sexta-feira, 12 de junho de 2020

Idosos e Violência: repercussões


Idosos e Violência: repercussões
Cristina Maria Rosa

Ao enviar a um grupo de interlocutores o artigo “60 anos ou mais: precisamos falar sobre violência!”, elaborado por mim e pela Cinara Postringer, intencionava dar visibilidade a um tema que nos tornou mais sensíveis.
Diante da população que envelhece, no Brasil como um todo e no Rio Grande do Sul, em especial, nos propusemos a apresentar no estudo, como um grupo de jovens e idosos se manifesta quando o assunto é a ou as violências cometidas contra os idosos.
O que nos mobilizou, inicialmente, foi a proximidade do dia 15 de junho – Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa – e a possibilidade de ouvir os imediatamente envolvidos, uma vez que acessamos, desde 2018, um grupo de idosos que estuda na UFPel em um projeto estratégico: a UNAPI – Universidade Aberta a Idosos[1].
O que pensam da violência contra si? Como a conceituam? Planejaram suas velhices? Vivem na velhice projetada? Desejam outra velhice para si? Como a violência é sentida por quem têm 60 anos ou mais? E por quem tem 30 anos ou menos?
Ao receber retornos via e-mail, gravações de áudio, mensagens de WattsApp e telefonemas, percebi que, pela qualidade, autenticidade e emoção das interações, nosso artigo tinha atingido uma camada profunda dos leitores –  repercutindo e reverberando além do que imaginávamos.
Emoções, argumentos, histórias de vida, relatos de situações limite, descrições de eventos, disputa de conceitos e divergência quanto à responsabilidade de cada um e da sociedade como um todo na instauração desse “real” que é a violação de direitos, tramou a necessidade de dar vazão às repercussões. Esse texto, então, trata do impacto que a leitura do artigo causou em um grupo seleto de pessoas: do mundo intelectual e do mundo do trabalho[2]. Perguntei a elas o que pensavam sobre o tema e quais suas considerações acerca do artigo publicado em nosso BLOG. Uma das opiniões veio em forma de elogio e alerta:

Olá, Cristina. Gostei demais do texto! Tema muitíssimo oportuno! Abordagem maravilhosa! Veja que eu estou falando com propriedade, pois estou nos 70. Gostei de ler, por exemplo, sobre o conceito de violência benévola, que eu não conhecia! Gostei de ver também o link, lá no final, tratando dos idosos no Rio Grande do Sul! Vou ler! Parabéns pelo seu trabalho! Abraços.

Assim como a opinião acima exposta, que se refere ao produto de nosso trabalho como oportuno, outra fonte escreveu: “O artigo: está muito claro e abrangente, gostei muito. Leva à reflexão sobre este assunto tão importante!”.
Houve quem se sentisse com vontade de falar de si ou de pessoas idosas que as cercam. Como exemplo, a solicitação de uma delas: “A pesquisa me pareceu concluída, porém, se der tempo, eu teria a história de uma idosa para contar, algo que marcou muito a minha vida. Se aceitar, posso redigir”. Instadas a escrever, duas enviaram relatos. Um deles foi:

Muitas vezes, quando expressamos nossa opinião sobre determinado assunto, buscamos por nossas experiências vividas. Quando questionada sobre o que penso em relação a violência praticada contra idosos, me perguntei de que maneira poderia contribuir com algo que pensava não ter vivenciado. Na verdade, estava enganada. Presenciei a violência, assisti e também pratiquei, por não compreender e classificar certas situações como violentas. Sim, pois é também um ato de violência não intervir quando percebemos que há algo errado acontecendo. Uma vez que sabemos que vamos envelhecer, deveria ser automático o ato de colocar-se no lugar do idoso e pensar como seria se estivéssemos na mesma posição que ele. Ocorre conosco um fenômeno muito parecido ao que parece acontecer aos nossos pais e avós. Nós não percebemos a passagem do tempo pelo referencial do outro. Assim como eles nos enxergam como suas crianças, nós os vemos como a nossa fonte inesgotável de segurança, aqueles que jamais vamos ver em situações de vulnerabilidade. Deste modo, acabamos por não prestar atenção às dificuldades que a vida vai impondo às pessoas, à medida que envelhecem. Sobretudo, quando estas gerações presenciam mudanças radicais nos ramos de ciência e tecnologia. Tais mudanças alteram o comportamento e o modo de vida de uma sociedade, que não consegue explicar àqueles que cresceram e educaram-se em tempos sem “cliques e botões”. A comunicação falha e as gerações se afastam. Cresci com meus avós sempre presentes. Vivi com os avós maternos durante toda a infância e, depois, mudei para casa da minha avó paterna, de onde só saí, no final da Faculdade. Há pouco tempo atrás, minha família e eu não conseguíamos perceber que aquelas senhoras cheias de energia, pediam a nossa ajuda! Até que um dia, na casa de uma das minhas avós, começaram os desaparecimentos de objetos, o esquecimento de nomes, lugares, pessoas e também o aparecimento dos mesmos objetos em lugares inesperados. O diagnóstico veio rápido: Alzheimer. Minha família paterna rapidamente se mobilizou para realizar o tratamento. Com a doença em estágio inicial, nossa avó era ativa e fazia seus passeios como sempre gostou. No entanto, redobramos a atenção na sua rotina e foi então que percebemos a quantidade absurda de golpes em que ela caía todos os dias. Assinaturas de revistas, compras desnecessárias, cartões de loja e até mesmo empréstimos feitos sem necessidade. Descobrimos, mais tarde, que estas coisas aconteciam mesmo antes da doença se manifestar. Alguém neste mundo percebeu que esta falha na comunicação entre gerações, poderia ser “lucrativa” e resolveu abusar dos idosos para roubar-lhes. Esta foi apenas uma das situações humilhantes pelas quais vi meus avós passarem. Estes golpes quase sempre estão relacionados ao uso da tecnologia. São mensagens de celular, vendas de produtos, notícias falsas na internet e, até mesmo, ligações telefônicas com relatos de falsos sequestros pedindo dinheiro. Isto tudo me fez pensar em como me comunico com meus avós. Se tivesse tido a paciência de ouvi-los, prestado atenção em seus sinais de esquecimento, ou auxiliado no uso de tecnologias, poderia ter evitado muitas destas situações. Trata-se de envelhecer com dignidade, sem ser enganado ou roubado, em razão daquilo que desconhecemos, por não ter acesso. A garantia disto é uma responsabilidade da nossa geração. Precisamos aprender a ouvir a necessidade dos idosos, para que nossos filhos e filhas aprendam conosco e repitam estas ações no futuro.

Outro relato enviado a mim após a solicitação de opiniões e considerações foi o seguinte:

Oi Cris, boa noite. Espero que estejas bem, como sempre... Sorriso largo, olhos curiosos e interrogativos... Domingo eu continuo sendo da família. Sou conhecida na família por não abrir mão da reunião desse dia. Fazemos sempre uma retrospectiva da semana. Informal, mas tudo fico sabendo. Ou quase tudo... Mesmo com a pandemia, seguimos nos encontrando. Com inúmeros protocolos antes inexistentes. Pensei: se o vírus me pegar daqui há três meses, eu perdi esse tempo com a família e, na última hipótese, se eu morrer de COVID-19, vou ficar sem eles mesmo! Então, fizemos algumas combinações, como por exemplo: todos devem chegar de máscara, trazer outro calçado para usar dentro de casa e, ao chegar devem se dirigir ao banheiro, lavar as mãos com sabonete líquido, secar com papel toalha e, após, utilizar álcool gel. A roupa externa deve ser trocada. Eles toparam, então continuei fazendo lasanha, nhoques, e, no último domingo, fiz bolinho de batata. Estou vendo que virou uma carta... Mas, para que eu te dissesse o que penso sobre o texto, precisava te justificar o porquê não respondi no domingo... Assim, me conheces um pouco mais. Não foi descaso. Sobre o texto: muito legal, interessante, leitura fácil. Concordo plenamente com a pessoa que inicia sua resposta com a expressão "quem semeia ventos, colhe tempestades”. Só acredito em "abandono" para quem se abandonou. Há tanto para fazer e dizer à medida que o tempo passa, pois se vive e se sobrevive no cotidiano de acordo com o espaço que vamos ocupando e, principalmente, como ocupamos este tempo em diferentes espaços. Outro  posicionamento que me chamou a atenção foi aquela que compartilhou palavras de Cícero. Amei, pois vale para ela "conservar a sua ascendência sobre os familiares...” e, pra mim também. A questão da saúde precária é realmente muito delicada, porque há um desgaste físico natural que precisa de investimento. Sobre os golpes e os golpistas, acredito que, o que o idoso não concebe para si, ingenuamente, pode não ver ou não querer ver no outro. Por isso, acredita, faz e se desilude. No momento em que mencionas o Estatuto do Idoso fiquei pensando: quem leu e conhece? Quem tem acesso? Acho importante, indispensável ter projetos sempre. Sendo jovem ou idoso, o sonho revigora, alimenta, envolve e impulsiona. E saúde e autonomia são pilares que sustentam o idoso. Dinheiro não é só um detalhe; atualmente, é um condutor de saúde, desde a alimentação adequada até a rapidez no acesso ao médico ou medicamentos e a autonomia para ir e vir com independência. Tenho dúvidas se, “em teoria”, como vocês escrevem no texto, “o idoso ainda é considerado um ser frágil, às vésperas da morte”. Quando perde a saúde, principalmente a mental, aí sim. Mas, aqueles que não abandonaram projetos e sonhos, idoso ou não, pode ainda sentir a "ânima" funcionando, ou seja, em qualquer idade há "a dor e a delícia" de ser o que se é, sem esquecer que gentileza gera gentileza, respeito gera respeito, amor gera amor e quem semeia ventos, colhe sim, tempestades. Opinião dada. Abraço virtual.

E quanto ao tema? O que manifestaram em suas mensagens o grupo de pessoas para quem enviei nosso artigo? Uma das respostas recebidas foi:

Penso que a violência contra o idoso existe e não é por que ele "esteja colhendo o que plantou", como respondeu uma pessoa na pesquisa. A violência existe por que a maioria dos idosos é frágil, em sua força física, em seu poder de argumentar e se defender. É o desequilíbrio de forças entre os idosos e os  familiares e/ou cuidadores que enseja a violência física, psicológica, financeira. Eu, embora já considerada idosa, me mantenho ativa no trabalho, embora um pouco mais light. Graças a Deus, tenho saúde física e mental para gerir minha vida! Espero que por muitos anos... Infelizmente nossa cultura não ensina a respeitar os idosos, haja vista os comerciais e programas cômicos de TV em que são ridicularizados. Isso cria no imaginário do povo uma ideia de que o idoso tem menos valor, menos conhecimento ou sabedoria que os mais jovens.

Quando manifestou sua opinião, uma das pessoas referiu-se ao devir, a um projeto, um “inédito viável", um jeito mais digno e respeitoso de estarmos idosos e idosas. Leia:

Falarei acerca do impacto que o texto “60 anos ou mais: precisamos falar sobre violência!” de autoria de Cristina Maria Rosa e Cinara Postringer provocou em mim. Primeiro pensamento: sou idosa! Pensamento posterior: como me sinto como idosa? Não me sinto idosa e isso passa longe de negar minha situação geracional ou não querer assumir a idade que tenho. Coloquei-me a pensar quem represento como pessoa “idosa”. Mulher de determinada classe, situada em uma etnia cultural, com determinado posicionamento político, de gostos e desgostos. Independente financeiramente, apesar do salário de professora. Ativa no mundo do trabalho. Com saúde física e mental (acho). Bem resolvida nas afetividades. Amante de várias linguagens artísticas. Enfim, sei que faço parte, estatisticamente, da polução idosa, mas sobre qual idoso e ainda mais, idosa, estamos falando? Infelizmente, pareço estar fora de um tipo predominante de idosa no Brasil, país que ainda não tem uma política pública, tampouco uma cultura bem instituída para a valorização desta etapa da vida. Reconheço que, muitas vezes, esta fase geracional chega com muitos impasses e problemas de toda ordem, alguns, inclusive, relatados pelas autoras. Entendo que, em grande parte, a violência nesta fase pode ser tão sútil que sequer a reconhecemos como tal, concordando, dessa maneira, com a referência de Jane Felipe acerca da "violência benévola", citada pelas autoras. Sem dúvida, temos de lutar para instituir um jeito mais digno e respeitoso de estarmos idosos e idosas. Talvez este seja um projeto de "inédito viável".

Outra de nossas fontes enviou um agradecimento pelo envio da matéria e discutiu alguns das afirmações ali contidas. Leia:

Em primeiro lugar gostaria de agradecer o compartilhamento da escrita. Uma delícia ler o resultado de um trabalho que deve ser gratificante, pois trata-se de tema bastante presente e emblemático em nossa sociedade. Triste realidade! Se aqui estamos é porque algum idoso nos antecede ou antecedeu. Mas, meu olhar também teve uma posição crítica. Permita-me discordar desta frase “Usar a tecnologia disponível não é mais segredo para esse grupo geracional que já não fica à margem quando se menciona celulares e notebooks, contatos virtuais e lives”. Discordo do termo “usar”, pois traz certa generalização e, penso, deve ser relativizada. É sabido que a existência das tecnologias não é segredo, mas o uso, sim. Minha experiência diz que ainda é um fator limitador, e bastante grande. Enfim, este fato deve evitar a generalização e ser suavizado ou dito com outras palavras, em minha opinião.

Observando o impacto do texto em pessoas que tem profissões interessares e que ainda não são idosas, vale destacar duas opiniões recebidas:

Li o texto. Fez-me pensar em exemplos de pessoas que estão na “melhor idade”. O texto é muito bom, provocativo e delicado ao mesmo tempo. Ser idoso, estar na fase da vida em que, de certa forma, deveria ser agradável, para a grande maioria não é possível. Penso que é um grande tabu planejar e pensar na velhice. Nesta etapa da vida, carregada de preconceitos, aparecem as limitações. A violência caminha ao lado do idoso. Na verdade, está sempre próxima da fragilidade.


Olha que tema legal. Este tipo de estudo me interessa. Como Assistente Social, vivencio muito a negligência, o abandono afetivo e material. Atuo, nesses casos, junto à família, para que os mesmos despertem a consciência legal de que, em primeira instância, a responsabilidade pelo idoso é dos filhos. Às vezes, resolve, noutras não. Então, temos o segundo momento: levar o caso ao conhecimento do MP. Este, sim, atua e muito. A força da lei requer atitudes, ações para o bem estar desses idosos.

Por fim...
Abordar esse tema, as violências contra os idosos foi uma iniciativa que, inicialmente, não imaginei tão profícua. Convivo com idosos desde sempre e cultivo memórias dos que me antecederam, educando meu filho a olhar para trás e amar os nossos, ouvindo-os. Mas, tive o privilégio de ser escolhida como professora de um grupo que, desde março de 2018, cultivo. Já estudamos e rimos juntos, viajamos e nos alimentamos. Já nos emocionamos e flanamos. Juntos.
Agora, nesse tempo de estar em casa, tomei para mim o compromisso de não permitir que eles me esqueçam. Envio áudios com poesias e primeiras páginas de livros e pergunto se gostaram. Não aceito o desaparecimento de um ou outro do grupo. Em síntese, pretendo ser idosa. Pretendo ser cuidada, se não mais conseguir por minhas próprias forças. Pretendo ser amada. Pretendo ser lembrada. E estou plantando uma floresta. Acredito que, assim, poderei receber meu filho.  E netos, caso eu os tenha. Na falta deles, pretendo receber quem for lá. Será uma velhice bem interessante: com livros, árvores e amigos.
Agradecer
Agradeço a todos que, ao manifestarem-se, atribuíram confiança a nossa pesquisa e, ao ler os resultados de nosso artigo, me enviaram suas palavras. O PET Educação, que aqui represento, tem se preparado para intervir, com projetos educativos e literários em trajetórias de vida de pessoas aos 60+. Assim, esses textos são parte da aquisição de condições de trabalho e sensibilidade para sermos mais e melhores e disponibilizarmos, de forma gratuita, os saberes produzidos na Universidade.
Obrigada!




[1] Atuo frente a um grupo de estudantes 60+ desde março de 2018, ofertando disciplinas vinculadas à UNAPI. Nas aulas de Literatura, pude conhecer, através de observações, relatos e situações, pequenas ou grandes investidas da violência contra uma ou mais personagens que por ali circularam.
[2] Decidi manter sigilo sobre as identidades de quem se manifestou. Algumas solicitaram; outras permitiram publicação de nomes e profissões. Para evitar diferenças de tratamento entre as fontes, optei por explicitar apenas o conteúdo das mensagens recebidas.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Invisibilidade: uma das marcas dos 60+


Dependência econômica e motora, abandono afetivo e emocional e invisibilidade: elementos que levam à depreciação dos sujeitos quando os cabelos embranquecem...

Cristina Maria Rosa
Cinara Postringer

Diante da população que envelhece no Brasil como um todo e no RS em particular, é preciso discutir um tema extremamente delicado que diz respeito às violências cometidas contra os idosos. Diante da proximidade do dia 15 de junho – Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa – nós, do PET Educação[1] dedicamos parte de nosso tempo a buscar compreender como a violência é sentida por quem têm 60 anos ou mais.
É importante referir que a idade que define quem é um idoso no Brasil é um marco técnico, pois, culturalmente, pessoas com 60 anos ou mais podem tem uma vida muito ativa, com saúde, trabalho, relações pessoais intensas e afetuosas. No ano 20 do Século XXI, há melhores condições de vida, alargamento das expectativas de longevidade e os mais velhos são, em parte considerável das famílias, os maiores provedores. Usar a tecnologia disponível já não é mais segredo para esse grupo geracional. Parte considerável não fica à margem quando se menciona celulares e notebooks, contatos virtuais e lives.
Com intensa convivência com familiares longevos e valorizados culturalmente, Cátia Vighi pensa que “a existência das tecnologias não é segredo, mas o uso, sim”. A Doutora em Educação que atua na zona rural de uma grande cidade do Rio Grande do Sul ponderou que apesar de conhecer, idosos ainda apresentam limitações no uso das novas tecnologias, o que aprofunda as diferenças geracionais.
Para Marlise Flóreo Real, que atua como Psicóloga Clínica há 40 anos em Pelotas, há um abissal espaço entre o mundo dos jovens – que trabalham, tem a palavra, a posse dos netos, o uso do tempo, o comando dos afetos, o poder do deslocamento e da presença na vida de seus genitores – e a imobilidade e dependência dos idosos que, mesmo economicamente independentes, estão em condição de desigualdade.
Dependência econômica e motora.
Abandono afetivo e emocional.
Invisibilidade.
Esses e outros são os elementos que levam à depreciação dos sujeitos quando os cabelos embranquecem...
Violência: precisamos saber o que é isso...
Pesquisadora reconhecida por seus trabalhos sobre a violência contra mulheres e crianças, Jane Felipe[2] denuncia: “ao ridicularizar ou mesmo ignorar a pessoa idosa, pratica-se maus-tratos emocionais”. Para a docente titular aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, isso se deve à sociedade em que vivemos, que “menospreza as pessoas que vão envelhecendo”. Tidas como “obsoletas, incapazes para o exercício de determinadas tarefas”, o “mercado de trabalho se fecha para elas”. A professora acrescenta que:

“Tanto no círculo familiar quanto em muitos veículos de comunicação, as pessoas idosas são retratadas como lentas, atrapalhadas, ingênuas, carentes demais. Em propagandas ou programas de TV, muitas vezes elas são colocadas como aquelas pessoas que estão prestes a fazer alguma besteira ou se fazem presentes para dar um ar engraçado para a peça publicitária, como no caso das velhinhas que entendem de tecnologia. Tudo isso pode resultar em um sentimento de baixa autoestima e uma sensação de ser um estorvo na vida dos familiares” (FELIPE, 2020).

O que é a violência? E violência contra idosos, o que é? Como ela se manifesta? Como ela começa? E quando? Como se proteger? E se o agressor for um familiar? Um cuidador? E se for o cônjuge? Um filho ou uma filha? Um genro ou uma nora? Se for um neto ou uma neta?
Como observar, reconhecer e reagir a abuso emocional, assédio moral, maus tratos emocionais, violência benévola e agressões físicas? Como circunscrever e conceituar o universo da violência contra os idosos?
Para conhecermos o tema a partir de pessoas reais, demos início a uma pequena enquete a partir de dois grupos de pessoas: os 60+ e os 30-. Imaginávamos que esses dois segmentos geracionais teriam muito a nos dizer. Um por estar vivendo as dores e as delícias de ter chegado a essa idade e estar trabalhando e/ou em grupos de convivência. O segundo grupo, integrado por estudantes universitários por, supostamente, possuir o direito a pensar em suas velhices, planejando-as desde agora. Então, no dia 26 de maio de 2020, escrevemos a todos perguntando: “O que consideras violência contra a pessoa idosa?”. Após recebermos muitas mensagens, elaboramos um “rascunho” e o submetemos a pessoas que, a partir de seus olhares muito particulares, contribuíram com opiniões, depoimentos e considerações. Essas ponderações foram incorporadas à escrita final.

Algumas respostas
Raro entre os 60+ que responderam a demanda acima foi a posição de que o idoso é um cidadão que colhe hoje, o que “plantou” em toda a vida. Apesar disso, essa resposta foi uma das recebidas. Leia:

“Quem semeia ventos, colhe tempestades. Acho que, basicamente, é um problema de afeto. Não adianta ver o ‘agora’, tem que ver o todo. Não vai ser amado um idoso que não amou, que não foi atencioso e cuidadoso com seus familiares. Legalmente, não podemos matar quem não amamos, mas existe uma morte emocional e, acho, que é o que mais acontece”.

A maior parte dos idosos que respondeu manifestou-se dizendo que o abandono é a principal violência, indicando que a solidão os afeta profundamente. Leia um dos depoimentos:

Acho que a violência contra o idoso vai além dos maus tratos. A violência psicológica, o abandono, a violência financeira são alguma delas. Muitas vezes a renda do idoso é o sustento da casa não sendo usado para o seu bem estar. O próprio “não” para tudo é uma violência: nada pode, não tem direito, não tem condições.

Uma das pessoas que respondeu compartilhou palavras de Cícero, um pensador estudado em aulas de Filosofia que a UNAPI[3] ofertou. Ela escreveu: “A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seu direito, não deixa ninguém roubar-lhe seu poder e conserva sua ascendência sobre os familiares até o último suspiro”. Recebeu elogios de alguns da turma. Em resposta, escreveu: “Lemos nas aulas de Filosofia, na época da UNATI e fiquei fã do cara! Ele é de antes de Cristo! Nem dá para imaginar pela atualidade de pensamento. Recomendo que leiam, é ótimo!”. Mas o embate entre gerações também foi mencionado como violência:

Uma das violências à pessoa idosa é não dar voz a pessoa, é demonstrar que ela está ultrapassada, que a juventude é que está certa e toda a sabedoria do idoso e sua experiência não tem valor nenhum.

E os filhos e familiares mais próximos não foram poupados:
Violência contra a pessoa idosa começa muitas vezes em casa, onde são maltratados, não podem dar mais opiniões, ninguém escuta mais, velho é ultrapassado, peça de museu. Idosos são exploradas pelos próprios filhos, nos ônibus ninguém dá lugar e, nas filas de banco, ficam recriminando os velhos.

A noção de violência se alargou e se intensificou nos depoimentos desses dois idosos:
Violência contra os idosos pode ser abandono, abuso financeiro, físico, psicológico e sexual. Pode ser, também, maus tratos, que é o mais grave, porque afeta o psicológico. A maioria das agressões contra o idoso são os próprios familiares ou cuidadores. O idoso merece respeito, dignidade e muito amor.

Sem falar em violência física, que é inadmissível em qualquer fase da vida, o abuso imposto por familiares ou cuidadores quando se apropriam de sua renda, alegando que o idoso é incapaz de gerir seus bens, acho que é muito triste e até comum aqui no Brasil.

Mas o abandono da família, ter saúde precária ou, então, falta de acesso a um sistema de saúde mais protetivo, bem como a incerteza do amanhã, mobilizou parte considerável das opiniões. De posse dessas considerações, pudemos entender que sim, os idosos sabem bem o que é a dor. E sabem, também, se manifestar acerca dela.
Convidada a manifestar o que pensa da violência contra idosos, a pesquisadora Jane Felipe, que possui interessantes publicações sobre maus tratos emocionais, foi enfática: “os idosos e as idosas estão sujeitos/as a vários tipos de violência, dentre as quais podemos destacar a violência benévola”. Instada a conceituar, a pesquisadora escreveu:

“Consiste em um tipo de violência disfarçada de proteção. Ela ocorre quando insinuamos, por exemplo, que eles/as não têm mais competência para gerenciar a própria vida ou ainda quando nos dirigimos a eles/as em um tom infantilizado, como se não fossem capazes de entender algo. É bem verdade que em alguns casos, por conta de determinadas patologias, vão ocorrendo perdas de memória, algumas confusões e fragilidades que precisam ser olhadas com a devida atenção. No entanto, em muitos casos, os idosos estão bem conscientes de suas vidas e ainda são capazes de tomar decisões, se quem haja necessidade de monitoramento por parte dos/as filhos/as ou familiares”.

Vários idosos ouvidos mencionaram golpes aplicados por pessoas inescrupulosas, que de acordo com Jane Felipe, “se aproveitam do fato dos/as idosos/as se sentirem um tanto ‘abandonados/as’ pelos filhos ou por terem um sentimento de rejeição, por conta dos maus-tratos emocionais sofridos”. E acrescentou: “Muitos desses golpes têm por objetivo tirar proveito financeiro das pessoas mais velhas, em geral com alguma renda ou patrimônio”.
Envolvida desde sempre com questões que problematizam as questões das mulheres na sociedade, Jane Felipe acrescentou uma interessante reflexão que diz respeito às mulheres que têm 60 anos ou mais:

“Em especial as mulheres com mais de 60, são alvo preferencial de golpes pela internet em redes de relacionamento, por serem divorciadas ou viúvas. Muitas delas aprenderam que só seriam felizes se estivessem com um homem pra chamar de seu, como apontou a pesquisa de Miriam Goldenberg. Tal ideia de completude e de idealização da família e do casamento podem levar mulheres dessa geração – a partir dos 60 – a serem alvos fáceis de golpistas interessados em se aproveitar do patrimônio delas ou mesmo parentes que tentam se apropriar da parca aposentadoria de muitas pessoas idosas. Tais ações devem ser denunciadas, como mostra o estatuto do idoso”.

Para a advogada Martha Dias, “legalmente idosa” e que se mantém ativa no trabalho, tem saúde física e mental para gerir a própria vida, “a violência contra o idoso existe porque a maioria dos idosos é frágil” no que diz respeito à “força física” e ao “poder de argumentar e se defender”. Acredita que o “desequilíbrio de forças entre os idosos e os familiares e/ou cuidadores é que “enseja a violência física, psicológica, financeira”. Consultada sobre o tema, ela escreveu:

“Infelizmente, nossa cultura não ensina a respeitar os idosos, haja vista os comerciais e programas cômicos de TV em que são ridicularizados. Isso cria, no imaginário do povo, a ideia de que o idoso tem menos valor, menos conhecimento ou sabedoria que os mais jovens. Considero necessário esclarecer e refletir sobre este assunto tão importante”.

Jovens e a velhice
E os jovens? Eles sabem o que significa envelhecer? Tem algum projeto para suas velhices? O que almejam “ser” quando lá chegarem? Será que desejam  envelhecer? Dispostas a descobrir respostas e essas nossas dúvidas, escrevemos a eles no dia 27 de maio, indagando o que consideram violência contra a pessoa idosa?
E as repostas foram: “... maus tratos, o abandono e a negligência de ajuda...”; “... pode ser expressa por preconceitos, negligências e também o descaso com questões como acessibilidade, saúde e segurança específicas para essas pessoas”; “... todos os atos que possam ferir física ou psicologicamente os mesmos, como: abandono, negligência, agressão física, entre outros”; “... desde aos maus cuidados de familiares até negligências públicas”; “... abusarem da condição de pessoa idosa para lucrar financeiramente, seja no ambiente familiar ou empresas”.
Mas, o mais interessante entre esses jovens depoentes adveio da pergunta: “Vocês desejam envelhecer? Como? Descrevam a velhice sonhada, desejada”. Eles foram enfáticos:

Sim, desde que seja com saúde e não precisando depender de ninguém para cuidados básicos.

Desejo envelhecer saudável e próxima da minha família e amigos.

Quero envelhecer, sim. Quero ter uma conclusão de vida. Quero envelhecer feliz, realizando meus sonhos e ir ajudando quem puder com o que tiver de experiência. Mas tendo saúde e dignidade.

Eu envelheço a cada segundo. Ficar bem velhinha é uma preocupação por conta das dificuldades que os idosos passam. Mas quando eu chegar à velhice mesmo, eu espero que até lá seja uma pessoa sábia e de bem com a vida. Quero envelhecer fazendo o que eu gosto, aproveitando a vida...

Quero envelhecer bem comigo e com os outros. Com alguns sonhos realizados e realizando outros. Envelhecer e viver bem com meus amigos e família, aproveitando cada momento da melhor maneira! Sempre fazendo o que eu gosto e aberta para novos olhares e mundos!

Desejo envelhecer de preferência em um país com um governo e governantes que respeitem a vida humana.

Eu espero envelhecer me sentindo em paz com a pessoa que me tornei e com os vínculos que criei durante a vida. Espero, também, poder ter o máximo de autonomia e me sentir segura, respeitada.

Observando essas declarações, percebe-se que os jovens estudantes têm uma ideia bastante idealizada da velhice e do envelhecer. Quem não deseja ter saúde física e mental? Quem não deseja estar com seus familiares, amigos, amores quando estiver mais frágil?
No grupo de retornos recebidos, no entanto, uma das jovens estudantes respondeu: “Não tenho certeza se desejo envelhecer. Tenho medo de envelhecer doente e acabar precisando de cuidados. Caso envelheça, gostaria que fosse com uma boa saúde, tanto física quanto mental”.
Envelhecimento ideal para os 60+:
Idosos conhecem, desfrutam e ainda projetam um "envelhecimento ideal”, uma “velhice dos sonhos”? É possível planejar a velhice? Uma vez planejada, há garantias de que os planos serão plenamente vividos? Para Regina Farias, avó de João Vicente, “planejar e pensar na velhice é um grande tabu”, pois, é “nesta etapa da vida, carregada de preconceitos” que “aparecem as limitações”. Pedagoga que exerceu a profissão desde jovem, ao ler o texto Regina ponderou que a violência contra os seres humanos “está sempre próxima da fragilidade” e, nos caso dos 60+, “caminha ao lado do idoso”.
Interessadas em provocar nosso grupo de interlocutores – pessoas aos 60+ e alunos da UNAPI – a pensar sobre essa questão, enviamos uma pergunta através de uma rede de contato. E as respostas vieram...

Envelhecimento ideal é aquele em que o idoso tem atividades físicas e emocionais que o torne útil. Que não se sinta incapaz ou um entrave na sociedade. E se, por acaso, tenha alguma doença, que tenha o tratamento e o cuidado adequados. Que sinta que é amado, respeitado e essencial à harmonia e ao bem estar da família.

O envelhecimento ideal é aquele que o idoso tenha saúde. Tratamento com qualidade e atividades para melhorar a autoestima. Ser uma pessoa alegre, divertida... E que sua família lhe dê assistência, com muito carinho e amor.

O envelhecimento ideal decorre de uma construção de vida. Independência financeira em primeiro lugar, afetos bem estabelecidos e liberdade de escolhas.

O envelhecimento ideal é aquele onde o idoso recebe afeto, amor, carinho, dedicação e respeito.  Tratamento com qualidade de vida e assistência médica

Ter saúde, independência financeira e afetos verdadeiros são imprescindíveis para um envelhecimento ideal.

O ideal é envelhecer mantendo a capacidade funcional, a autonomia, a dignidade e tendo os seus direitos respeitados.

O “envelhecimento ideal” seria um conto de fadas, fugindo da dura realidade. Sonhar que quando você envelhecer, tudo ou quase tudo, conseguirá. Saúde, se você se cuida, terá 80 a 90 % de uma saúde ideal; carinho, amor e uma família que esteja sempre junto nas horas boas e ruins; dependendo do meio que você construiu, dinheiro é um detalhe, você vai sempre depender dele e, se não tem, não existe qualidade de vida.  Por acaso SUS é exemplo de qualidade de vida? Então, amor, carinho e a dedicação de seus familiares é a única certeza que não ficaremos sozinhos. Mas há controvérsias. Desculpem, mas é a realidade!

Envelhecimento ideal é estar com saúde. Fazer atividades físicas, manter a qualidade de vida e aprender a viver com aposentadoria que, cada vez, se torna menor. É conviver com boas amizades...

Acredito que seja ter uma vida saudável em alimentação, saúde, exercitar-se na medida do possível e o convívio com a família.

Para ter um “envelhecimento ideal” no meu entender, é preciso cuidar principalmente da saúde mental e psicológica, só assim estaremos preparados para enfrentar a velhice com sabedoria e sermos felizes.

Finalizando
De acordo com o IBGE (2020), aqui no Rio Grande do Sul temos uma tendência bastante intensa de produzir cidades com muitos idosos, sem necessariamente termos pensado e planejado tal fenômeno. Um dado interessante é também um marco: o dia 7 de outubro de 2019 representou “uma virada demográfica”, pois, nessa data, o número de gaúchos com 60 anos ou mais passou “a ser maior do que o contingente de crianças e adolescentes de zero a 14 anos” (CIGANA, 2019). Segundo reportagem de Caio Cigana (2019) o “fenômeno do amadurecimento da população é resultado da queda do número de filhos por mulher no país nas últimas décadas, combinado com a longevidade cada vez maior”. O jornalista informa[4] que essa “tendência global” vem “ocorrendo de forma mais acelerada do que em nações ricas” e, no Rio Grande do Sul, “em um ritmo mais veloz do que a média nacional”.
Abordar esse tema, a violência contra o idoso – em teoria, um ser frágil, às vésperas da morte – já não se limita a olhar os nossos familiares, os nossos sonhos e desejos. Implica observar como essa idade geracional relaciona-se econômica e culturalmente com as demais, em sociedade. E, portanto, o fenômeno da violência extrapola o ambiente doméstico – nossas casas e arranjos familiares – os espaços das clínicas de repouso e dos hospitais, tornando-se pauta para o poder público e a sociedade como um todo.
Agradecemos a todos que, ao manifestarem-se, atribuíram confiança a nossa pesquisa. Queremos, publicamente, elogiar a maturidade expressada quando partilharam conosco denúncias, sonhos, projetos ou, “a dor e a delícia” de ser o que se é.
O PET Educação, que aqui representamos, tem se preparado para intervir, com projetos educativos e literários em trajetórias de vida de pessoas aos 60+.
Especialmente a eles dedicamos nosso cuidado e interesse.
Obrigada por integrarem nossas vidas, com sua atenção, receptividade e alegria de viver!


[1] Programa de Educação Tutorial financiado pelo MEC no qual um grupo de doze estudantes de graduação em Pedagogia são tutoriados por uma docente e orientados pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. No Brasil, atualmente há 842 grupos PET em 121 IES.
[2] A Professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisadora Jane Felipe concedeu entrevista ao PET Educação em 04 e 05 /06/2020. Seu currículo e publicações podem ser acessados em: http://lattes.cnpq.br/2330159133166922. Agradecemos profundamente à professora.
[3] Universidade Aberta para Idosos. É um dos programas estratégicos da UFPel desde 2016.

Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

Arquivo do blog