“Dar voz à criança” na pesquisa qualitativa: para além de métodos e técnicas, um compromisso epistemológico: foco do segundo texto indicado.
Cristina Maria Rosa
Qual texto? FERNANDES,
Natalia; SOUZA, Luciana França. Da afonia à voz das crianças nas pesquisas: uma
compreensão crítica do conceito de voz. Revista Brasileira de Pesquisa
(Auto)biográfica, v. 5, n. 15, p. 970-986, 11 out. 2020.
Resumo: A investigação com crianças é um campo em desenvolvimento que tem contribuído para enfrentar a invisibilidade das crianças quer como objetos quer como sujeitos de pesquisa, trazendo-as para o centro, a partir do argumento de que o seu estatuto de sujeitos ativos de direitos e de atores sociais exige um comprometimento metodológico e ético que respeite essa sua condição. A consolidação da ideia de que as crianças são consideradas como sujeitos legítimos nos processos de construção de conhecimento requer da parte dos adultos investigadores um comprometimento ético apurado que convoque de forma respeitosa as vozes das crianças, sem as deixar invisibilizadas na voz do adulto que as interpreta. Neste texto, mobilizaremos questionamentos sobre o conceito de voz e reflexões acerca dos contextos nos quais essas vozes são produzidas. De que modo são consideradas as relações de poder que as influenciam? De que modo são consideradas as alteridades de adultos e crianças na produção dessas vozes? A resposta a essas questões tentará situar o conceito de voz no campo das complexidades que atravessam a pesquisa com crianças, trazendo para o centro do debate a relação adulto-criança como uma dimensão estruturante das opções metodológicas e análises interpretativas decorrentes dessas escolhas.
Palavras-chave: Voz. Silêncio. Pesquisa
qualitativa. Crianças. Adultos.
Apontamentos:
1.
[...]Acolhendo visibilidade a partir de paradigmas de investigação
interpretativos e críticos, as investigações que consideram as vozes dos
sujeitos da pesquisa como fonte principal para recolha de informação têm
assumido uma significativa importância, sobretudo na área dos estudos da
criança, área a partir da qual sustentamos esta reflexão;
2.
[...] modos de produção de fala que são (ou não) assegurados às
crianças nas suas vidas em geral e nos processos de pesquisa em particular;
3.
[...] compreender a produção dessas vozes num determinado contexto
de pesquisa, a partir de uma leitura crítica reflexiva das relações de poder que
se estabelecem, é fundamental para trazer à tona novas possibilidades teóricas
e metodológicas de produção e representação dessas vozes;
Questão que se impõe: somos capazes de
“respeitar as 100 linguagens das crianças? [...] Embora o caráter simbólico que
se encerra no algarismo 100, destacam-se com essa metáfora de Malaguzzi (1999),
para, as heterogéneas formas de comunicação que a criança utiliza, antes de o
mundo adulto a conformar à utilização da oralidade enquanto ferramenta
privile-giada de comunicação humana. Da linguagem gráfica, à linguagem
simbólica, à linguagem motora ou ainda à linguagem oral, todas elas devem ser
consideradas, de acordo com Malaguzzi, como formas dignas de comunicação, de
modo a tornar visível e audível o que a criança quer comunicar.
Melhor “dica”: “Pressupostos como a
criança enquanto um ator social, com uma ação socialmente relevante, como um
sujeito com direitos e um ser competente nos seus mundos de pertença,
defendidos por autores fundacionais da sociologia da infância (CORSARO, 2011;
CHRISTENSEN; JA-MES, 2007; FERREIRA, 2010, 2002; JAMES; PROUT, 1990; JAMES;
JENKS; PROUT, 1998; JENKS, 1992; QVORTRUP, 1991; SARMENTO, 2000; FERNANDES,
2009; TOMÁS, 2011), permitirão desenvolver novas perspectivas metodológicas de
forma a ultrapassar “versões estreitas” sobre a criança (WOODHEAD, 2004), que
até então tinham sido reiteradas por discursos académicos e metodologias de
investigação dominantes”.
Rever:
a)
pesquisa em, sobre, com e
por crianças;
b)
sistematização das
correntes teóricas na sociologia da infância: a corrente estrutural; a corrente
interpretativa e a corrente crítica;
c)
Foco em: [...] Seria audacioso
considerar que o enquadramento metodológico, associado a uma escolha minuciosa
de “instrumentos para coleta de dados” asseguram a audição das vozes infantis.
É preciso estar comprometido ontologicamente, também, com os princípios da
pesquisa qualitativa, que busca, através do desenvolvimento de uma posição
reflexiva do investigador, superar o “culto instrumental” como um fim em si
mesmo.
Interessante: [...] A conceitualização
voz da criança é uma categoria usada, muitas vezes, para falar de uma voz
indiferenciada, independentemente de classe social ou cultura, o que, portanto,
esconde também a questão da diversidade. O risco é quando não se acautela o
contexto de produção dessa voz, ou seja, quando não se acautelam as condições
adequadas para que a criança, em sua diversidade existencial, possa falar,
salvaguardando que sua voz não seja apenas eco de algumas, porventura aquelas
mais expressivas, que detêm mais poder ou maior protagonismo nas relações de
pares e com os adultos. (2020, p. 5, grifos nossos)
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