Cristina Maria Rosa
Resumo: A leitura é um
fenômeno que ocorre em quatro dimensões: anterior à decodificação do sistema de escrita alfabético, concomitante a sua aprendizagem e posterior a suas descobertas. É ainda, um fenômeno de dimensão imensurável, inimaginável e magnífico, especialmente pela sua capacidade inventiva.
Leitura: um fenômeno em quatro dimensões
Entendo a leitura como um fenômeno que extrapola os sujeitos em relação
(leitor e texto). Por isso a descrevo como não restrita ao ato de decodificar letras, sílabas e construções frasais utilizados em gêneros textuais
dos mais diversos tipos e a conceituo como não circunscrita ao ato de relacionar sons e sinais gráficos inventados
historicamente pela humanidade, capazes de produzir compreensão, interpretação, conotação
ou suposição de intenções.
Penso que a leitura antecede a
primeira relação preconizada na escola – compreender o sistema alfabético, suas
regras e manifestações. E, por isso, é um fenômeno e não apenas uma habilidade.
E argumento: ao nascer em uma sociedade leitora, cada humano recebe, desta e como
herança cultural a ser apreendida – incorporada, cultuada, rejeitada, acentuada, ampliada
ou simplesmente ignorada –, um rol de saberes sobre o que é, qual a importância, valor e função da escrita e como é possível conhecê-la e utilizá-la. Assim, pode ser entendida como um fenômeno cultural que ocorre no tempo – na história
de cada de leitor – e no espaço, geográfico, mas também social, para o qual
concorrem muitos elementos.
As quatro dimensões
A leitura é um fenômeno que ocorre em quatro dimensões: anterior, concomitante e posterior ao ato de decodificar e que produz a quarta dimensão, a inventiva. Produzida pelo sentido profundo do ler o escrito, a dimensão inventiva é mais difícil de ser observada, mas oferece indícios quando das comunicações orais ou escritas (discursos, uso do léxico, composições e elucubrações) por seus usuários.
A leitura é um fenômeno que ocorre em quatro dimensões: anterior, concomitante e posterior ao ato de decodificar e que produz a quarta dimensão, a inventiva. Produzida pelo sentido profundo do ler o escrito, a dimensão inventiva é mais difícil de ser observada, mas oferece indícios quando das comunicações orais ou escritas (discursos, uso do léxico, composições e elucubrações) por seus usuários.
1. A leitura é um
fenômeno anterior à compreensão do
sistema de escrita alfabético justamente pelos saberes que circulam acerca do
valor social da leitura. Assim, é possível afirmar que é uma faculdade a ser
adquirida. E é uma capacidade que ocorre processualmente, por toda a vida que antecede
o conhecimento de letras e suas combinações. Posso afirmar que esses saberes
prévios antecipam, aprimorando ou prejudicando a compreensão do sistema alfabético.
2. A leitura é um
fenômeno concomitante à compreensão
do sistema de escrita alfabético exatamente por que, enquanto se lê é que ocorre
a compreensão da escrita em si, seu valor gramatical, gráfico, correspondente,
representativo, posicional e conceitual. Conhecer e compreender o sistema de
escrita alfabética é condição para a leitura, mas não se restringe a ela.
3. A leitura é um
fenômeno posterior, pelo poder que possui
de reverberar sentidos e significados na vida do leitor. E é um fenômeno que produz uma dimensão imensurável – a inventiva – quando do contato com a escrita
literária, uma vez que esta agrega ao produto da escrita convencional, o valor
da arte do escrito. Para Arthur Schopenhauer, “a experiência pessoal é a
condição indispensável, necessária para a compreensão tanto da poesia quanto da
história, pois é, por assim dizer, o dicionário da língua falada por ambas” (Metafísica
do Belo. UNESP, 2003, p. 205).
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