terça-feira, 24 de abril de 2012

Um abecedário com minha turma!

Como organizar um abecedário? Um abecedário pode ser construído na sala de aula, desde que a professora tenha como pressuposto o vínculo com a cultura escrita, ou seja, que acredite que tudo que diz respeito à escrita pode ser conhecido. As crianças, quando nascem, quase sempre estão inseridas em uma família. Esta tem endereço, vive em um bairro de uma cidade ou mesmo em uma localidade na zona rural. Esta cidade ou localidade se situa em um Estado e, este, em País. Esse país, no caso o Brasil, tem uma constituição e, através dela é que são estabelecidas formas de vínculo com o mundo em sociedade, inclusive os vínculos com a palavra escrita. Desse modo, nenhuma família é desprovida de laços com esse mundo. Nenhuma família via apartada dos vínculos com a escrita, pois, desde a mais tenra idade, temos documentos de pertencimento a esse mundo, firmados através da palavra escrita. Exemplo: as crianças têm um nome, devem ser registrados, em alguns casos são batizados, são matriculados na escola, entram em contato com narrativas desde cedo em suas famílias, em contato com materiais escritos em diferentes fontes (livros, jornais, contratos, certidões, encartes, rótulos, placas, receituários, embalagens, bilhetes, correspondências...) e, mesmo que ainda não saibam ler, não ignoram o valor da escrita. Especialmente pela prática dos adultos ou mesmo outras crianças que as cercam. Desse modo, através de relações com a escrita que são comuns – como a matrícula na escola, por exemplo – e mesmo outras que são específicas de um grupo, podemos conhecer cada uma das crianças que estão na minha sala de aula. Podemos conhecer seus nomes e história. É desse material que surgirá o abecedário. Ordem alfabética: o arbitrário convencionado Um abecedário deve, necessariamente, obedecer à ordem alfabética que, convencionada, inicia no A e termina no Z. Como explicar a ordem alfabética? Uma ordem arbitrária não depende de nenhum julgamento de valor, é apenas uma escolha para organizar. Por isso, ordem. Arbitrária para garantir a convenção, ou seja, todos seguem a mesma ordem e, desse modo, os dicionários são iguais. Na sala de aula, vamos nos inserir nessa ordem, reproduzi-la apenas. Para reconstruir ordem, devemos elaborar e realizar questões. O que eu descubro com isso? Valor sonoro de cada uma das letras e/ou fonemas e/ou sílabas, valor posicional da letra/sílaba/fonema na palavra, quantidade de letras, combinações possíveis, impossíveis, arbitrariedade no caso de nomes próprios, entre outras coisas. As perguntas que se deve fazer, entre outras, são: Como se lê? Qual a primeira letra? E a última? Quantas letras têm o nome? Há iguais? Quais? Quem tem nome igual? Parecidos? Diferentes? Quantas letras/sílabas são iguais? Quantas são diferentes? Quais? Desse modo, recomponho a ordem alfabética afirmando-a e utilizando-a para determinados objetivos. Podemos também, inverter a ordem, afirmando que o valor do sujeito não depende da ordem alfabética, que esta é apenas uma convenção utilizada para que todos se entendam no mundo da escrita. Como descobrir o nome da cada criança? Para um professor é fácil, basta ter a lista dos matriculados. No entanto, se pretendemos ensinar às crianças como se descobre, investiga, captura esse nome na própria família, devemos dar pistas. Como? Perguntando: Sabe onde seu nome pode estar escrito? Conhece a pessoa que o escolheu? Sabe o motivo da escolha? Conhece outra pessoa com o mesmo nome na família ou mesmo na vizinhança? E assim por diante... Então, certidão de nascimento, carteira de vacinação, livro do bebê, carteirinha do dentista, do médico, do plano de saúde, do clube, da biblioteca, ou mesmo a vinda de uma mãe, pai, tia, madrinha ou avó à escola, com o intuito de contar a todos a escolha do nome da criança pode ser a fonte de descoberta da escrita do nome. Os documentos ou mesmo presença de alguém da família podem ser acionados para a escrita de referência, no caso, o crachá que a criança vai passar a portar, até que todos a conheçam e saibam escrever seu nome. Os pais podem ser consultados, podem ser depoentes, mas o material escrito é a fonte mais importante. Por quê? Vincula a criança com a fonte escrita e ensina a procurar outras coisas pela generalização.

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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