Dizem muitas coisas sobre a leitura.
Uma delas que ler em movimento (no carro, no ônibus, no avião) deixa o sujeito enjoado.
Tenho para mim que enjoado é quem não lê. Haja paciência para aturar um papo furado, desses que iniciam invariavelmente com:
- Friozonho o nosso inverno, não acha?
Outra coisa que dizem da leitura é que ler, com menos luz do que o necessário deixa o sujeito cego. Ta, dizem que a longo prazo...
Cego é quem não lê, esse é que não vê nada. Mais ou menos como aquele sujeito que, ao ser perguntado dos escândalos da política pergunta:
- Em que país?
Dizem também, e isso foi antigamente, que ler cansa a vista.
Cansa a companhia, cansa as pessoas que precisam aturar as certezas do senso comum, todas ditas com um ar de sapiência e com uma mesma fórmula:
- Meu pai aprendeu com o dele e isso eu confirmo...
E logo depois alguma pérola como “Dizem que enterrar um cipó amarrado duas vezes desata todos os problemas do vivente!”
Outra coisa da leitura que dizem é que tem hora e lugar. Isso eu confirmo. Tem hora. Todas. E tem lugar. Qualquer um. Ler é um prazer tão grande que quem gosta, não consegue esperar o lugar ideal nem o momento certo. Mesmo porque esse lugar ideal quase sempre está longe de onde estamos quando acabamos de comprar um jornal, uma revista, um livro novo. E o momento certo ou já passou ou ainda não chegou, então por que não ir dando uma olhadinha no sumário, nas manchetes, naquela foto que eu me interessei?
Tem muito mais coisas que dizem sobre a leitura. Uma é que ela afasta as crianças do brincar, da verdadeira infância. A “verdadeira” infância seria um lugar do fruir alegrias advindas do correr, pular, gritar, dar risada, esconder-se, jogar bola, comer despreocupadamente. Ou seja, para esse conceito, criança é só um corpo alegre que entra em movimento por qualquer motivo.
Eu ainda não encontrei nenhuma criança que risse, corresse, pulasse, jogasse sem imaginar grandes aventuras...
Essas “grandes aventuras” imaginadas não brotam com o suor, com o volume da voz, com a pressa do correr. Essas aventuras fazem parte do complexo universo da inteligência humana capaz de ser racional e imaginária ao mesmo tempo.
A imaginação é mãe de todas as idéias, é filiada ao regime noturno – ao sonho – e produz verdades que entram em choque com o real. É por isso que muitos preferem sonhar em vez de realizar.
Mas como eu ia dizendo, a aventura, ou melhor, a imaginação da aventura, brota desse complexo enigma cinza que temos aprisionado dentro dos ossos da cabeça.
A prisão, por pequena, demanda janelas.
As da alma, como dizem alguns, e as da imaginação, como sabemos todos.
Essas janelas precisam de ar – idéias – e de luz – imagens.
Sabe onde podemos encontrar ar e luz? Nos livros. Ou você não conhece Felpo Filva, o poeta da Eva Furnari?
Por tudo isso é que eu afirmo: Infância combina com leitura. Presente de aniversário, de Natal, de Páscoa, de amizade, de carinho, delembranças, presente, pode ser livro.
Criança não fica traumatizada se entrar em uma livraria. Silêncio combina com criança. Ler no carro, em movimento, ler no ônibus forçando a retina, ler com uma vela, ler, ler combina com Infância. E também com adolescência, com maturidade com terceira idade.
Ler combina, ler está na moda, ler é chique.
Ler indica que você tem pensado ultimamente...
Ler oferece coisas a dizer, ler faz pensar em coisas a serem ditas.
Ler é massa, é maneiro, é tri legal.
Ler é condição de humanidade e, por isso, ler é imprescindível.
Olá! Um "Alfabeto à Parte" foi criado para pensar sobre a leitura literária na escola e na formação de professores.
domingo, 7 de dezembro de 2008
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Quem sou eu
Alfabeteando...
Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler.
Alguns momentos importantes estão aqui.
2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936;
2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel;
2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro;
2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue –
português e italiano – tornou-se um E-Book;
2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/).
2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças;
2020 – Produção de Uma quarentena de
Receitas, um livro criado para comemorar a vida;
2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI;
2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA?
2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.
Um comentário:
kkkkkkkkkkkkkkkkk
Ótimooooooo! Amo ler...e não consigo entender porque toda a gente não pensa como a gente!!!! Muito bom este texto.
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