Um projeto a ser desenvolvido
Cristina Maria Rosa
Inscrevi e meu trabalho foi aprovado para apresentação no VIII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, a ocorrer em setembro de 2022.
O título escolhido foi: DIREITOS DAS CRIANÇAS EM OBRAS LITERÁRIAS: UM ESTUDO EM ACERVOS.
O Eixo Temático no qual filiei meu resumo expandido foi: A Produção de Pesquisas sobre Infâncias, Gênero e Sexualidade na Educação Cristina Maria Rosa
Quer conhecer? Leia o resumo expandido que enviei aos organizadores:
Resumo: Objetivo conhecer e analisar o grupo de obras literárias para a infância existente na Biblioteca da FaE/UFSC, no acervo do @literalise (UFSC), na Biblioteca da FACED/UFRGS e no acervo do projeto “Quem quer brincar?”. O foco é compor o rol de obras que subsidiam a formação de docentes e, de maneira explícita ou implícita, tratem de personagens e/ou enredos vinculados aos direitos das crianças pautados no Estatuto da Criança e do Adolescente. Ler todas as obras pertencentes aos acervos, selecionar as mais relevantes no que tange aos temas das linhas de pesquisa e analisá-las criticamente é o caminho metodológico escolhido. A análise documental é preponderante para a configuração de um rol de obras a serem acionadas na formação de professores, bibliotecários e gestores escolares.
Palavras-chave: Infâncias; Literatura; Direitos das crianças; ECA;
Formação de professores.
INTRODUÇÃO
O processo de produção de conhecimento sobre a educação das
infâncias, suas especificidades no campo educacional relacionadas às práticas
pedagógicas, à formação docente e às políticas educacionais integram os
currículos das Licenciaturas em Pedagogia. Assim, é preponderante que saberes
inseridos em artefatos culturais tombados em bibliotecas ou grupos de estudo –
livros literários direcionados à infância – sejam conhecidos e analisados
criticamente. Acionados ou não por professores, bibliotecários e gestores,
constituem um excelente banco de textos para um estudo documental. No estudo
descrevo e analiso o grupo de obras literárias para a infância existente em
acervos que, de modo direto ou indireto vêm se incorporando na formação 1
Doutora em Educação. Docente na Faculdade de Educaçãi da Universidade Federal
de Pelotas - UFPel, cris.rosa.ufpel@htomail.com de professores, bibliotecários
e gestores escolares. O foco é conhecer a quantidade e qualidade dos títulos
que, de maneira explícita ou implícita, apresentem personagens e/ou enredos
vinculados aos direitos das crianças – à vida e à saúde; à liberdade, ao
respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; à educação, à
cultura, ao esporte e ao lazer; à profissionalização e à proteção no trabalho –
pautados no Estatuto da Criança e do Adolescente. Estudos sobre Infâncias,
desde um bom tempo, incluem conhecer e dar a conhecer questões de gênero,
sexualidade e violências, uma vez que incidem diretamente no tema dos direitos
das crianças pautados no Estatuto da Criança e do Adolescente. Questões como
“Quais os títulos que integram essas coleções? Eles podem ser acionados quando
da formação de professores no que tange aos estudos dos direitos das crianças?
Eles podem ser considerados artefatos que dão suporte à formação de professores
no que tange aos temas gênero, sexualidade, etnia, educação, em suas múltiplas
e complexas articulações com a educação na escola? Quem são seus autores? A que
gênero pertencem estas obras? Quais as políticas de aquisição e manutenção
destes acervos?”, orientarão meu estudo. A análise destes artefatos culturais
datados e públicos, aos quais dedicarei um olhar crítico – que inclui critérios
como literalidade, longevidade e atualidade – resultará em um documento que
pode vir a orientar não apenas a formação docente nas licenciaturas, mas,
também, políticas de aquisição, manutenção e atualização de acervos.
METODOLOGIA
Conhecer acervos literários que podem ser relacionados com os
direitos das crianças é fundamental para ampliar e qualificar o repertório de
qualquer professor. Estudar os direitos das crianças na literatura é abordar o
tema de forma científica e lúdica e o propósito se adequa ao grupo de estudos
que coordeno e traz benefícios na atuação profissional. O potencial
epistemológico de obras literárias extrapola a ficção e evidencia os limites do
humano na história. Como estratégia de pesquisa, pretendo identificar gêneros,
autores, épocas e quantidade de títulos vinculados ao tema, explorar as
potencialidades dos bancos e o ferramental tecnológico para o tratamento dos
dados. Além disso, avaliar as principais tendências no trato do tema nas obras,
estabelecer um destino para a produção dos resultados e criar um modo de
categorização e publicização dos achados. Por fim, busco compor uma lista de
obras que sirvam como referência para a formação de professores além de
observar se há algum tema/direito negligenciado nos acervos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Os “direitos das crianças” estão catalogados desde 1990 no Brasil.
Conhecido como ECA (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990), é o marco a partir
do qual toda, ou quase, ação de adultos com crianças pode ser observada,
valorada, mantida ou execrada. Ao dispor “sobre a proteção integral à criança e
ao adolescente”, na lei encontramos o que significa “criança”: “[...] a pessoa
até doze anos de idade incompletos”. Na lei, também, a afirmação de que estas
“gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana”, inclusive
“[...] todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade”. E a quem cabe garantir esses direitos? Para a lei,
“é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária”. (ECA, 1990). A “garantia de prioridade”
compreende a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias, a precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública, preferência na formulação e na execução das políticas
sociais públicas e destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância. Os direitos – à vida e à saúde; à
liberdade, ao respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; à
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; à profissionalização e à proteção
no trabalho – foram impressos em uma “edição popular” com o intuito de torná-lo
acessível a escolas e entidades de atendimento e de defesa dos direitos da
criança e do adolescente. É o que está expresso no Art. 265 do Estatuto da
Criança e do Adolescente: “A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público Federal, promoverão edição popular do texto integral deste
Estatuto, que será posto à disposição das escolas e das entidades de
atendimento e de defesa dos direitos da criança e do adolescente”. Questões
como sexualidade da/na infância passaram a integrar os estudos educacionais
desde algum tempo. Para Jane Felipe, o conceito de scripts de gênero deve ser
compreendido como roteiros, definições, normas, apontamentos, que a sociedade
tenta impor a meninos e meninas, homens e mulheres. Quando tais scripts são
ignorados ou rompidos – lembrando que eles podem sempre ser modificados -, a
sociedade que se pretende hegemônica pode impor sanções, promovendo
discriminações àqueles/as que ousam romper, modificar ou mesmo escrever seus
próprios scripts (FELIPE, 2018). Papéis culturais, sexuais, comportamentais,
previamente definidos e rigidamente impostos – os scripts – tolhem os direitos
das crianças na escola e fora dela. Através de suas publicações, Felipe tem
instigado outros pesquisadores a pensar que, ao mesmo tempo em que aparatos
jurídicos são constituídos para preservar a integridade física, moral e social
das crianças e, também, para combater práticas de pedofilia, há,
contraditoriamente, um significativo investimento em práticas corporais que tem
propiciado a erotização e o “consumo” de corpos infantis. Tais processos
culturais e sociais de investimentos nos corpos, diante do seu crescimento e da
sua proliferação, têm repercutido, também, em pleno meio escolar, assim como em
plataformas digitais e sites de redes sociais. Por isso, os estudos culturais
que os evidenciaram integram a formação docente e, atualmente, constituem parte
preponderante no que conhecemos como direitos das crianças. De uma infância
nascida no início do Século XX, no Brasil, passou-se a uma infância
escolarizada e legal e, ao fim do século, relevante economicamente, plural
culturalmente, auditiva, visual e digital, impossível de ser ignorada. É assim
que surge “infâncias”, termo mais adequado para observar e categorizar a
presença concomitante de modos de existir nessa também idade geracional. Por
adulta, a sociedade não deixou de registrar, reconhecer e tentar pautar essa
mesma infância, afinal, reconhece nela o futuro, não apenas de espécie, mas,
sobretudo do que considera adequado: os scripts. E por inteligente, a
Universidade e nela, grupos de intelectuais, defrontaram-se com este fenômeno –
a presença intensa de infâncias – em escolas, bibliotecas e cinemas, mas,
também, em ruas, na noite, no trabalho, à margem. ACERVOS E REPERTÓRIOS
LITERÁRIOS Inicialmente semelhantes, os dois termos referem-se a “um grupo de”.
Acervo pode significar “grupo selecionado para a um fim” ou, “conjunto alocado
em um local fixo ou digital” e ainda “coleção de uma pessoa ou local”,
repertório é mais amplo e pode ultrapassar a memória do portador, uma vez que
não é preciso "ter" para conhecer. Repertório é o conjunto único,
repleto de emoções e informações que tornam livros, autores, tramas, desfechos,
gêneros – um grupo, portanto – os nossos prediletos. Um repertório é aprimorado
com ritos, modos, jeitos de ter e manipular os impressos, incrementado com
dados sobre o valor social desta ou daquela obra e acrescido da rede de
relações que o conhecimento de uma obra/autor/gênero gera entre a comunidade de
leitores. E se torna pleno quando oportuniza “dobrar-se sobre si mesmo e
estabelecer uma prosa entre o real e o idealizado” (Queirós, 2009). Repertório
é, também, um grupo de informações literárias formado ao longo do tempo em que
utilizamos o artefato e seu conteúdo: a literatura. No caso de repertório
literário, é o conjunto de experiências literárias que consideramos
imprescindíveis para o letramento. Assim, desde o primeiro contato com o livro
e seu significado até a escolha por gêneros e autores há um longo processo de
alimentação do que se conhece por repertório. Ele é infinito, nem sempre
passível de ser descrito, mas reverbera em nossa vida para sempre. Acervo, por
sua vez, é o grupo de obras que uma pessoa, família ou local – livraria, sebo,
biblioteca, entre outros – possui. É um grupo nomeado, quase sempre organizado,
que integra a biblioteca de alguém ou de um local como escolas e universidades.
Pode ser real (material, impresso, físico) ou virtual, quando só está
disponível para consulta online. O acervo refere-se a um grupo delimitado,
finito, que tem regras de uso e acesso. E pode, ainda, ser representado por um
catálogo de uma editora, um grupo de obras referentes a um tema, as referências
utilizadas em um trabalho científico. Pode se modificar infinitamente em termos
de quantidade e ser acessado por todos, idealmente, ao mesmo tempo. Um acervo
literário pessoal é composto por obras escolhidas, dentro de um recorte
temporal, e pode ser completado por herdeiros, ou seja, acrescido de outras
obras, infinitamente. Ao lidar com um acervo é necessário atributos do
repertório literário que tenho – os modos de ter e manter, por exemplo – para
utilizá-lo. O QUE E POR QUE LER: CRITÉRIOS... Ao escolhermos uma obra a ser
lida para crianças, um grupo de critérios precisam ser considerados: autoria,
gênero, ilustrador, quantidade e qualidade do texto e até temas que podem
desencadear indagações e diálogos acalorados. Critério significa
"julgamento" e pode ser entendido como juízo, discernimento ou mesmo
a opinião de uma pessoa. É uma condição subjetiva que possibilita optar,
escolher e, por isso, por definir nossas escolhas, é considerado um juízo de
valor. Juízos de valor podem ser pessoais, mas não os empregamos apenas no
âmbito pessoal. Se os utilizamos para julgamentos de questões que extrapolam
nossas vidas privadas, devem ser considerados no tanto que implicam nas vidas
dos demais. Assim é com a escolha de um livro a ser lido para crianças, pois os
adultos precisam saber defendê-lo, ou seja, evidenciar a relevância de tal obra
na formação de crianças. No caso da escola, mais aprimorados ainda devem ser os
critérios de escolha do que ler aos pequenos; RESULTADOS E
DISCUSSÃO
Ao demonstrar que “o saber literário compõe o conjunto de saberes
docentes ligados ao trabalho cotidiano em sala de aula, mesmo quando esse
trabalho não está diretamente ligado ao ensino de língua e literatura”, Graça
Paulino em Saberes literários como saberes docentes (2004), extrapolou as
formulações de Maurice Tardif e, por isso, tornou-se uma herança intelectual
potente. Atribuo a essas duas fontes teóricas, meus saberes mais atuais quando
preciso conceituar o que é um profissional da educação e um Pedagogo (ROSA,
2022). Um dos livros que integra o rol de adequdos ao tema é A história mais
triste do mundo, de Mário Cosro. Indisponível nos acervos selecionados, a
sugestão da pesquia será pela inclusão do memso. A ser complementada a partir
de 15 de junho de 2022, os demais resultados da pesquisa serão partilhados no
evento (setembro de 2022). CONSIDERAÇÕES FINAIS As escolhas de livros a serem
lidos envolvem gostos pessoais ou familiares e razões religiosas, éticas e
morais. Podem ser de qualquer tipo, pois implicam em uma dimensão individual em
que, supostamente, apenas o sujeito e sua família serão beneficiados ou
prejudicados. As escolhas públicas – na escola e para processos educativos –
implicam em uma dimensão para além do indivíduo, ou seja, envolvem os alunos de
uma classe inteira e até a escola como um todo, não esquecendo que o
conhecimento destas narrativas reverbera nas famílias das crianças que
frequentam a escola e atingem a sociedade como um todo. Assim, um juízo de
valor externado em uma escolha literária implica em, necessariamente,
considerar o impacto de nossas opiniões na vida dos demais, quando do exercício
profissional. Um professor não pode atuar sem ter critérios de escolha. Tê-los
é parte do conjunto de obrigações de sua docência, é um atributo da
professoralidade, uma vez que implica na formação literária das novas gerações.
Assim, escolher o que ler para as crianças extrapola o “gosto” pessoal e se
inscreve no rol de responsabilidades no que tange à formação de leitores de
literatura, pois um juízo de valor externado em uma escolha literária implica
em, necessariamente, considerar o impacto de nossas opiniões na vida dos demais
em sociedade.
REFERÊNCIAS
DURÃO, F. Reflexões sobre a metodologia de pesquisa nos estudos
literários. Disponível em: SCIELO/DELTA: Documentação de Estudos em Linguística
Teórica e Aplicada, 31(nspe.), 377-390. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/ByCvzBzKddTCjtTmDqFgkYy
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm
FELIPE, Jane Erotização dos corpos infantis. In.: LOURO, Guacira;
FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana (orgs). Corpo, Gênero e sexualidade: um debate
contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2007.
FELIPE, Jane. Scripts de gênero, sexualidade e infâncias: temas
para a formação docente. In: ALBUQUERQUE, Simone; FELIPE, Jane; CORSO, Luciana.
(org.). Para Pensar a Docência na Educação Infantil. Porto Alegre: Evangraf,
2018. P. 236-248.
PAULINO, G. Saberes literários como saberes docentes. Presença
Pedagógica, v.10 n.59, set./out. 2004.
QUEIRÓS, B.C. Manifesto por um Brasil Literário. FLIP. Parati, RJ,
2009. Disponível em: https://sinapse.gife.org.br/download/manifestobrasil-literario
ROSA, C. M. Pedagogia é arte, ciência ou nada disso? Disponível em:
https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2022/05/20-de-maio-mais-um-dia-na-pedagogia.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário