Primeiríssima infância: o idílico e o poético garantido?
Cristina Maria Rosa
Hoje assisti a defesa de Projeto de Tese de Cristiene Galvão. Ela está
se tornando uma muito importante pesquisadora no campo da literatura que é produzida
para bebês no país, sob om olhar atento e cuidadoso de suas orientadoras.
Mestrado
Já no mestrado, Cristiene brilhou. No texto Existe uma literatura para bebês?,
disponível no Repositório da UFMG, encontra-se parte significativa dos caminhos que ela percorreu para definir o
que é uma “experiência literária". Lei a o resumo:
Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Linguagem e Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG e tem
por objetivo principal investigar o teor literário em livros de literatura
destinados a crianças de 0 a 2 anos. Para tal, busca aproximações com o
universo infantil, considerando os bebês como sujeitos que são produtos e
produtores de cultura e que, na troca de experiências como os outros e com o
meio, constroem suas singularidades. Analisar as publicações literárias para
bebês apresenta-se como um grande desafio, uma vez que as crianças dessa faixa
etária estão dando os primeiros passos rumo à ordenação do mundo. A abstração
tão necessária para que as crianças possam criar outros mundos em outros tempos
e espaços, característica do texto ficcional, ainda não está garantida em obras
para esta faixa etária e isso acarreta diferenças singulares nas publicações
para esse público. Podem esses livros receber o selo de literários? Podem os
bebês produzir sentidos em contato com narrativas ficcionais? Para responder
tais perguntas é preciso o apoio de lentes teóricas que consideram a infância
como um acontecimento e os bebês como sujeitos que se constituem na linguagem e
que por meio dela subjetivam e compartilham suas experiências. A opção de
conhecer e analisar os livros de literatura infantil destinados aos bebês
objetivou categorizá-los segundo suas propostas interlocutórias e entrelaçá-los
com as perspectivas vigostskiana, wallonianas e golseanas de ampliar as
experiências afetivas e cognitivas das crianças, levando em conta as
particularidades dessa faixa etária. Bernardo, Compagnon, Eagleton, Jouve são,
também, importantes interlocutores dessa pesquisa uma vez que redimensionam o
conceito stricto sensu dado à literatura, atitude tão necessária para a
apreensão da pluralidade de produções existentes na atualidade. Na esteira da
ampliação desse conceito, autores com Hunt e Sosa auxiliam a configurar as
especificidades dos textos literários destinados às crianças. O corpus de
análise foi selecionado a partir de acervo particular e intentou abranger a
diversidade de produções para essa faixa etária. Foram levantadas as seguintes
categorias: materialidade, temática, gêneros, número de palavras, conceito da
obra. Os resultados indicam que, dentro de um conceito mais abrangente de
literatura, é possível classificar livros destinados a bebês como literários
desde o instante em que a ruptura com a realidade se materialize, não como uma
transcrição, mas como uma (re) apresentação do real. Ainda que muitos livros
infantis destinados a bebês não apresentem uma estrutura narrativa, já se
observa a fratura com o real e um exercício ficcional capaz de criar tensões
das mais variadas cores e tons.
Algum diálogo sobre a criança...
O infante de nossa espécie é sujeito ativo, pensante, razão em potencia?
Como definir infância?
Para Ana Maria Machado, é fundamental que apresentemos às crianças uma variedade
de impressos que informem sobre a presença, na cultura escrita, de múltiplos livros,
linguagens, temas, vozes, ilustrações. O intuito seria propor o desenvolvimento
da capacidade crítica. Esta proposição contraria uma anterior, clássica, defendida por Cecília
Meireles. Para a poeta que também foi professora, apenas livros de qualidade deveriam
ser ofertados aos pequenos, argumento que se encontra em Problemas da Literatura Infantil, publicado em 1951, pela Secretaria de Estado
da Educação de Belo Horizonte.
Cristiene, em seus estudos que se orientaram pela análise contrastiva, indica que, dentro de um conceito mais
abrangente de literatura, é possível classificar livros destinados a bebês como
literários desde o instante em que a ruptura com a realidade se materialize,
não como uma transcrição, mas como uma (re) apresentação do real.
E...
Foi assim que Lembrei de Graça Paulino e de um de seus artigos: Sapos e bodes no apartamento.
Impossível não lembrar...
Por fim...
Crianças merecem literatura...
Pois...
Literatura subverte!
Inclusive o insondável!
Inclusive o insondável!!!
Subverte o real! Transforma o real. E...
O que é o real?
Bônus
A dissertação está aqui: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-ARRJJ5