Literatura para criança: um conceito a ser aprimorado
Cristina Maria Rosa
Há algum tempo escrevi que a literatura infantil é um gênero
literário produzido por adultos – autores, ilustradores, editoras – disseminado
por medidores para a infância que estes adultos imaginam existir entre as
crianças de seu tempo.
E afirmei que, por ser volúvel, indefinida, em trânsito, a infância
é um conceito de difíceis contornos.
Pensava e mantenho a certeza de que por ter natureza
interdisciplinar, o trato às questões das crianças e da infância não
necessariamente precisam ser todas inseridas na obras que para elas preparamos,
lemos, disponibilizamos.
Esse argumento é oriundo da observação de que são, na maioria dos
casos, os adultos que escrevem, leem, escolhem e definem certos textos como
“próprios à leitura pela criança”. Por isso mesmo, a literatura infantil é
fruto de épocas que, mais ou menos assertivas, vão deixando um rastro de pistas
para compreendermos como tratamos nossos pequenos, como os inserimos em nossas
questões, todas elas tão importantes na vida adulta.
Assim, o que pensamos e como tratamos a morte, por exemplo, pode vir a deixar
marcas na literatura que produzimos para as crianças.
Do mesmo modo, o que pensamos e como tratamos o abandono, evidencia
o surgimento de livros em que este fenômeno de nossa espécie, apesar de parecer absurdo, ocorre.
É assim, também, com o que pensamos e como tratamos a indiferença, um
sentimento de "irrelevância do outro". A indiferença é o contrário do que convencionamos chamar de importante, relevante,
constituidor do humano em nós. A literatura para crianças vai ter títulos em
que esse tema aparece, indicando que sim, queremos uma infância que pense e se
importe. Consigo e com "o outro".
Por fim, pergunto: As escrita que produzimos para nossos pequenos
pode ser "apartada" das questões filosóficas? Pode ignorar as
questões que nos tomam o sono, quase todos os dias?
Penso que estas e outras questões a serem "destrinchadas"
indicam que a literatura para crianças é
assunto sério.
Mas, não podemos esquecer...
É, primeiro, arte.
Doce e útil.
Mas arte, sempre!
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