domingo, 9 de fevereiro de 2025

Pedagogia: apreço à pluralidade do aprender, ensinar, pesquisar e divulgar

 

Pedagogia

Cristina Maria Rosa


A Pedagogia pode ser compreendida, conceituada, percebida como uma estratégia política? A pedagogia se conforma, se organiza como “práticas e experiências” que visam ensinar algo? Ela poderia ser conceituada como “articuladora” de processos educativos? Por haver múltiplos lugares de aprendizagem ela seria uma das profissões envolvidas em diferenciados processos educativos? Perguntando de outro modo, padrões de consumo moldados pela publicidade empresarial podem ser considerados fruto de políticas educativas? Há uma “pedagogia” para consumo?  Neste caso, artefatos midiáticos[1] poderiam ser produtores de "pedagogias"?

A existência de relações de ensino e aprendizagem em diferentes nichos sociais regulados pela cultura seria o imperativo pedagógico contemporâneo? Por ocorrem em vários lugares da cultura e não apenas na escola, as plurais e diversas mediações que intencionam o ensino e aprendizagem seriam “pedagogias”?

 O novo milênio, recém iniciado e já finalizando seu primeiro quarto, engendra poucas e nem sempre novas questões para todos nós, profissionais da educação cujo produto não pode ser conhecido sem o passar do tempo. A distinção ou pretensa igualdade entre os termos Pedagogia e seu plural – pedagogias – é uma destas “questões”.

Formação pedagógica

Parte da formação continuada em qualquer profissão é ler. Sobre a formação, o exercício e os impactos dela na sociedade. Mas não só...

Pedagoga, há algum tempo tenho me defrontado com o uso – em textos, propostas e comunicações – da expressão Pedagogias.

Ao ler o substantivo Pedagogia pluralizado, aciono a possibilidade de compreender o termo como sinônimo, entre outros, de atividades pedagógicas estratégicas ou ferramentas planejadas com o objetivo de promover o aprendizado. Ou ainda, métodos e processos específicos para um público selecionado e até proposições dirigidas a níveis ou modalidades de ensino. Pedagogia, nestes exemplos, seria um modo, um meio, uma fórmula ou tática, um mecanismo e/ou dispositivo e, até, um artifício ou esquema e até uma técnica que, uma vez aprendida, ao ser acionada produziria os resultados desejados.

Neste espectro conceitual, caberia mencionar as variadas e consolidadas proposições teóricas e metodológicas que ao fim do século XIX e durante todo o XX, deram margem e até mesmo engendraram o uso do vocábulo “pedagogias”: as tendências pedagógicas. Estas, de orientação liberal ou progressista, assumiram para si e como suas, a totalidade da profissão, especialmente em escolas. Ao me convencer de suas verdades, teria havido, durante todo esse tempo, a formação de docentes (pedagogos e pedagogas, em especial), para o exercício de uma educação liberal e, em seu oposto, para uma educação progressista, cada uma delas fracionada por categorias mais ou menos conservadoras ou libertárias. Penso que a concomitância dessas abordagens, poderia, sim, ter dado impulso ao uso do termo pedagogia em sua flexão de número: pedagogias.

Mais recentemente, expressões como pedagogias ativas (incentivado a participar ativamente da construção do conhecimento com foco na autonomia, criatividade e protagonismo, nesta abordagem o educando é centro do processo de aprendizagem), pedagogias renovadas – cujo foco é a adaptação a exigências da sociedade globalizada do conhecimento – e pedagogias culturais – invenção originada na ampliação da noção de lugares de aprendizagem e de processos educativos que extrapolam o âmbito escolar – têm sido mencionadas

Pedagogia

Quase uma sinédoque – recurso estilístico que se serve da figura de linguagem para substituir uma palavra por outra pela proximidade de sentidos entre ambas – em raras publicações sobre esses termos a Pedagogia, como profissão, é conceituada. Aproveitando-se da compreensão generalizada, do senso comum sobre parte dos saberes que circulam sobre essa profissionalidade – a profissão e seu exercício em sociedade – usuários do termo “pedagogias” ignoram ou fazem questão de não mencionar que a Pedagogia é um campo da ciência que estuda o ensino e a aprendizagem. Envolve a compreensão de como as pessoas aprendem, como as diferenciadas gerações dão sentido e significado ao conhecimento, à cultura, às relações éticas e políticas.

Área de estudo focada na educação e no desenvolvimento humano, a Pedagogia intenciona compreender fenômenos educativos em larga escala e também individualmente, uma vez que a aprendizagem de cada um é fundamental para a vida em sociedade. É por sua importância na vida individual e de pequenos grupos assim como na dos demais, que há tantas modalidades de educação no país.

A Pedagogia, também, é capaz de indicar quais os mais eficientes e eficazes modos de uma nação obter, via processos de estudo, pesquisa, organização metodológica e publicização de saberes, as aprendizagens essenciais, as habilidades e as competências que todos têm o direito de ter, mobilizar, usufruir.

Por estar assentada sobre áreas consistentes de pesquisa – psicologia, linguagem, sociologia, história, política e ciências, entre outras – e ser integrada por suas descobertas e consensos, a Pedagogia oportuniza olhar para processos de ensino e de aprendizagem a partir de diferentes perspectivas. Apesar de ter como imperativo profissional responder socialmente pelas aprendizagens essenciais circunscritas por conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que devem ser mobilizados, articulados e integrados pelos “sujeitos educados”, a Pedagogia extrapola o “fazer”.

Por sonhar, desejar, investir em uma sociedade que tenha como princípio a liberdade e tenha como ideal a solidariedade humana, a Pedagogia pode e deve ser pautada pela igualdade de acesso e permanência de todos em processos educativos. Através da defesa de um utópico pluralismo de ideias, a Pedagogia indica ter apreço à tolerância e respeito à diversidade, pluralidade e liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar saberes.  Em busca de um padrão de qualidade de aprendizagem e ensino, mas, também, de acesso a processos educativos e suas variadas consequências, a Pedagogia importa-se com o eu, o nós e o outro.

Ao desejar, desde tenra idade, que todos façamos parte de uma educação ao longo da vida, ou seja, que todos sejamos aprendizes e ensinantes do que temos de melhor em busca do sermos capazes de contribuir com a sociedade de forma significativa, produtiva, ética, priorizando o bem comum, a Pedagogia se insere e se pauta nos ideais e princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, uma conquista de toda  nação. Inspirada em princípios, a Pedagogia como campo de formação de profissionais tem por finalidade o pleno desenvolvimento humano, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.

Pedagogias e seus quetais...

A Pedagogia, por se ocupar com habilidades e competências necessárias para que todos se desenvolvam de forma a que tenham condições e oportunidades de contribuir para a sociedade, tem sido confundida.

Confundida com métodos, processos, artimanhas e estratégias.

Sim, há métodos, na Pedagogia.

E sim, há processos, artimanhas e estratégias no fazer pedagógico.

Sim, não se pode negar que a Pedagogia oferece a professores, gestores e a outros profissionais não tecnicamente habilitados para os processos formais do educar, ferramentas e técnicas que tem como intuito melhorar a qualidade dos procedimentos de aquisição de saberes não apenas formais, escolares, listados em diretrizes, bases e parâmetros. A Pedagogia tem o bom hábito de não escolher destinatários: ela é pública e de qualidade e não se nega a promover o desenvolvimento de habilidades educacionais amplas que possam vir a ser generalizadas.

E, com certeza, o conhecimento produzido pela Pedagogia, apesar de peculiar por todos os seus atributos como campo de saber que extrapola mas não prescinde do fazer, pode vir a ser aplicado para melhorar outros e variados “métodos”.

Intencionalmente criados para os processos que ocorrem na escola – maior e mais consistente local de convivência desde tenra idade no Brasil – os modos de ser e estar pedagógicos se relacionam mais intimamente de que conseguimos supor com o projeto de nação que temos. Individualmente e como país. Esses “modos de ser e estar”, no entanto, são autorizados, cerificados, diplomados.

Instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, as Universidades brasileiras se caracterizam pela produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional.

Assim, é nela, a Universidade, que a Pedagogia é tratada. Comprometida com todas as leis que regem e normatizam a educação escolar no país, seus currículos são reavaliados sistematicamente, seus egressos são experimentados nos diferenciados locais de trabalho e seus efeitos são conhecidos em graus e níveis de escolaridade, domínio de saberes e usufruto da cultura no sentido amplo. Não há nenhuma outra profissão que abranja tantos processos, tantas pessoas, tanta importância, pois não há um só pesquisador ou profissional técnico e tecnológico “de ponta”, em qualquer outra profissão, que não tenha aprendido a ler e escrever.

Finalizando...

Em um texto intitulado Discursos sobrte o profissionalismo docente: paradoxos e alternativas conceptuais, Maria Assunção Flores indica que "mudanças sociais, culturais e políticas têm tido repercussões no trabalho" de professores de uma maneira geral. Entre elas, "maior ceticismo em relação à sua autoridade, uma cultura consumista e transformações nas tecnologias de informação e comunicação". A autora, porém, observa que, apesar disso, "os professores têm respondido de diferentes modos a esses desafios em diversos contextos, com implicações ao nível do profissionalismo docente e das suas identidades profissionais".

Nesta mesma linha e finalizando, penso que, embora muitas vezes seja associada à prática de algum ensino, a Pedagogia é uma forma de pensamento e linguagem, atitude e intervenção, sonho e realidade que, em contraste com as demais já experimentadas e convivendo com a pluralidade de todas elas, se oferece como base para a educação na vida das pessoas em sociedade.

Saber mais...

Para saber mais de Maria Assunção Flores leia Discursos sobrte o profissionalismo docente: paradoxos e alternativas conceptuais. Disponível em:  https//www.scielo.br/j/rbedu/a/nRWmGDz4XZ6zZWSzpV5VWLS/





[1] Produtos ou elementos criados e disseminados por meio de diferenciadas plataformas como jornais, rádio, televisão, revista e internet, artefatos midiáticos são textos, imagens, áudios, vídeos, animações, infográficos ou outros, criados para entretenimento, educação, publicidade, informação e/ou outras finalidades. Podem desempenhar papel importante na forma como consumimos e interagimos com a informação e a cultura.

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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