O que ler: algumas sugestões
Cristina Maria Rosa
Dialogando com meu grupo 60+ aqui em Monte Belo do Sul e por mídias digitais com alunas da UNAPI - Universidade Aberta a Pessoas Idosas, o tema foi “as melhores”
leituras, livros, autores. E, nesse universo, quem teria o saber/poder de
decisão/orientação.
Cientes de que há agentes – pais, professores, escritores,
leitores, pesquisadores, sábios – a indicar e conduzir os demais e que “não
basta ler qualquer coisa”, concordamos que a qualidade da leitura que fazemos
“depende de quem nos orienta”. Entre nós circulou, também, a ideia de que “as
escolhas dos orientadores deveriam ser baseadas na qualidade e não na origem do
escritor”, pois há obras estrangeiros que são descartadas apenas por não terem
sido escritas na língua pátria.
Na maioria das vezes o que ocorre? Pergunta uma de minhas
interlocutoras. E ela mesmo responde, já argumentando: “Os jovens detestam o
que têm obrigação de ler!”
Querendo saber se os professores são orientados quanto a isso, a
pergunta tocou para mim. Não me furtei.
Os professores...
Não conheço a orientação que é dada aos futuros professores nas
Licenciaturas em Letras. Mas sei que, nas instituições em que se estuda
Literatura Brasileira, se ensina o que é considerado clássico brasileiro.
Machado de Assis, Clarice Lispector, Mario Quintana e por aí vai.
Quando atuava na Licenciatura em Pedagogia, como a literatura
escrita para crianças tem origem em culturas europeias, o clássico vem "de
fora", exigindo que tenhamos mais amplitude ao tratar o que é o cânone.
Consequentemente, menos preconceito em reconhecer que literatura, desde que de
qualidade, não importa a origem...
Eu pergunto: no Brasil, temos bons escritores? Quem pode responder?
Quem leu tudo o que foi produzido no mundo e pode atestar que a nossa
literatura é boa? É por isso, por não conseguir, em uma vida, ler tudo o que já
foi escrito que nós precisamos de ajuda. E o que é ajuda? Ajuda são obras
escritas por renomados leitores que indicam...
Exemplo: Uma rede de casas encantadas, de Ana Maria Machado.
Outro: a reunião de melhores contos, poemas, fábulas de um país
como Os 100 melhores contos de humor da literatura universal, organizado
por Flávio Moreira da Costa.
Mai um: Por que ler os clássicos, de Italo Calvino.
Sem esquecer de Contos e Poemas para crianças extremamente
inteligentes de todas as idades, de Harold Bloom.
E, ela aí de novo: Como e por que ler os clássicos universais
desde cedo, de Ana Maria Machado, entre outros.
O que é o melhor e para quem é uma pergunta que põe em xeque o
cânone ou o que especialistas indicam como cânone. Afinal, quem tem a
prerrogativa de decidir o que realmente devo ler?
Ao pensar em responder, lembrei-me de uma reportagem que li a
respeito dos livros indicados ao vestibular. Nela, um “especialista” dizia que
bom mesmo é aquilo que gosto. Pensei um pouco mais e recordei de um filósofo
brasileiro, vivo, que diz que nosso tempo é curto, então, não devemos perder
tempo lendo o que não é bom. Eu gosto dessa ideia: ler só o que é bom. Mas como
saber, antes de abrir um livro?
Na Universidade, um de meus trabalhos mais intensos ocorreu na formação
de novos leitores. Então, o gostar de ler, às vezes, se sobrepõe ao "o que
ler". Quando o diálogo é com leitores maduros, "o papo" é outro
e podemos explorar mais os critérios do que é considerado bom...
O que observo, mesmo entre pares, é que a maioria não sabe o que é
"formar um leitor". Isso não é um demérito. Mas deve ser um desafio. Alfabetizar
literariamente é parte de um processo delicado, e poucos, realmente, conseguem
ter êxito quando se propõem.
Fim de papo...
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