segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

É em janeiro que se comemora o leitor...

 


07 de janeiro: um dia para o leitor

Cristina Maria Rosa

 

É possível ensinar a gostar de ler? Há um método para ensinar a gostar de ler? E, crianças pequenas, antes de lerem as letras e suas combinações, podem aprender a gostar de ler?

Os métodos para ensinar a gostar de ler são ensinados/aprendidos na Licenciatura em Pedagogia. Lá, entre professores que leem e ensinam o que é um livro de qualidade, cada futuro professor pode aprimorar seu gosto. Adquirir um acervo para sustentar literariamente seu projeto docente também é muito importante, pois um Pedagogo é um “mediador”, um indivíduo que estende pontes entre quem deseja saber e o que já se sabe. Mas pode criar “pontes outras”, pois sempre queremos saber mais.


As crianças...

Para herdarem os saberes da cultura escrita que uma família possui, as crianças precisam ser convidadas a admirar o que há nos livros, na leitura e nas maneiras como os adultos leem e conservam suas bibliotecas.

Na escola, também é assim: para que as crianças utilizem e usufruam da biblioteca, precisam saber onde é, como funciona, quais as obras que existem em seu acervo, como é possível ler estras obras e como cuidar delas para que as demais crianças que ali estudarem, também possam conhecê-las.

É assim que, dia após dia, o hábito e o gosto vão sendo lapidados, pois processos espontâneos nem sempre resultam em leitores. Rotinas e procedimentos organizados, aprofundados e metódicos são os mais adequados para inserir um novo leitor no miundo da cultura escrita. Letramento é esse processo: inserir e dar continuidade a uma formação leitora.

Ter um método de ensino torna o exercício da profissão docente mais intensamente capaz de objetivar desejos e intenções. No ensino do gostar de ler, o método – a mediação literária – agrega valor ao artefato cultural – o livro e seus atributos – e não pode prescindir de planejamento, desenvolvimento e avaliação.


O que é Leitura?

A leitura é um fenômeno que ocorre em quatro dimensões: anterior à decodificação do sistema de escrita alfabético, concomitante a sua aprendizagem e posterior a suas descobertas. É ainda, um fenômeno de dimensão imensurável, inimaginável e magnífico, especialmente pela sua capacidade inventiva.

Leitura: um fenômeno em quatro dimensões

Entendo a leitura como um fenômeno que extrapola os sujeitos em relação (autor, texto e leitor), não restrita ao ato de decodificar letras, sílabas e construções frasais utilizados em gêneros textuais dos mais diversos tipos.

Para mim, a leitura não é circunscrita ao ato de relacionar sons e sinais gráficos inventados historicamente pela humanidade, capazes de produzir compreensão, interpretação, conotação ou suposição de intenções.


Antes, o que há?

A leitura antecede a primeira relação preconizada na escola – compreender o sistema alfabético, suas regras e manifestações. E, por isso, é um fenômeno e não apenas uma habilidade.

E argumento: ao nascer em uma sociedade leitora, cada humano recebe, desta e como herança cultural a ser apreendida – incorporada, cultuada, rejeitada, acentuada, ampliada ou simplesmente ignorada –, um rol de saberes sobre o que é, qual a importância, valor e função da escrita e como é possível conhecê-la e utilizá-la. Assim, pode ser entendida como um fenômeno cultural que ocorre no tempo – na história de cada de leitor – e no espaço, geográfico, mas também social, para o qual concorrem muitos elementos.


As quatro dimensões...

A leitura é um fenômeno que ocorre em quatro dimensões: anterior, concomitante e posterior ao ato de decodificar e que produz a quarta dimensão, a inventiva. Produzida pelo sentido profundo do ler o escrito, a dimensão inventiva é mais difícil de ser observada, mas oferece indícios quando das comunicações orais ou escritas (discursos, uso do léxico, composições e elucubrações) por seus usuários.

1. A leitura é um fenômeno anterior à compreensão do sistema de escrita alfabético justamente pelos saberes que circulam acerca do valor social da leitura. Assim, é possível afirmar que é uma faculdade a ser adquirida. E é uma capacidade que ocorre processualmente, por toda a vida que antecede o conhecimento de letras e suas combinações. Posso afirmar que esses saberes prévios antecipam, aprimorando ou prejudicando a compreensão do sistema alfabético.

2. A leitura é um fenômeno concomitante à compreensão do sistema de escrita alfabético exatamente por que, enquanto se lê é que ocorre a compreensão da escrita em si, seu valor gramatical, gráfico, correspondente, representativo, posicional e conceitual. Conhecer e compreender o sistema de escrita alfabética é condição para a leitura, mas não se restringe a ela.

3. A leitura é um fenômeno posterior, pelo poder que possui de reverberar sentidos e significados na vida do leitor.

E é um fenômeno que produz uma dimensão imensurável – a inventiva – quando do contato com a escrita literária, uma vez que esta agrega ao produto da escrita convencional, o valor da arte do escrito.

Para Arthur Schopenhauer, “a experiência pessoal é a condição indispensável, necessária para a compreensão tanto da poesia quanto da história, pois é, por assim dizer, o dicionário da língua falada por ambas” (Metafísica do Belo. UNESP, 2003, p. 205).

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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