Inserido no universo editorial brasileiro dos anos 30 e de autoria do maior ficcionista gaúcho do século XX, o abecedário “Meu ABC” foi elaborado por Erico Verissimo, publicado em 1936 pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, ilustrado por Ernst Zeuner e assinado pelo personagem Nanquinote (VERISSSIMO, 1932, p. 181). Diferentemente dos demais livros do escritor, Meu ABC foi editado apenas uma vez e tornou-se um raro livro que integra a obra do ficcionista gaúcho.
Com a intenção de dar assento na historiografia da literatura a esse ignorado e raro documento, durante o período de coleta de informações sobre o período em que foi escrito, leitura da biografia, obra e fortuna crítica do escritor, fui convencida de seu protagonismo na elaboração e publicação de diferentes livros dedicados à infância. Nesse contexto, Meu ABC teria sido parte de um projeto do escritor que, à época, dava largos passos no que veio a se tornar a maior empresa editorial gaúcha, a Editora Globo.
De posse de informações preciosas – declarações contidas em Meu ABC (VERISSIMO, 1936) e em Gente e Bichos (VERISSIMO, 1965), confidências do escritor em Solo de Clarineta (VERISSIMO, 1973), descrição do abecedário feita por Regina Zilberman (2009) e depoimentos de Maria da Glória Bordini (2011) –, narro a história do livro que contém 25 vocábulos iniciados por grafemas, em ordem alfabética, seguidos de uma narrativa.
Considerando os estudos de Aguiar (2005, p. 43) que afirma a intenção do ficcionista em “formar e informar seus leitores”, acredito que Verissimo projetou uma série de livros dedicados à infância e à juventude, alguns em coleções, tendo iniciado a “Biblioteca de Nanquinote” pelo abecedário Meu ABC. Mais que isso, produziu-os na década de 30, ao mesmo tempo em que suas demais atividades tinham curso – foi editor, revisor, tradutor, escritor de romances, entre outras atribuições – o que indicaria que não foi uma produção ocasional. Para Aguiar (2005) a elaboração de onze títulos dedicados à infância constitui “um projeto literário consciente, uma vez que o autor deixa claros seus objetivos junto ao público (...)” e indica que Verissimo foi um escritor “em consonância com a crescente efervescência da época”, quando há significativo aumento tanto de obras como edições.
Pertencendo ao campo da análise qualitativa (LÜDKE e ANDRÉ, 1986), considero a intenção do escritor em estabelecer, inicialmente através do abecedário, um diálogo entre a criança e o adulto que seria, a posteriori, completado com a leitura de A vida de Joana d’Arc (1935), Os três porquinhos pobres (1936), As aventuras do avião vermelho (1936), Rosa Maria no castelo encantado (1936), As aventuras de Tibicuera (1937), O Urso com música na barriga (1938), A vida do Elefante Basílio (1939), Outra vez os três porquinhos (1939), Aventuras no mundo da higiene (1939) e Viagem à Aurora do Mundo (1939), conforme palavras do escritor, na apresentação da edição de 1965 de Gente e Bichos: “Destinei minhas narrativas a crianças entre quatro e dez anos. Quero dizer, escrevi-as de tal modo que, se uma pessoa ler esses contos para crianças ainda não alfabetizadas, estas poderão compreendê-los”. A metodologia empregada para o estudo e a análise de Meu ABC foi a fotografia do original além da leitura de toda a obra infantil e de suas memórias e parte da fortuna crítica.
Meu Abc – impresso em formato de paisagem com 13 cm de altura por 27 cm de largura – possui 32 páginas, possivelmente duas a menos que o original. As seis primeiras são: capa com o título Meu ABC e ilustrações que representam crianças, brinquedos e animais; no verso, papel de parede com motivos infantis e à esquerda, o ex-libris; segunda capa na qual se apresenta o personagem Nanquinote e a proposta de sua “Biblioteca”; no verso, a impressão de, possivelmente, uma marca da editora para a coleção; terceira capa na qual está impresso o pertencimento à coleção, o título do livro, o nome do ilustrador e o nome do autor. Informa que é uma “Edição da Livraria do Globo de Porto Alegre” e, possivelmente, o número da série do livro: Nº 4.
O miolo é composto de 12 páginas não numeradas, impressas frente e verso contendo em cada uma, uma ilustração e um texto relativo a uma letra do Alfabeto. Inicialmente apresentando diferentes grafias da letra em maiúsculas e minúsculas, logo apresenta uma palavra iniciada pelo grafema e um texto. Na sequência, quatro páginas pós-textuais: uma com o título “O mundo das maravilhas” na qual o autor discorre sobre a literatura e sua importância para as crianças, outra com a publicidade das coleções da Editora Globo, duas páginas com papel de parede com motivos infantis e a última capa com um texto na parte superior que diz: “Biblioteca de Nanquinote. As crianças brasileiras estão alvoroçadas depois que viram os livros da Biblioteca Nanquinote – lindos entre os mais lindos. E os pais de família estão satisfeitos porque podem dar a seus filhos livros bons, bonitos e interessantes por 4$000 o volume. Em cada livro, uma aventura engraçadíssima, ao lado de figuras maravilhosas em muitas côres!”. Além do texto, ilustração de cinco capas de livros e um convite: “Comecem hoje mesmo a ler e a colecionar os belos livros da Biblioteca de Nanquinote”.
Descrever os aspectos físicos do exemplar fotografado inclui afirmar suas condições de conservação – bastante precárias – além da exiguidade: há apenas dois registros públicos do livro, um integrando o acervo Erico Verissimo na BN e outro integrando o acervo da BLM, em Porto Alegre. Quanto ao conteúdo literário e pedagógico, os resultados indicam que o abecedário tem poucos vínculos com a qualidade da literatura de Verissimo; no entanto, representa um material que sim, poderia ter sido utilizado nas escolas para introduzir crianças no mundo da leitura. Aparentemente vinculado ao método analítico, não há estudos específicos a respeito dessa produção de Verissimo. Ela, curiosamente, não consta na maioria de suas biografias e listagem de livros publicados e nem mesmo é referido na fortuna crítica, com raras exceções, o que torna a pesquisa relevante
Com a intenção de dar assento na historiografia da literatura a esse ignorado e raro documento, durante o período de coleta de informações sobre o período em que foi escrito, leitura da biografia, obra e fortuna crítica do escritor, fui convencida de seu protagonismo na elaboração e publicação de diferentes livros dedicados à infância. Nesse contexto, Meu ABC teria sido parte de um projeto do escritor que, à época, dava largos passos no que veio a se tornar a maior empresa editorial gaúcha, a Editora Globo.
De posse de informações preciosas – declarações contidas em Meu ABC (VERISSIMO, 1936) e em Gente e Bichos (VERISSIMO, 1965), confidências do escritor em Solo de Clarineta (VERISSIMO, 1973), descrição do abecedário feita por Regina Zilberman (2009) e depoimentos de Maria da Glória Bordini (2011) –, narro a história do livro que contém 25 vocábulos iniciados por grafemas, em ordem alfabética, seguidos de uma narrativa.
Considerando os estudos de Aguiar (2005, p. 43) que afirma a intenção do ficcionista em “formar e informar seus leitores”, acredito que Verissimo projetou uma série de livros dedicados à infância e à juventude, alguns em coleções, tendo iniciado a “Biblioteca de Nanquinote” pelo abecedário Meu ABC. Mais que isso, produziu-os na década de 30, ao mesmo tempo em que suas demais atividades tinham curso – foi editor, revisor, tradutor, escritor de romances, entre outras atribuições – o que indicaria que não foi uma produção ocasional. Para Aguiar (2005) a elaboração de onze títulos dedicados à infância constitui “um projeto literário consciente, uma vez que o autor deixa claros seus objetivos junto ao público (...)” e indica que Verissimo foi um escritor “em consonância com a crescente efervescência da época”, quando há significativo aumento tanto de obras como edições.
Pertencendo ao campo da análise qualitativa (LÜDKE e ANDRÉ, 1986), considero a intenção do escritor em estabelecer, inicialmente através do abecedário, um diálogo entre a criança e o adulto que seria, a posteriori, completado com a leitura de A vida de Joana d’Arc (1935), Os três porquinhos pobres (1936), As aventuras do avião vermelho (1936), Rosa Maria no castelo encantado (1936), As aventuras de Tibicuera (1937), O Urso com música na barriga (1938), A vida do Elefante Basílio (1939), Outra vez os três porquinhos (1939), Aventuras no mundo da higiene (1939) e Viagem à Aurora do Mundo (1939), conforme palavras do escritor, na apresentação da edição de 1965 de Gente e Bichos: “Destinei minhas narrativas a crianças entre quatro e dez anos. Quero dizer, escrevi-as de tal modo que, se uma pessoa ler esses contos para crianças ainda não alfabetizadas, estas poderão compreendê-los”. A metodologia empregada para o estudo e a análise de Meu ABC foi a fotografia do original além da leitura de toda a obra infantil e de suas memórias e parte da fortuna crítica.
Meu Abc – impresso em formato de paisagem com 13 cm de altura por 27 cm de largura – possui 32 páginas, possivelmente duas a menos que o original. As seis primeiras são: capa com o título Meu ABC e ilustrações que representam crianças, brinquedos e animais; no verso, papel de parede com motivos infantis e à esquerda, o ex-libris; segunda capa na qual se apresenta o personagem Nanquinote e a proposta de sua “Biblioteca”; no verso, a impressão de, possivelmente, uma marca da editora para a coleção; terceira capa na qual está impresso o pertencimento à coleção, o título do livro, o nome do ilustrador e o nome do autor. Informa que é uma “Edição da Livraria do Globo de Porto Alegre” e, possivelmente, o número da série do livro: Nº 4.
O miolo é composto de 12 páginas não numeradas, impressas frente e verso contendo em cada uma, uma ilustração e um texto relativo a uma letra do Alfabeto. Inicialmente apresentando diferentes grafias da letra em maiúsculas e minúsculas, logo apresenta uma palavra iniciada pelo grafema e um texto. Na sequência, quatro páginas pós-textuais: uma com o título “O mundo das maravilhas” na qual o autor discorre sobre a literatura e sua importância para as crianças, outra com a publicidade das coleções da Editora Globo, duas páginas com papel de parede com motivos infantis e a última capa com um texto na parte superior que diz: “Biblioteca de Nanquinote. As crianças brasileiras estão alvoroçadas depois que viram os livros da Biblioteca Nanquinote – lindos entre os mais lindos. E os pais de família estão satisfeitos porque podem dar a seus filhos livros bons, bonitos e interessantes por 4$000 o volume. Em cada livro, uma aventura engraçadíssima, ao lado de figuras maravilhosas em muitas côres!”. Além do texto, ilustração de cinco capas de livros e um convite: “Comecem hoje mesmo a ler e a colecionar os belos livros da Biblioteca de Nanquinote”.
Descrever os aspectos físicos do exemplar fotografado inclui afirmar suas condições de conservação – bastante precárias – além da exiguidade: há apenas dois registros públicos do livro, um integrando o acervo Erico Verissimo na BN e outro integrando o acervo da BLM, em Porto Alegre. Quanto ao conteúdo literário e pedagógico, os resultados indicam que o abecedário tem poucos vínculos com a qualidade da literatura de Verissimo; no entanto, representa um material que sim, poderia ter sido utilizado nas escolas para introduzir crianças no mundo da leitura. Aparentemente vinculado ao método analítico, não há estudos específicos a respeito dessa produção de Verissimo. Ela, curiosamente, não consta na maioria de suas biografias e listagem de livros publicados e nem mesmo é referido na fortuna crítica, com raras exceções, o que torna a pesquisa relevante
Um comentário:
Obrigado por essas riquíssimas informações! Sou fã do Erico Veríssimo e também colecionador de sua obra. Gostaria de poder ter esse item na minha coleção. Espero que haja uma reedição algum dia.
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