróis, a independência e a probidade dos nossos estadistas, um livro vibrante em que eu pudesse fazer ressaltar a terra, o povo, a pátria, num relevo tão grande, tão firme, tão iluminado, que impressão da sua leitura fosse eterna” (Educação Cívica, 1904).
A verdade é que poucas pessoas tiveram acesso aos originais e nem mesmo sabem se o que viram, leram e referiram é o manuscrito apresentado por JSLN ao Conselho de Instrucção pública, levando a crer que o documento esteja perdido, escondido ou subestimado. Isso pode ser afirmado uma vez que o projeto de JSLN nunca foi publicado, há diferenciadas referências a ele entre seus estudiosos além de uma controversa informação sobre o processo de aprovação no Conselho de Instrucção Pública.
Nesse século de história o manuscrito foi mencionado como “livro didactico-primário” pelo autor em 1904, “cartilha primária” pelo Conselho de Instrucção Pública em 1908, “livro sobre motivos rio-grandenses intitulado Artinha de Leitura” e “copioso trabalho de investigação histórica e interpretação sociológica” por Reverbel (Correio do Povo, 1945 e Província de São Pedro, 1945), “Eu no Colégio” por Manoelito de Ornellas (prefácio de “Terra Gaúcha” em 1955), “O verdadeiro Terra Gaúcha” (Diniz, 2003) e “livro de leitura” por Aldir Schlee em 2006.
A controversa informação a respeito de sua apreciação se encontra no segundo volume da Revista Província de São Pedro em matéria assinada por Carlos Reverbel, o primeiro e mais importante biógrafo do criador de Blau Nunes. Em “Uma página tarjada” há a menção a uma nota cronológica - publicada em Pelotas à época da morte do escritor – que o qualifica como “pesquisador infatigável” dotado de “fino espírito de observação”. Nela, o autor refere-se a um “trabalho didático” que merecera a aprovação “quanto ao mérito da obra”, dos membros “mais conspícuos do magistério rio-grandense”. Além disso, a nota afirma que o trabalho didático não foi adotado nas escolas públicas, “tão sòmente por ter sido escrito em ortografia fonética”.
Segundo seus biógrafos, após a rejeição do Conselho de Instrucção Pública teria JSLN utilizado de sua verve para escrever uma “Ligeira contradita a uma decisão do Conselho de Instrução Pública” (Diniz, 2003, p. 128). No entanto, em nenhuma das biografias há qualquer informação que indique que o autor tenha recebido seus originais de volta, nem mesmo se os reescreveu, entregou a algum depositário ou os destruiu. As suposições – a respeito de seu conteúdo, de seu paradeiro e da linguagem empregada em ”Artinha da Leitura” – integram os segredos guardados até hoje pelo lendário baú de Lopes Neto.

Um comentário:

leituras disse...

Cris!!!
Que surpresa maravilhosa!!!
Excelente esse espaço para que todos fiquem a par das suas produçoes!!!
Pena eu nao estar no lançamento de Luiza, quero ver as fotos, entrevistas, tudo!!!
Adorei encontrar os contos.
Acho que inaugurei a enquete sobre leitura!!No momento ler pra mim é adquirir conhecimento!!! E haja leitura!!! rsrs.E haja conhecimento!!!
Parabéns e muito sucesso!!!
Bjs!

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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