terça-feira, 10 de agosto de 2021

Estudos sobre leitura e literatura na SIIEPE UFPel

 


PET Educação estará na SIIEPE/UFPel

Cristina Maria Rosa

 

Uma das atividades do grupo PET Educação é compartilhar com a sociedade seus estudos, pesquisas, procedimentos e resultados de projetos.

Focados na formação docente – todos os bolsistas são estudantes da Licenciatura em Pedagogia, – os trabalhos foram preparados entre março e agosto de 2021, sob minha orientação. Assim, representando o que vem sendo desenvolvido individualmente ou em grupo, foram aprovadas as inscrições dos trabalhos listados a seguir. Para conhecer os vídeos que os estudantes prepararam junto com o resumo como condição de inscrição, clique nos endereços eletrônicos grafados após o título do trabalho e o nome de cada um...

 

1.    BIBLIOTERAPIA PARA ESTUDANTES DE PEDAGOGIA, de Débora Monteiro da Silva. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/NtCux3Htieo

 

2.    FEMINISMO E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER SÃO TEMAS PARA CRIANÇAS?, de Jéssica Corrêa Ribeiro. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/ggv52mxAZ4A

 

3.    FORMAÇÃO DE LEITORES EM MODO VIRTUAL: É POSSÍVEL?", de Angelica dos Santos Karsburg. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iz0zMsch3-Y&t=24s

 

4.    HÁ LITERATURA INFANTOJUVENIL PARA UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA?, de Laura Vitória Gomes. Com a sua aprovação, seu nome constará nos anais e nos certificados correspondentes. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KNOUFVZxKPU

 

5.    LEITURAS LITERÁRIAS NA UNAPI: A VOZ DE QUEM USUFRUI, de Luzia Helena Brandt Martins. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=G8I-qzh9TIM

 

6.    LITERATURA INFANTIL E ENSINO REMOTO: UMA VISÃO INTERDISCIPLINAR, de Alisson Castro Batista. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9DA3tJTY5gU

 

7.    MINUTOS LITERÁRIOS: UMA PROPOSTA DE ALFABETIZAÇÃO EM ÁUDIOS, de Cinara Tonello Postringer. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-W8ECRguExc

 

8.    PEDAGOGIA VERDE: EM BUSCA DE UM ACERVO PARA CRIANÇAS, de Paloma Evelise Wiegand. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/n1jzLfRRWJY

 

 

9.    UM BEBÊ LEITOR? ESTUDO DE CASO, de Paola Cassuriaga Sandim. O vídeo de apresentação está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cERAr7eSFGc

 

Lembrete:

Tendo como tema “O papel político, social e científico da Universidade na sociedade atual”, a Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE) ocorrerá de 18 a 22 de outubro de 2021, em formato remoto.

Mulheres pesquisadoras: links dos vídeos

 

Mulheres pesquisadoras: links dos vídeos na SIIEPE/UFPel

Cristina Maria Rosa

 

Angela, Estefânia, Letícia e Pâmela são quatro jovens mulheres que estão, atualmente, cursando Especialização em Educação na Faculdade de Educação da UFPel.

Entre março e agosto, estiveram sob minha orientação para criar, registrar e apresentar seus projetos de TCC – Trabalho de conclusão de curso, o que ocorrerá em 2022. Em outubro de 2021, no entanto, estarão apresentando estes resumos expandidos (quatro páginas com introdução, metodologia, resultados, conclusões e referências) em um Seminário Interno e no ENPÓS – o encontro de Pós-Graduação da SIIEPE/UFPel.

Quer conhecer os vídeos que as estudantes prepararam como condição de inscrição? Clique nos endereços eletrônicos grafados após o título do trabalho e o nome de cada uma.

 

1. VIDAS E OBRAS DE MULHERES INSPIRAM JOVENS A CONTAR AS SUAS HISTÓRIA, de Angela Corrêa Papaiani. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/6Lu5fEWd2Z0

 

2. INSTAGRAM: UM MEIO PARA COMPARTILHAR CONHECIMENTO LITERÁRIO, de Estefânia Alves Konrad. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/jPoDn4aZd

 

3. ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS POMERANAS: APRESENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE PESQUISA, de Letícia Sell Storch Venzke. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/KdEyEpXvBHM

 

4. ALFABETIZAÇÃO LITERÁRIA: O QUE PENSAM, DIZEM E FAZEM  PROFESSORAS DE UMA ESCOLA PÚBLICA? De Pâmela Saraiva dos Santos. O vídeo de apresentação está disponível em: https://youtu.be/8HgeUZ5QQ1w

 

Lembrete:

XXIII Encontro de Pós-Graduação na SIIEPE/UFPel. Tendo como tema “O papel político, social e científico da Universidade na sociedade atual”, a Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE) ocorrerá de 18 a 22 de outubro de 2021, em formato remoto.


Quatro lindas pesquisas: Especialização em Educação

 

Mulheres pesquisadoras

Cristina Maria Rosa

Em 2021, estou orientando quatro jovens mulheres. São estudantes na Especialização em Educação da FaE/UFPel,  um “presente” recebido que só me oferece a certeza, todos os dias, que a educação vale cada minuto dedicado, cada ideia posta à prova, cada investimento em pessoas que educam outras pessoas.

Apresento, aqui, um fragmento dos quatro trabalhos aprovados e que serão, por estas quatro jovens, compartilhados no XXIII Encontro de Pós-Graduação na SIIEPE/UFPel. Tendo como tema “O papel político, social e científico da Universidade na sociedade atual”, a Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE) ocorrerá de 18 a 22 de outubro de 2021, em formato remoto.

ENPÓS

O Encontro de Pós-Graduação é um evento destinado a discentes de pós-graduação de instituições de ensino superior, públicas ou privadas, nacionais e do exterior, ex-alunos de pós-graduação que defenderam os seus trabalhos no prazo máximo de um ano e membros de órgãos de pesquisa, organizações de desenvolvimento regional, institutos tecnológicos e de centros de pesquisa. O ENPOS possibilita que os discentes apresentem as suas pesquisas e discutam com a comunidade acadêmica, buscando contribuições para o trabalho desenvolvido.

O Encontro de Pós-Graduação (ENPOS) tem por objetivos:

ü  Compartilhar conhecimento construído em nível de pós-graduação na Universidade;

ü  Buscar contribuições aos trabalhos desenvolvidos com a troca de informações;

ü  Fomentar a interação e a constituição de redes de saberes e de pesquisa entre discentes, docentes e Programas;

ü  Integrar a comunidade científica e acadêmica;

ü  Promover a interação entre a UFPEL e instituições com interesse nas atividades de pós-graduação desenvolvidas nesta Universidade;

ü  Divulgar para a sociedade o que está sendo construído nos Programas de Pós-Graduação da UFPel;

ü  Aproximar a Universidade da sociedade.

Um dos maiores eventos científicos da UFPel, o Encontro de Pós-Graduação (ENPOS) conta com a participação de todos os Programas de Pós-Graduação da Instituição e com estudantes das Universidades da região, do Brasil e do exterior.

Angela, Estefânia, Letícia e Pâmela: as orientandas de Cristina

Um trabalho científico não nasce ao acaso. Ele move o que temos de mais precioso: nossa sensibilidade e nossa capacidade de valorizar o ensino público. Sob minha guarda intelectual, foram elaborados com cuidado, corrigidos com esmero e finalizados a tempo de se inscreverem a serem aprovados. A seguir, os títulos, autoras e um fragmento de cada um  deles:

 

1. VIDAS E OBRAS DE MULHERES INSPIRAM JOVENS A CONTAR AS SUAS HISTÓRIAS

Pesquisadora: ANGELA CORRÊA PAPAIANI

No trabalho evidencio procedimentos e resultados de um projeto de pesquisa e intervenção que buscou dar a conhecer, a estudantes dos três anos do Ensino Médio de uma escola pública estadual, vidas e obras de mulheres importantes no cenário da literatura e da arte. O tema central está pautado no processo de empoderamento e protagonismo feminino e leva em consideração os espaços de fala de mulheres numa sociedade patriarcal, machista, misógina e racista, que será apresentado em forma de artigo biográfico como requisito final para a conquista do título de Especialista em Educação na FaE/UFPel.

 

2. INSTAGRAM: UM MEIO PARA COMPARTILHAR CONHECIMENTO LITERÁRIO

Pesquisadora: ESTEFÂNIA ALVES KONRAD

Nesta pesquisa exiberemos dois digitais infuencers que utilizam da plataforma Instagram para compartilhamento de conteúdo voltado à literatura. Formar leitores é uma das tarefas mais instigantes e uma das responsabilidades do/da Pedagogo(a) na escola. Em tempos de aulas remotas, como manter esse compromisso?


3. ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS POMERANAS: APRESENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE PESQUISA

Pesquisadora: LETÍCIA SELL STORCH VENZKE

No trabalho apresento a proposta de pesquisa a ser desenvolvida na Especialização em Educação que curso na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas. Busco entender se e como estudantes falantes de pomerano são incentivados a permanecerem com a língua materna ativa ao mesmo tempo em que precisam apropriar-se da leitura e da escrita da língua oficialmente aceita, que é o português. Segundo a Enciclopédia das Línguas no Brasil (publicado no site da Unicamp), “língua oficial é a língua que é tomada como única num Estado” Ou seja, “é a língua que todos habitantes do País precisam saber, (...) precisam usar em todas as (...) suas relações com as instituições do Estado”. É nesse sentido também, que é obrigatório o ensino da língua nas escolas, por exemplo, apesar de existirem outras línguas no Brasil.

 

4. ALFABETIZAÇÃO LITERÁRIA: o que pensam, dizem e fazem professoras de uma escola pública?

Pesquisadora: Pâmela dos Santos

O desafio que emerge no planejamento diário – selecionar criteriosamente livros literários para crianças contemplando os 200 dias letivos/ano – expõe os limites e as possiblidades de professores dos anos iniciais na organização de suas aulas. O que ler? Quais textos e autores priorizar? Como ler? Onde encontrar esses textos? Como elaborar um projeto anual de apresentação dos textos literária aos alunos? Qual a diversidade que deve ter esse acervo? Por onde começar? Foi pensando nestas questões que elaborei a pesquisa “Alfabetização Literária: o que pensam, dizem e fazem professoras de uma escola pública?”, cujo intuito é conhecer se um grupo de professores possui conhecimento sobre o termo e quais suas práticas de letramento literário. Além disso, me interesso por conhecer de que modo apresentam a literatura para os alunos, ou seja, como ocorre, nas salas de aula, o processo de alfabetização literária.

 

Bônus

Em breve, link dos vídeos para que tu possas conhecer melhor todo o trabalho de cada uma  das estudantes. Venha ao ENPÓS na 7ª SIIEPE! A UFpel te aguarda!

Pesquisa das relações literatura/escola: Graça Paulino.

 

Tributo à Graça Paulino

Cristina Maria Rosa

Para homenagear Graça Paulino e mantê-la perto, lembrada, amada, nós que a conhecemos e partilhamos sua mesa e alegrias, de vez em quando alguma tristeza, reunimos memórias. Dela e sobre ela.

Como tu sabes, em julho, no dia dois, Rildo me enviou uma cartinha. Ele escreveu:

 

Cristina,

Entrei de férias e resolvi fazer uma limpa em velhas pastas de arquivo. Eis que encontrei este texto que Graça escreveu e não sei se publicou em algum lugar. Talvez lhe interesse, talvez você já o tenha. De qualquer maneira, segue. Abraço, Prof. Rildo Cosson. Programa de Pós-Graduação em Letras – UFPB.

 

Emocionada por ter sido lembrada como destinatária e pela delicadeza de Rildo, publico aqui mais uma parte do presente recebido.

 

A situação de Belo Horizonte na pesquisa das relações literatura/escola

Belo Horizonte apresenta também, desde o início dos anos 80, trabalhos voltados para a questão da recepção literária em seu modo escolarizado. Em 1986, Antonieta Cunha defende sua dissertação de Mestrado, Literatura infantil: a procura do leitor, orientada por Magda Soares, no Curso de Pós-Graduação em Educação da UFMG, tendo por objeto a literatura infantil em suas determinações de poder simbólico No final desse mesmo ano de 1986, no bojo de uma reforma curricular da rede estadual de ensino, Ivete Walty e eu, como professoras de Teoria da Literatura da UFMG, no documento oficial da Secretaria de Estado, propusemos a consideração explícita da leitura literária, distinguindo-a de outros tipos de leitura (PAULINO, WALTY et al. 1987). Muitos professores da escola básica recusaram, na época, essa distinção, por estarem habituados, em conduções típicas dos livros didáticos da época, a usar o texto literário como informativo, ou como pretexto para exercícios gramaticais.

Em 1988, um dos números da revista Ensaios de Semiótica, da Faculdade de Letras da UFMG, teve mais de cem páginas dedicadas à literatura infanto-juvenil, com artigos de Francisca Nóbrega, Ana Clark Perez, Elisa Proença Galo, Luiz Cláudio de Oliveira, Nelly Novais Coelho, Rafael Anderson Santos, Marcus Vinicius de Freitas, Ivete Walty e Graça Paulino. Organizaríamos Ivete e eu, em 1992, uma antologia de artigos de professores do Departamento de Semiótica e Teoria da Literatura da UFMG, intitulada Teoria da Literatura na Escola. Nesse mesmo ano, um grupo de quatro professores do mesmo Departamento, com nossa participação, dariam início a uma pesquisa denominada Problemas intertextuais/interlocutórios no ensino de literatura, que resultaria numa publicação com o mesmo título em 1994 (Coelho et al).

Enquanto isso, na Faculdade de Educação, Magda Soares continuava a orientar trabalhos de Mestrado na área de Educação e Linguagem que tinham como objeto a literatura infantil e sua escolarização. Além do de Antonieta Antunes Cunha, Literatura infantil: a procura do leitor, que depois se tornaria livro, destacam-se:

1.    A trama da escola: revólver sob bombons – uma análise da função da escola pela ótica do teatro, de Alaíde  Gonzalez;

2.    A leitura na escola de 1.o Grau: gerando o desprazer do texto?, de  Therezinha Saad Bedran;

3.    Nem sapo, nem príncipe: uma leitura das leituras produzidas por camadas sociais diferentes, de Heliana Brina Brandão;

4.    Práticas e possibilidades da leitura na escola, Santuza Amorim da Silva;

5.    Fora da escola e dentro dela: a literatura na vida de seus leitores, de Rosa Maria Drumond  Costa

 

Uma tese...

São seis dissertações sobre o tema, defendidas entre 1986 e 1998. No final do ano de 2000, é defendida na FAE, também sob orientação de Magda, a primeira tese de Doutorado que trabalha a escolarização da leitura literária, produzida por Aracy Alves Evangelista: Escolarização da literatura entre ensinamento e mediação cultural: formação e atuação de quatro professoras.

São, pois, mais de vinte anos no Brasil de pesquisas acadêmicas sobre circulação e recepção de literatura por alunos –crianças e jovens- e professores. Levando-se em conta que, na década de 80, o tempo dos cursos de mestrado com sua  escrita de dissertações era muito maior que o de hoje, torna-se evidente que a temática ocupou parte significativa no desenvolvimento das reflexões sobre linguagem e escola. Poder-se-ia lembrar que a professora Magda Soares orientou, durante esse tempo, 60 trabalhos, entre dissertações e teses. Mesmo assim, a temática da literatura infantil preenche mais de 10% desse total.

Destaca-se, nessas pesquisas, a abordagem sociológica do processo de produção e recepção da literatura. E, ao se voltarem para questões relativas ao letramento literário como fato social, as dissertações citadas se colocam na linha de frente dos estudos literários, pois exatamente a Sociologia da Literatura é que daria, de certa forma, origem à denominada Estética da Recepção. Regina Zilberman, em seu livro Estética da Recepção e História da Literatura (1996), faz uma breve história da Sociologia da Leitura, desde 1923, com a obra de Schucking, que contesta a crença na arte autônoma, definindo-a pelos grupos sociais de leitores, assim se antecipando aos trabalhos de Hoggart, na Inglaterra, e aos de Escarpit, na França, pioneiros ainda de uma vertente de pesquisas que depois se fortaleceria com Bourdieu, Chartier, Leenhardt, Darnton. A história da leitura literária é analisada em suas relações com a vida social sem deixar de considerar os sujeitos diretamente envolvidos nas experiências, inclusive os leitores pequenos, marginais, anônimos, religiosos, velhos, dentre outros. Evita-se desse modo o determinismo da abordagem sociológica clássica, que, ortodoxamente, se mostrara cega para com as múltiplas possibilidades de interferência dos sujeitos leitores nas estruturações hegemônicas de mundo e de linguagem.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Lendo e escrevendo: a Graça que queríamos ter perto...


Conhecer Graça Paulino: um privilégio

Cristina Maria Rosa


Graça Paulino, há dois anos, fechou os olhos e não mais abriu. Foi um choque para todos que a amávamos e a queríamos perto. Séria, rindo, irônica, brava, concentrada, lendo, brincando com seus cães, apreciando um café da manhã com ovo e iogurte, no almoço, uma galinha caipira com couve e um espumante ou vinho no Bem Bom, de qualquer jeito ou a qualquer hora era a graça que qieríamos ter perto. Foi muito bom viver e sempre é alentador lembrar detalhes, momentos, frases, olhares e o tom de voz que ficou impresso na memória de quem, como eu, teve o privilégio de tê-la.

Graça foi minha orientadora em um momento muito especial. Com ela descobri quem eu sou na coluna vertebral que sustenta a pesquisa científica sobre e leitura literária no País. Por ela me tornei uma pesquisadora mais focada, mais voltada à Pedagoga que sempre fui, mais comprometida com a escola e as crianças que nela circulam.

 

Tributo

Para homenagear Graça, para mantê-la perto, lembrada, amada, nós que a conhecemos reunimos memórias. Dela e sobre ela. Algumas, já publiquei; outras, ainda pretendo. Em julho, no dia dois, Rildo me enviou uma cartinha. Ele escreveu:

 

Cristina,

Entrei de férias e resolvi fazer uma limpa em velhas pastas de arquivo. Eis que encontrei este texto que Graça escreveu e não sei se publicou em algum lugar. Talvez lhe interesse, talvez você já o tenha. De qualquer maneira, segue. Abraço, Prof. Rildo Cosson. Programa de Pós-Graduação em Letras – UFPB.

 

Emocionada por ter sido lembrada como destinatária e pela delicadeza de Rildo, publico aqui o presente recebido.

 

 

Quadro histórico e referenciais teóricos de interações entre Letras e Educação: pesquisas acadêmicas sobre leitura literária na escola (1980-2002).

Graça Paulino

 

1. Literatura para crianças e jovens como objeto de pesquisas no Brasil

A pesquisa voltada para a produção e recepção de livros cujos destinatários virtuais são crianças e jovens, envolvendo, por isso, a mediação escolar, tem crescido de modo sistemático e diversificado desde os anos 80 nas universidades brasileiras. Cresceu, por exemplo, a ponto de reduzir seu interesse pelo objeto fechado, a que se denominaria "literatura infanto-juvenil", para acercar-se dos sujeitos do processo de apropriação – os leitores - como definidores desse objeto cultural de estudos. Isso demonstra que os grupos ligados a tais pesquisas não ignoraram o deslocamento teórico ocorrido na área de Estudos Literários, a partir dos últimos anos da década de 70, que marca um percurso em direção a leitores e leituras.

Na esteira de renovação do ensino de português, o trabalho com a leitura literária na escola básica tomou força no início dos 80, especialmente graças aos trabalhos de Regina Zilberman, Marisa Lajolo e de seus orientandos, quase todos professores da área de Letras. Aliás, um dos grandes méritos das reflexões e pesquisas das duas especialistas foi exatamente a iniciativa de ligar as áreas de Teoria Literária e Educação, geralmente vistas como bem distanciadas em seus objetos de pesquisa e ensino. Em certo momento se percebeu que seria difícil pesquisar a produção literária, sem levar em conta o processo de formação dos leitores literários, que necessariamente passava pela pesquisa das práticas escolares de leitura, com problemas que poderiam ser detectados pelo olhar arguto da academia. Esse olhar, mesmo em sua condição “de fora”, permitiu a humanização do processo, numa atividade de pesquisa que não permanecia "pura", pois se mostrava comprometida com os sujeitos – alunos e professores da educação básica – que demandavam a transformação de práticas escolares autoritárias, inadequadas ao  universo da arte literária.

Neste novo século, nas escolas de Letras, ainda há especialistas em Literatura que ignoram ou menosprezam as pesquisas voltadas para a formação escolar de leitores literários, assim como nas faculdades de Educação há especialistas da área de ensino de linguagem que desprezam as especificidades da produção e da recepção literárias, consideradas como de menor impacto e valor social ou como processo “inexoravelmente” elitizado por estratégias burguesas de legitimação (Bourdieu, 1987).

Todavia, os Parâmetros Curriculares e outros documentos oficiais, ao abrirem espaço para a educação estética, indicam que a percepção de que na Educação essa experiência tem espaço próprio tende a tornar-se forte, especialmente quando se trabalha paralelamente em Letras no processo de inserção dos estudos literários numa área maior de estudos socioculturais, exigindo formação teórica e metodológica diferenciada e dando conta da pluralidade de saberes e fazeres que constitui o cotidiano, escolar ou não. As leituras são reconhecidas, então, na diversidade que as caracteriza, relacionadas a objetivos, estratégias e conhecimentos prévios dos leitores, organizações linguísticas e textuais, contextos de recepção, suportes, enfim, a todo um jogo de forças socioculturais determinantes da aparentemente simples interação do leitor com o texto ou do também aparentemente simples controle desse processo pelos professores.

De qualquer modo, não só na última década do século XX, mas, como de início foi dito, nos seus últimos vinte anos, as pesquisas voltadas para o letramento literário, em sua natureza social, aí se incluindo o mundo da escola, têm-se multiplicado. Os maiores pólos brasileiros de produção científica na área são Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo. Quase nunca usando a denominação de "letramento", termo de existência e circulação recente no Brasil, as pesquisas da área, de qualquer modo, voltaram-se e ainda se voltam, em sua maior parte, para questões referentes aos modos de inserção dos alunos e professores nas práticas de leitura, predominando a atenção para a literatura infantil, nas instâncias de produção e recepção, com suas possíveis mediações escolares.

A denominação "letramento" está sendo aqui assumida como a caracterizou Magda Soares (1996): "inserção nas práticas sociais de leitura e escrita". Segundo a autora, os níveis de letramento podem ser avaliados, podem caracterizar indivíduos ou grupos sociais e podem marcar diferenças socioculturais importantes nas sociedades letradas Por minha vez, passo a denominar "letramento literário" (PAULINO, 1997) à inserção de indivíduos e grupos em práticas de recepção literária, caracterizada esta como interação leitor/texto de cunho predominantemente estético, isto é, envolvendo, ao mesmo tempo, tal como a descreveu Jauss (1979) a percepção sensorial do texto, em sua materialidade significante; sua recriação como fazer poético-intelectual e o investimento do imaginário, como processo catártico.

 No Rio, desejamos destacar duas vertentes de pesquisas sobre letramento literário: uma voltada para a iniciação e formação escolar e não-escolar de leitores em geral, outra, para a iniciação literária de crianças no contexto escolar, estando incluída nas duas a preocupação com a formação de professores. A primeira vertente pode ser bem representada pelo grupo de Eliana Yunes, pesquisadora de literatura infantil desde os anos 70, que depois coordenou o PROLER, enquanto Affonso Romano de S’Antanna dirigiu a Biblioteca Nacional, no inicio do governo Fernando Henrique Cardoso. Destaca-se nessa vertente a tentativa de unir pesquisa e interferência direta em programas governamentais de democratização da leitura.

A segunda vertente de pesquisa sobre literatura infantil no Rio de Janeiro se localiza mais claramente na linha da crítica cultural e nas interfaces de produções de linguagem propostas pela filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin. Uma figura da Educação que se destaca nessa última vertente é Sônia Kramer. É digno de nota que seu trabalho pessoal não se tenha voltado especificamente para a recepção literária, mas para questões ligadas às diversas leituras de professores e alunos. Em um de seus artigos recentes (KRAMER, 2000), ela mesma se ocupa em destacar também a importância do trabalho de Maria Luíza Oswald, denominado Aprender com a literatura, de 1997, que abriria um "filão", antes sem consideração específica no grupo, dentro do campo geral dos letramentos.  Dissertações e teses em curso ou concluídas depois da de Oswald no Rio demonstram que a definição explícita de um objeto literário para pesquisas na área da Educação exige não apenas tratar de "gosto" ou de "obrigação" de leitura na escola, mas também de definições metodológicas específicas do campo de Estudos Literários.

No estado de São Paulo, o Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP trabalha especialmente com letramento literário e seus elos com a instituição escolar a partir das iniciativas de pesquisa da professora de Teoria Literária Marisa Lajolo. Com uma inserção mais antiga no campo, desde seu livro Usos e abusos da literatura na escola (1982), que focalizou o uso não estético da poesia de Bilac nas escolas brasileiras durante a República Velha, Lajolo desenvolveu posteriormente pesquisas em dupla com Regina Zilberman, da PUC do Rio Grande do Sul, não por acaso também da área de Teoria Literária. Lajolo e Zilberman puderam circular pela história cultural, pela pesquisa de arquivos de e/ou sobre literatura e escola, e pela formação das leituras no Brasil. Junto com Márcia Abreu, professora também da UNICAMP, e com os orientandos de ambas, Lajolo vem desenvolvendo um grande projeto denominado Memórias de Leitura, que, embora não se restrinja à história do letramento literário, a ele dedica explicitamente algumas de suas direções.

Na USP, Nelly Novais Coelho publicaria, além de outros livros sobre o tema, em 1983, a primeira edição de seu Dicionário crítico de literatura infantil e juvenil brasileira, reeditado várias vezes e apresentando, na edição ampliada de 1995, uma bibliografia brasileira sobre literatura infantil e juvenil que ultrapassa o número de cinquenta pesquisadores conhecidos, espalhados pelas universidades do País. Destaca-se também, na USP, o trabalho de Edmir Perrotti, cuja tese, defendida em 1989, depois seria publicada e tornada referência constante na área: Confinamento cultural, infância e leitura (PERROTTI, 1989). Esse pesquisador viria denunciar com firmeza a mitificação da leitura, como parte integrante de uma "ideologia das necessidades", que serviu, especialmente durante os anos de ditadura militar, para esconder conflitos e contradições sociais que incomodavam sobremaneira ao grupo dirigente autoritarista.

Em Porto Alegre, fortaleceu-se, desde o início da década de 80, uma equipe de pesquisas voltada para questões ligadas a literatura e ensino, orientada por Regina Zilberman na PUC-RS. Os livros sobre esse objeto de estudo se multiplicaram, graças às participações de Glória Bordini, Vera Teixeira Aguiar, e de outros especialistas em Literatura da Universidade Católica, que se preocuparam em interferir na formação de professores da escola básica, desenvolvendo um diálogo de iniciação às práticas literárias de leitura até então quase inexistente na área de Educação. Não por acaso, o artigo de Regina incluído no dossiê "O Letramento no Brasil" (Educação em Revista n. 31) se intitula "Literatura infantil e aprendizagem da leitura". Com uma contribuição significativa, representada por publicações de reconhecimento nacional nessa área, por participações em programas de democratização de leitura e de melhoria das condições de ensino/aprendizagem no processamento literário de textos na escola, Regina Zilberman constitui, sem dúvida, hoje, um dos exemplos de ação e pesquisa bem sucedidas na confluência literatura/educação.

 

Mais...

Amanhã, publico mais uma parte do texto. Ele é intitulado “A situação de Belo Horizonte na pesquisa das relações literatura/escola”.

Viva Graça Paulino!

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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