Italianos
Cristina Maria Rosa
Oggi me perguntaram, do Brasil, como são os italianos.
Se são simpáticos…
Se eu moraria aqui...
Eu respondi:
Quando vou às compras, sempre! E complementei: São muito "na deles" nas ruas, nos cafés, nas sorveterias, nas livrarias. Os proprietários de negócios, extremamente educados! Mas, muitos não trabalham mais. Contratam romenos, africanos, russos, chineses. Ou, italianos do sul, mais pobres que, ao chegar ao primeiro mundo do primeiro mundo, estão a serviço.
Os ricos não se veem nas ruas. Moram em mansões, em uma das margens do Rio Pó ou a caminho da Basilica di Superga. No centro da cidade, a classe média – empregados em bancos, empresas, universidades e liberi professioniste –, passeia à tardinha para um "aperitivo". Nestes lugares se veem mulheres e homens bem vestidos, saídos do trabalho, curtindo a vida. Nas ruas em torno, passeiam, ao mesmo tempo e com elegância, pessoas em Ferraris, Vespas Piaggio – una icona italiana – e bibiclette fatte a mano dai migliori artigiani italiani. Por fim, escrevi: Se eu morar aqui, será no interior, onde não há barulho. Lembrando que o "interior" fica a 40 minutos de carro.
Agora, lendo o que respondi, me percebi um pouco arrabbiata. Lembrei: oggi, sei matina, lixeiros faziam a maior algazarra na rua. A cidade é limpa, mas o preço é ser acordado cedinho, em uma segunda-feira, pelos serviços da prefeitura.
Na verdade, não existem "os italianos" ou "as italianas". Existem pessoas que nasceram aqui e, informadas, tratam a nós, estrangeiros, como alguém de quem eles não precisam. Se eu entro em uma fruteira, farmácia ou café, sou tratada como cliente. Não importa muito a língua que falo, se tenho ou não passaporto.
Importa se eu tenho euros.
Uma estratégia que adotei foi apresentar os euros antes. Antes de adquirir, antes de comprar, antes de solicitar um serviço. Discretamente, ao pegar meu óculos, uma nota de cinquenta ou cem euros aparece em minha mão.
E…
Um miracolo acontece!
No entanto, se estou em um café com uma amiga, o importante é saber falar. Ela vai querer saber do Brasil. Então, nesse caso, fluência é tudo.
Se ando pelas ruas, ninguém saberá se sou ou não “uma deles”. Posso me vestir igual ou extremamente diferente. Ninguém vai me olhar. Como eu disse, italianos vivem a própria vida. Pelo menos, aqui em Torino.
Do interior, única cidade que visitei foi VillaFranca. Foi nela que nasceu meu pai e toda a família dele. Lá eu me senti sendo olhada, observada, avaliada. Em alguns contatos, expressaram alegria por eu ser da Comune di VillaFranca, Piemonte. Em um raro encontro, ouvi: “Mas, ela é uma das nossas!”. Isso se deveu, penso, a uma particularidade. Explico...
Poucos italianos gostam do interior e, ao estar lá – andar, fotografar, comer, ir à prefeitura – virei uma personagem da curiosidade deles. Quando descobriram que sou italiana, que meu sobrenome é um dos tantos ali registrados, sorrisos, quase abraços me esperavam. Mas não apenas personagem do real. Virei uma personagem “de Literatura”. Te conto...
Ao abrir a porta da casa para dar-me infomações sobre uma casinha à venda, um senhor bem humorado, depois de muitas explicações, perguntou:
– A senhora não viu por aí uma donna bionda, observando e fotografando? Imediatamente, soube que era de mim que ele falava. Curioso, queria detalhes a meu respeito. E eu, italiana que também sou, disse:
– Sim, eu a vi. Acabou de passar aqui em frente. Em uma bibicleta.
Desconcertado, o senhor duvidou:
– Em uma bicicleta?
Conversamos mais um pouco. Parecia que nos conhecíamos desde sempre.
Rindo e inventando, nos despedimos.
Sim, eu moraria em VillaFranca.
E compraria uma bicicleta!
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