“Ma sopra tutte le invenzioni
stupende, qual eminenza di mente fu quella di colui che s'immaginò di trovar
modo di comunicare i suoi piú reconditi pensieri a qualsivoglia altra persona,
benché distante per lunghissimo intervallo di luogo e di tempo? parlare con
quelli che son nell'Indie, parlare a quelli che non sono ancora nati né saranno
se non di qua a mille e dieci mila anni? e con qual facilità? con i vari
accozzamenti di venti caratteruzzi sopra una carta. Sia questo il sigillo di
tutte le ammirande invenzioni umane...” (Galileo
Galilei, Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo, 1632, p.62).
“Mas sobre todas as invenções estupendas, que a eminência de mente foi
aquela de quem imaginou encontrar modo de comunicar seus próprios pensamentos
mais recônditos a qualquer outra pessoa, mesmo que distante por enorme
intervalo de tempo? Falar com aqueles que estão na Índia, falar com aqueles que
ainda não nascerem e só nascerão dentro de mil ou dez mil anos?
E com que facilidade? Com as várias junções de vinte pequenos caracteres num
pedaço de papel. Seja esse o segredo de todas as invenções humanas..." (Italo
Calvino, Por que ler os clássicos, 2007, p. 93).
O
excerto acima, original e traduzido por Italo Calvino, integra o texto Dialogo, escrito por Galileo Galilei, em
1632. Disponibilizado pelo Projeto Manuzio, no
texto Galileu refere-se ao alfabeto necessário para ler o livro da natureza, escrito,
segundo ele, em linguagem matemática.
A escolha desse trecho, que se
refere às letras do alfabeto e a seu poder – o segredo de todas as invenções humanas, de acordo com Galileo – para
abrir esse texto sobre clássicos e recontos se deve ao necessário vínculo que
mantemos com quem viveu no passado e deixou impresso sua leitura do mundo.
Galileo fez isso. E reconheceu que a invenção do alfabeto era a porta
para o futuro e, claro, para o passado. É pelo conhecimento do código que eu
escrevo. Mas é também por esse conhecimento que leio. Assim que, pela escrita,
o tempo não existe ou existe suficientemente para que eu saiba quem, quando,
onde e por que escreveu algo.
Tudo isso para apresentar Original e Reconto:
uma sequência didática, um texto que surgiu após uma demanda de uma
estudante de Pedagogia. “Professora”, disse ela, “preciso criar uma sequência
didática e pensei na literatura. Podes me ajudar?”. Imbuída do desejo de retribuir
a confiança que a aluna depositou em mim, busquei, inicialmente, responder à
questão: O que é uma sequência
didática? Como se planeja? É possível
fazer uma sequência didática com o tema literatura infantil?
Recorrendo aos Parâmetros Curriculares
Nacionais (MEC, 1997) que antecedem o Plano Nacional de Educação (MEC, 2014-2024),
pode-se compreender a sequência didática como um termo recorrentemente utilizado para evidenciar
que as aprendizagens são contínuas (MEC/PCNs, 1997, p. 36). Assim, caberia à
escola “seqüenciar os
conteúdos segundo critérios que possibilitem a continuidade das aprendizagens”.
Sequência didática então, é um termo utilizado na educação para definir um grupo de procedimentos
encadeados de maneira articulada. As sequências integram Projetos Pedagógicos – de curta ou média
duração – que apresentem um objetivo compartilhado e se expressam em um
produto final (MEC/PCNs, 1997, p. 50). Sequência didática pode ser entendida também como uma proposição
teórico-metodológica organizada em passos
ou etapas conectadas entre si que
objetivam tornar mais eficiente o processo de ensino e o aprendizado. Na formação do leitor, são “situações didáticas propostas com regularidade e
voltadas para a formação de atitude favorável à leitura” (MEC/PCNs, 1997, p.
46).
De acordo com o MEC (PCNs, 1997) o professor tem o papel principal como mediador entre o conhecimento linguístico disponível e o aprendiz
durante o processo de ensino-aprendizagem. Neste processo, deve levar em
consideração também, a competência
discursiva de seus alunos,
representada pela escuta, leitura e produção de textos.
E o que significa mediar, ser um mediador? Mediador é
o professor que, durante o processo de aprendizagem da língua, indica,
evidencia, mostra aos estudantes como a opinião de cada um ali presente deve
ser considerada. No processo de interlocução, a consideração real da palavra do
outro é condição de aprendizagem, pois as opiniões dos demais apresentam
possibilidades de análise e reflexão sobre as próprias. Daí o primeiro passo
do educador: tornar a sala de aula um espaço onde cada sujeito tenha
o direito à palavra reconhecido como legítimo. A
intervenção/mediação do professor ao oportunizar a “convivência no
espaço público da escola”, de acordo com os
PCNs (p. 68), é essencial e dela depende “a aprendizagem dos alunos”.
A sequência
didática quando da leitura de literatura: clássicos e recontos.
Quando se intenciona ensinar literatura,
é necessário, primeiro, considerar os saberes prévios, o repertório dos
estudantes. Esse deve ser o princípio didático para o professor: saber o que os
seus alunos sabem.
Logo depois, estabelecer os objetivos que,
no caso da literatura passam por: desenvolver valores e atitudes leitoras.
Estas podem ser definidas como o interesse por ouvir e manifestar sentimentos,
experiências, idéias e opiniões; fazer-se entender e procurar entender os
outros além de respeitar ideias e modos de falar dos outros.
Quais textos ler?
Dentre os principais recursos que
precisam estar disponíveis na escola para viabilizar a proposta didática da
área da literatura, estão os textos autênticos, originais.
A utilização de textos autênticos,
de acordo com os PCNs (MEC, 1997, p. 61) pressupõe cuidado com a manutenção de
suas características gráficas como a formatação, paginação e os diferentes
elementos utilizados para atribuição de sentido. É importante também, que esses
textos sejam trazidos para a sala de aula nos seus portadores de origem.
A literatura nos
PCNs:
Se observarmos os PCNs
para a Língua Portuguesa, podemos
localizar, entre os temas relevantes a serem tratados, o que diz
respeito à especificidade do texto literário (MEC/PCNs, 1997, p. 29-30).
Para o documento, “A literatura não é cópia do real, nem puro exercício de
linguagem, tampouco mera fantasia que se asilou dos sentidos do mundo e da
história dos homens” (p.29) e é “importante que o trabalho com o texto
literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto
tratar-se de uma forma específica de conhecimento” (MEC/PCNs, 1997, p. 29).
Tomada como uma “maneira
particular de compor o conhecimento”, a literatura na escola potencializa uma “autonomia
relativa ante o real” e implica dizer “que se está diante de um inusitado tipo
de diálogo regido por jogos de aproximações e afastamentos, em que as invenções
de linguagem, a expressão das subjetividades, o trânsito das sensações, os
mecanismos ficcionais podem estar misturados a procedimentos racionalizantes,
referências indiciais, citações do cotidiano do mundo dos homens” (MEC/PCNs,
1997, p. 29-30).
Assim, o ensino da literatura ou
da leitura literária envolve o “exercício de reconhecimento das singularidades
e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita” e,
com essa compreensão, “é possível afastar uma série de equívocos que costumam
estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los
como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de
higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais” (p. 30) entre outras.
Se o foco é a “formação de
leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos,
a extensão e a profundidade das construções literárias” (p. 30), o caminho é o
contato profícuo com o texto, seu autor, seu contexto.
Sugestão de
sequência didática com texto narrativo: o original e o reconto
A proposta
é ler um conto original como, por exemplo, A
princesa e a Ervilha, de Hans Christian Andersen, no primeiro dia e ler, no
segundo, “Ervilina
e o Princês” ou “Deu a louca em Ervilina”, de Sylvia Orthof, autora e ilustradora detentora
de selos de “altamente recomendável para crianças” pela Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil. O objetivo é reconhecer o clássico, seu impacto literário
e suas características narrativas e perceber o mesmo em uma reescrita moderna (século
XX) que toma o clássico como referência.
1. Primeiro dia: Leitura da
Narrativa Original
ü Perguntar às crianças se gostam de ouvir histórias e quais conhecem;
ü Indagar se conhecem a biblioteca da escola, se a frequentam, se conhecem
alguma livraria ou sebo, se há livros em suas casas e quem os lê...
ü Informar que há muitas versões de circulando e que vais ler a
"verdadeira".
ü Apresentar o livro que vais ler e mencionar quando a história foi
escrita, mencionar o autor sua biografia e elencar outras histórias que ele
escreveu e perguntar se as conhecem;
ü Ler, em voz alta e sem alterar o texto, a narrativa escolhida,
convidando-os a ouvirem;
ü Ao fim, perguntar o que sentiram ao ouvirem a história, qual o
personagem que mais gostaram, se há algum entre eles que não gostaram e
quais os motivos desse gostar/não gostar;
ü Solicitar que imaginem e expressem o que fariam no lugar dos
personagens, se os imitariam, contestariam, agiriam diferenciadamente;
ü Convidá-los a pensar sobre narrativas reais similares: elas existem?
DICA: Como
dica pedagógica para a pesquisa de repertório dos estudantes e no início da
sequência que tem objetivo, o mediador deve anotar (gravar/registrar) todo o
diálogo como fonte para a análise comparativa com as demais atividades.
2. Segundo dia: Leitura do reconto em voz alta
ü Informar que a narrativa lida no dia anterior é muito conhecida no mundo
todo e outros escritores resolveram inventar um jeito diferente de contá-la;
ü Perguntar se querem ouvir uma das reinventadas;
ü Informar que a autora da reescrita é uma brasileira;
üLer o título da reescrita e perguntar se há semelhanças com o título original;
ü Anotar os dois títulos no quadro, em letras grandes e ler para eles,
pausadamente e em voz alta;
ü Incentivá-los a comparar os dois títulos e argumentar;
ü Apresentar o livro que vais ler e mencionar o tempo em que a história
foi escrita;
ü Referir-se à autora e sua biografia;
ü Elencar/informar sobre outras histórias que ela escreveu e perguntar se
as conhecem;
ü Ler, em voz alta e sem alterar o texto, a narrativa escolhida,
convidando-os a ouvirem;
ü Perguntar o que sentiram ao ouvirem a história, qual o
personagem que mais gostaram, se há algum entre todos que não apreciaram e sugerir
que argumentem;
ü Sugerir que comparem as duas histórias.
DICA:
Organizar, no quadro uma tabela com as semelhanças/diferenças incluindo as
características linguísticas e de contexto de cada um dos contos. Anotar o diálogo para a análise com o ocorrido
no primeiro dia.
3. Para fechar essa sequência...
Literatura é arte. Deve ser fruída. Apresentar
duas escritas, tendo a original como referência, amplia o repertório das crianças
e do professor e realiza o que se deseja em literatura: prazer e pensamento,
ludicidade e reflexão, o doce e útil vínculo que há nos melhores textos.
Lembre sempre: a escola é um lugar privilegiado para ingressar nos sabores e saberes literários e, nela, é o professor que produz o leitor. "A leitura é uma arte que se transmite, mais do que se ensina", escreveu a Michèle Petit. E eu assina embaixo!
Referências:
ANDERSEN,
Hans Christian. A princesa e a ervilha. Tradução de Maria Luiza Borges. In: Contos de fadas: de Perrault, Grimm, Andersen
e outros. São Paulo: Zahar, 2010.
CALVINO, Italo. O livro da Natureza em Galileo. In: Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia
das Letras, 2007.
ORTHOF, Sylvia. Ervilina
e o Princês. Ilustrações de Laura Castilhos. Porto Alegre: Editora Projeto,
2009 [1ª Ed. 1986].
PETIT, Michele. A arte de Ler. São Paulo: Editora 34, 2009.
Iniciativa
da Associação Cultural Liber Liber, que intenciona publicar e difundir gratuitamente
obras literárias em formato eletrônico disponíveis em: http://www.liberliber.it/
O PNE
2014-2014 é um projeto de Nação, segundo o MEC. Está sendo elaborado e intenciona determinar
as diretrizes, metas e estratégias para a política educacional do país. Mais
em: http://pne.mec.gov.br/