Conceito grafado por mim pela primeira vez em 2016, a alfabetização
literária vem sendo uma prática que desenvolvo desde 1995, quando dei
início a um processo familiar de formação de um leitor que hoje atingiu a
maturidade, caracterizada por mim como intensidade, diversidade, fluência, independência, autonomia e gosto literário próprio. Por isso mesmo, me atrevo a grafar o conceito e busco, em outras
relações, oferecer princípios e procedimentos para que estes saberes extrapolem
minhas conquistas pessoais e indiquem generalizações possíveis e mesmo
desejáveis, uma vez que se trata de um campo de saber visceral para o cérebro
humano e para a escola, em especial.
Uma das inteligências a ser desenvolvida – a verbal – ainda
na infância, a alfabetização de alguém em algum campo do saber sempre é um
processo que demanda reflexão/ação/reflexão. O tempo todo.
A alfabetização é e deve ser mediada
por atitudes de escolha de procedimentos e artefatos cada vez mais sofisticados
que exigem comprometimento do propositor e do sujeito que está sendo iniciado.
Quando mais jovem este sujeito, menos certezas o alfabetizador tem.
Embora se utilize para tal artefatos culturais
públicos como livros e seus conteúdos, leituras e diálogos sobre eles, a
alfabetização literária é, também, um processo particular, ou seja, é
vivida individualmente por cada sujeito a ela submetido que, necessariamente,
atribui valores e sentidos muito próprios ao acontecimento, ao jogo e a suas regras, nem sempre os
mesmos atribuídos por seu "professor".
Mas, o que é, para mim, alfabetizar literariamente uma
pessoa? Como conceituo a alfabetização literária?
Compreendeo a Alfabetização literária como um processo de
apresentação do mundo da literatura ao outro. Um processo que pressupõe um sujeito que
deseja - o futuro leitor, a quem a apreciação deve ser ensinada, uma vez
que o gosto pela leitura não é um atributo genético (Antunes, 2013) –
um sujeito que ama – o leitor e suas práticas leitoras – e um objeto
de desejo: o livro, a literatura.
O processo – a alfabetização literária –
acontece através de um pacto, vivido no texto não escrito (Queirós,
2011): um diálogo proposto pelo autor ao leitor. Ao mesmo tempo insondável e
experimentação, a obra não escrita, a interação, é que revela o literário do
pacto e “produz” a obra literária, ao mesmo tempo em que inicia o sujeito nos
“segredos” da leitura.
Para a completude do processo, é interessante que exista no mediador a capacidade de selecionar “livros que fascinam” e a compreensão de que a leitura literária
pressupõe “uma prática cultural de natureza artística” na qual a “interação
prazerosa” com o texto lido é estruturante. Para Graça Paulino (2014) a “dimensão imaginária” garante a
invenção de “outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações,
pensamentos, emoções”.
Um desejo - ensinar o gostar de ouvir e ler - deve orientar todo o processo.
A certeza de que, maduro, o leitor pode escolher outros laços, outras letras, outras fontes, integra o despreendimento necessário e bem vindo de parte de quem alfabetiza.
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