Crianças vendem, pedem e cuidam. Brincam, pensam e desenham a cidade. Migram, aprendem, são artistas: apontamentos para a aula em 14/07/2022.
Cristina Maria Rosa
Qual texto? A
antropologia e as crianças: da consolidação de um campo de estudos aos seus
desdobramentos contemporâneos de Fernanda Cruz Rifiotis, Fernanda Bittencourt
Ribeiro, Clarice Cohn e Patrice
Schuch.
Apontamentos:
1.
[...] Destacar os dossiês temáticos que, na última década,
contribuíram de forma expressiva para a consolidação de redes de pesquisa e
desse campo de estudos no Brasil e na América Latina;
2.
[...] O chamado de Cohn (2013) é por maior interlocução, mais
entrecruzamentos. Ainda necessitamos ganhar maior abrangência tanto no debate
antropológico quanto na intervenção e na atuação pública;
3.
[...] infância ser entendida como construção social, não sendo,
portanto, uma característica natural nem universal, como variável de análise
social, assim como as crianças serem merecedoras de estudos em si mesmas e
devem ser vistas como ativas na construção da sua própria vida social;
4.
[...] O reconhecimento das diferentes habilidades das crianças
frente aos adultos, assim como também da autonomia e o potencial de decisão
destas nos ajudam a pensar em outra categoria de infância não mais universal,
mas fundamentalmente relacional;
5.
[...] essa revisão epistemológica propiciada pelo novo paradigma
foi central não somente para ampliar o número de pesquisas sobre infância, mas
sobretudo para revisitar criticamente os paradigmas evolucionistas e
funcionalistas que confundiam as etapas da maturidade biológica e o
desenvolvimento social;
6.
[...] a etnografia empreendida por Mead (1961) nos permite observar
como a infância, por ser experimentada de diferentes maneiras, em diferentes
culturas, pode ser compreendida não em sua universalidade, mas enquanto
categoria a ser construída socialmente;
7.
[...] desconstruir a ideia de infância como fenômeno universal e
reconhecer a infância como categoria construída socialmente;
8.
[...] o processo de desontologização da categoria de infância e o
reconhecimento do seu caráter construído e, portanto, não estático e tampouco
homogêneo, nos permitiram falar em “infâncias”, no plural, como forma de
atentar para objetos de estudo dinâmicos, flexíveis e autônomos;
9.
[...] pleitear a autonomia, em termos epistemológicos, do universo
infantil em relação ao universo adulto significa reconhecer tais universos em
relação de complementariedade;
10.
[...] em que medida estudar crianças requer métodos e técnicas
especiais? qual o lugar do pesquisador adulto na pesquisa com crianças?
11.
[...] a etnografia, tomada enquanto movimento epistemológico
privilegiado para pesquisar crianças, é revestida de estratégias capazes de dar
conta do dinamismo do universo infantil;
12.
[...] desconstruir categorias adultocentradas, as quais, além de
não darem conta da especificidade do universo infantil, estão focadas nas
expectativas dos adultos em relação às crianças;
13.
Assim, brincadeiras e jogos [...] são espaços reveladores do
potencial de agência desses sujeitos;
Pistas acerca das
contribuições da antropologia da e com crianças, pensando no “vir a ser” da
própria antropologia:
1.
[...] desconstrução da categoria “infância universal” (sobretudo em
função da revisão e dos desdobramentos do conceito de socialização) para
concebê-la enquanto relacional;
2.
[...] constatação de que as pesquisas antropológicas podem ser
enriquecidas ao considerarem o ponto de vista das crianças acerca das suas
experiências no mundo;
3.
[...] as crianças dos artigos deste número de Horizontes
Antropológicos vendem, pedem e cuidam, estão em conflito com as normas de
gênero, ocupam terra e brincam, têm autoridade ritual, pensam e desenham a
cidade, migram, aprendem, são artistas;
4.
[...] as etnografias que captam as participações ativas das
crianças nas diversas dimensões da vida social são elas mesmas plurais e estão
em diálogo com diferentes campos de estudo: do trabalho e da economia, do
gênero, da família e do parentesco, dos movimentos sociais, da religião, da
cidade, das migrações, da aprendizagem, das artes e muitos outros;
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