Plural, livre, justa: valores inegociáveis!
Cristina Maria Rosa[1]
A universidade pública no Brasil não pode ser vista como um espaço
isolado e alheio às dinâmicas sociais do contexto;
Deve ser compreendida como uma instância capaz de apresentar e reafirmar,
cotidianamente, os princípios de um pacto da sociedade civil com o princípio da
formação de seus cidadãos, através da educação que ali se ensina e aprende;
Deve oportunizar o conhecimento e a afirmação dos direitos sociais para
o aprimoramento da democracia.
Nela, não deve haver espaço para a emergência, a circulação e a
permanência de ideias que açoitem e, em longo prazo, aniquilem os princípios constitucionais
de uma sociedade plural, livre, justa e, sobretudo, solidária.
São valores inegociáveis!
A universidade deve ser uma instituição que tenha como prerrogativa
existencial a democracia e seja permeável às forças que dinamizam seu próprio aperfeiçoamento.
Podemos “condenar”, por “moralmente inaceitáveis” e “politicamente
perversos” quem, sabendo do valor da leitura, a ela não conectam as crianças na
escola?
Penso que sim.
Vamos aos argumentos...
1.
Eu sei ler, posso ensinar? Devo. Como dever profissional e democrático,
a leitura liberta o outro de meu mando, torna o outro, livre para pensar e
escolher. Democracia também é conhecer e exercer o poder de escolha.
2.
Eu gosto de ler, como posso ensinar esse gostar? Apresentando as
qualidades do que é ler, os livros imperdíveis, ou autores maravilhosos, as tramas
fantásticas, misteriosas, intrigantes.
3.
Eu conheço o valor e o poder de uma biblioteca. Como oferecer esta informação às crianças na escola? Não se deve, em hipótese alguma, ignorar o
poder da biblioteca escolar, seja ela do tamanho que for. Lá existe algo imperdível
na escola: as vozes dos outros. Autores, historiadores, geógrafos, filósofos, cientistas... Todos eles se fazem representar pelos livros no acervo que lá existe e as crianças tem o
direito de ouvi-los, conhecê-los e, até, ignorá-los. Mas quem escolhe é a
criança. O professor, a professora, indica o caminho...
4.
Eu tenho o ensino superior: como posso ensinar aos da escola que a Universidade
existe? Mencionando-a, indicando seu endereço, o que ela produz como saberes, o
significado da expressão “Ensino público”. Na Universidade há muito mais do que
profissões e as crianças precisam apreender a sonhar com ela, para, na idade
adequada, adentrarem nela, como pesquisadores.
5.
Eu conheço eventos de letramento (feiras do livro, sebos, bibliotecas...). Como indicar esses modos de ler às crianças? Devo não apenas indicar, mas promover o contato. Ir À feiras, bibliotecas, sebos, livrarias no bairro ou cidade
em que vivemos é um modo de ensinar a
gostar do universo da cultura escrita.
[1] Fala
às professoras da área de Língua Portuguesa e Literatura do Município de
Pelotas, RS. Outubro de 2021. Convite da SMED/Pelotas.