Graça: uma pessoa da ação e da imaginação literária
Cristina Maria Rosa
Na manhã de 06 de novembro, nos reunimos para conhecer Graça mais profundamente.
Foi o primeiro de um ciclo de
encontros que pretende afirmar e evidenciar a presença de Graça Paulino na pesquisa, no ensino e na extensão,
evento criado para conhecer, aprofundar e comemorar a presença de Graça entre
nós, que a amamos.
Telma Borges, logo no início, nos dirigiu emocionantes
palavras lembrando de Graça e de quem a encontrou na vida...
Nós...
Cada um de nós que teve a
oportunidade de ler, ser aluno, orientando, amigo e até parceiro de produções científicas.
O evento...
Presentes, em torno de 70 pessoas dos grupos GPELL (FaE/UFMG), GELL (FaE/UFPel), LLEME (CEFET/MG), além de convidados (orientandos e admiradores da obra de Graça).
Em seu discurso de abertura, Zélia Versiani, emocionada, agradeceu
a parceria e nos brindou com sua memória de episódios vividos com Graça:
A Graça é uma pessoa que
não veio ao mundo a passeio, embora gostasse muito de viajar. Em Lisboa, em um congresso,
convidou-me a comer ‘sardinha com batata ao muque’ em uma cantina que conhecia.
Inúmeras voltas em círculos, naquelas ruazinhas, mortas de fome e cansaço, por
fim encontramos a cantina. Graça era assim... Não desistia facilmente de seus
projetos. A longevidade do GPELL deve-se a sua perseverança. Deixou-nos de herança
o GPELL! Graça e o GPELL estão entrelaçados de tal modo!
Por fim, Zélia mencionou a
preparação a uma viagem que não houve: à Havana, junto com Aracy. E, em frase
emblemática, que todos entendemos, criou uma imagem de Graça que também perdura
em mim: “Graça, nas suas andanças, se transformava em personagem...”.
Rildo recebe a
palavra...
“Essa, para mim, será uma fala
muito emotiva, que vai envolver muitas emoções...”
Ao rever muitos e-mails trocados com Graça, Rildo notou que, ao fim deles, Graça escrevia: “Abracin”. Mineiramente, acarinhava Rildo e o convidava a voltar ao diálogo.
Anunciando-se privilegiado por integrar o GPELL e o CEALE, Rildo nos convidou a conversar, uma vez que estávamos
entre pares e amigos. Disse: “Não é fácil falar de amigos entre amigos”.
E revelou...
Graça e eu fomos amigos. Fomos
amigos sinceros. Amizade intensa, de cunho pessoal, de trocas, de confidências,
de vida... Graça me recebeu na UFMG. Graça, Aracy e Marildes foram os pilares
que me incluíram no GPELL e CEALE. Graça me apadrinhou na Pós-Graduação. Criou uma
disciplina para eu dar com ela na Pós-graduação. Escrevemos livros juntos a partir de seminários na ABRALIC, em 2000 ou 2001, seminários sobre ensino de literatura...
Rildo e as discussões
acaloradas
Todos que conhecem Graça sabem
que ela adorava uma discussão acalorada, embora, às vezes, um simples balançar
de cabeças indicava sua posição.
Com “apreço grande pelas
ideias de Graça e seu pensamento”, Rildo revelou que “concordávamos e
discordávamos de muitas coisas...”. E indicou como selecionou o que se tornou o
foco de sua fala no evento: “Eu poderia falar de muitas coisas: leitura de
filmes, textos, livros, projetos que não concretizamos, mas, vou me deter em um
texto que escrevemos juntos e que foi publicano no livro de Regina Zilberman”.
Nele, pela primeira vez, o conceito de letramento
literário.
Um “fato anterior”...
Ocorrido antes desse
momento de escrita e publicação, Rildo narrou o processo de decisão do título
de seu livro – Letramento literário: teoria e prática, cujo título inicial era “Construindo
uma comunidade de leitores...”.
Como a Editora que o
publicou sugeriu a troca de título, Rildo consultou Graça, que cunhou o “verbete”.
E lembrou que, ele e Graça, discordavam do termo letramento literário e dos
sentidos do termo. Indicou, como hipótese para essas discordâncias, suas formações
acadêmicas e a diferença geracional: Graça advinha da Teoria da Literatura, da Sociologia
da Literatura e suas referências eram em Francês; Rildo, da Literatura Comparada
e da escola inglesa. Atribuiu a essas influências o uso diversificado do termo,
mesmo no GPELL.
Juntos, Graça e Rildo
decidem que chegar a um acordo que definisse ou servisse de base “às meninas do
GPELL”, nas palavras de Graça, segundo Rildo. A motivação que deu origem ao “acordo”
foi a necessidade que Rildo teve de reconfigurar o título de seu livro. Foi, “a
partir daí”, de acordo com Rildo, que Graça e ele começaram a discutir “oficialmente”
sobre o termo.
Um convite para
Graça
Rildo, em sua fala, lembrou
a todos que Graça havia recebido um convite para publicar algo com Zilberman (UFRGS)
e Rösing (UPF). O foco era escrever sobre o Letramento Literário[1]. Generosamente, Graça estendeu
o convite a Rildo. Ele ressaltou: “Como Graça havia cunhado o termo, cabia a ela,
escrever. Generosa, me convidou. Fizemos um rascunho. E... Começamos a escrever.
A definição, o termo, o conceito e outra parte, o letramento literário na
escola”.
Rildo ressaltou que Graça argumentava
acerca da questão/situação da escola, do letramento na escola, e que essa era a
questão mais importante. Em suas palavras: “A grande preocupação era a escola,
ela era mais educadora do que eu”.
[1] PAULINO, G. Cosson, R. Letramento Literário: para viver a literatura dentro e fora da escola. ZILBERMAN, R.; RÖSING, T. Escola e Leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.
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