Cristina Maria Rosa
Livros escritos para a infância que, no título, mencionam “leitura” ou “livros”, imediatamente, capturam a minha atenção. O mesmo ocorre quando a imagem da capa sugere ou explicita essa prática cultural. Foi o que ocorreu com La montagna di libri più alta del mondo, de Rocio Bonilla (2021). Ao observar a seção de livros para crianças na Libri di Eppi – a Livraria que fica na Via Piazzi, 7, em Torino –, a imagem e o título deste livro me fez selecioná-lo para uma primeira leitura. Na segunda, me convenci: deveria adquirí-lo.
A capa...
Uma pilha de livros sustenta, acima das árvores – nas nuvens – um guri.
Ele parece tranquilo, relaxado, deitado sobre uma improvável montanha.
De livros.
Ele está corado, indicando emoção.
Curioso, concentrado, comovido, ele lê.
Para complementar o culto ao livro – e à leitura – passarinhos silenciosos respeitam o abandono ao prazer que o personagem indica viver: todos olham para cima, como se acompanhassem a leitura ou observassem as imagens contidas no livro.
Singela, a ilustração.
Mas convincente.
É uma ilustração originalmente em aquarela e seus tons pasteis convidam à admiração das margens, das cores, dos detalhes.
Ler, nesta capa de livro, parece ser uma atitude em ascendência: quanto mais se lê, mais se quer ler, diz a mim a imagem.
O livro
A trama não é desconhecida: um menino, desde bem pequeno, sonha voar. Tenta muitas vezes e de vários modos. Constroi asas – grandi, piccole – e de vários materiais: le piume (com penas), com la carta (de papel) o il cartone (de papelão). Um dia, a mãe, inteligente, oferece a ele a única possibilidade que humanos tem de voar sem correr os riscos que asas inventadas ocasionam.
– Ci sono altri modi per volare, diz ela. E põe un libro nelle sue mani. Há outras maneiras de voar, diz ela, e lhe oferece um livro.
O menino amò così tanto la storia che mamma gli aveva regalato che la finì tutta d'un fiato. Gostou tanto da história que a mãe lhe havia presenteado que a terminou em um instantinho.
E…
Iniziò um altro libro…
É desse modo que o personagem inicia seu voo. É assim que a “montanha” de livros começa a ser “edificada”.
Créditos e formato
O título original da obra é La muntanya de libres més alta del món e a Editora que primeiro a publicou foi a Bromera (S.L. Alzira, 2015). A primeira versão italiana ocorreu em março de 2018. É uma obra recente, portanto. A décima reimpressão ocorreu em outubro de 2021 e foi um exemplar desta que avaliei. Editada pela Valentina Edizione (Milano, Italia), possui 27,5 cm de altura, 21,5 cm de largura e lombada de um centímetro. Com guarda ilustrada e quarenta e duas páginas (miolo) em papel couche, as ilustrações tornaram o ivro uma obra de arte!
Avaliando a obra…
La montagna di libri più alta del mondo, de Rocio Bonilla (2021) foi elaborada com um argumento simples: antes de conhecer o poder do livro e da leitura, o personagem tem a oportunidade de elocubrar outras saídas para realizar seu desejo. O autor relata cada uma delas e todas são compatíveis com a inventividade e a imaginação infantil.
Voar é um sonho que mescla mitologia e realidade. Baseado nas ideias de Arquimedes e Bacon, Leonardo da Vinci (1452-1519) desenvolveu um protótipo de um helicóptero. O desenvolvimento tecnológico e científico da época, no entanto, não permitiu que realizasse o feito de ver sua invenção alçar voo. Já no início do século XX, Alberto Santos Dumont (1873-1932) inaugurou a era pioneira da aviação sendo o primeiro a demonstrar publicamente seu voo em uma aeronave, o 14 Bis1. Atualmente, há inúmeras maneiras de voar e, mesmo assim, poucos, bem poucos de nós podem voar sós, como pássaros.
Mais próximo de Ícaro que de Santos Dumont, o personagem Lucas, em La montagna di libri più alta del mondo (2021), cria artefatos voadores com materiais que possui e, este modo infantil mas também histórico de pensar e fazer, torna a trama verossímil. E é a verossimilhança – no sentido de possível e até provável – que convence o leitor das artimanhas do menino.
Para além deste aspecto, se apaixonar pela leitura é parte fundamental da formação de qualquer novo leitor e, assim, se fecha o ciclo de “recados” que Roccio Bonilla (autor e ilustrador) propõe.
A obra tem argumento, ele é convicente, não há exageros. Pode ser lido, apreciado, compreendido. E, tão importante quanto, pode integrar um belo projeto de formação de leitores.
Eu recomedo!
1 Nota: Em “O sonho humano de voar: do mito de Ícaro e Dédalo ao avião de Santos Dumont”, Borges, Chaves e Araújo (2021) conjecturam que retratar tais narrativas é relevante para iniciar o diálogo sobre as aspirações humanas a partir do mito até que se chegue à concretização do que seria uma das maiores invenções da humanidade. Fonte: International Journal of Development Research Vol. 11, Issue, 06, pp. 47574-47575, June, 2021 https://doi.org/10.37118/ijdr.21890.06.2021.
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