terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O gosto pelas coisas simples

 

O gosto pelas coisas simples:
opinião publicada no Tradição
Cristina Maria Rosa

 

Já leste Selma, de Jutta Bauer? Quando intenciono reunir argumentos para indicar sua fruição, lembro, sempre, do escritor mineiro conhecido por Vermelho Amargo.

Um manifesto é um modo de falar. E de escrever. É, também, um modo de ser/estar no mundo. Bartolomeu, o escritor sempre esperado em eventos onde o apaixonamento por livros tinha lugar, no Manifesto por um Brasil Literário (2009), declarou que “a leitura literária é um direito de todos”. Mais. Afirmou que este preceito “ainda não está escrito”. Quando ouvi, fiquei pensando: só demandamos algo quando já documentado? Bartolomeu escreveu outras muitas genialidades. E, não sei se leu Selma. Eu li, e te conto...

Jutta Bauer, a autora e ilustradora de Selma, vive em Hamburgo e, por seu trabalho, tem merecido vários prêmios. Não por acaso... Com tradução de Marcus Mazzari, a edição de Selma, no Brasil, ocorreu em 2008 pela da Cosac Naify. Cem gramas de papel em formato paisagem contém 56 páginas em onze centímetros de altura por quinze de largura.

Sim, é um livrinho...

Não dentro.

Quando o abrimos, folheamos, observamos, um turbilhão de sensações – advindas das ilustrações, das palavras ali presentes e do roteiro – invade nosso anterior modo de pensar. Isso torna Selma, imenso. Ou, imensurável! Esta palavra pode ser empregada para livros que têm como resultado, o silêncio – contemplativo, extasiado, filosófico, até.

Durante.

E após...

Selma é considerado um livro de literatura. É vendido como um livro de literatura infantil. Alguns o nomeiam como uma narrativa; outros, como uma novela. Um que outro, fábula. Eu o chamo de arte literária. Há traduções de Selma em muitos idiomas, e podes escolher em qual delas ler.

A primeira vez que li Selma foi em uma livraria. Penso que foi em Belo Horizonte. Teria sido na Quixote, a preferida de Bartolomeu Campos de Queirós? Me abracei na obra e saí com ela. Não me continha! Havia um barulho intenso dentro de mim...

Hoje, lamento não ter comprado muitos exemplares. Meu único, tratado como artefato precioso, com o ir e vir de aulas, palestras, viagens, desapareceu. Um dia, saí com e voltei sem. Para tê-lo novamente em minha biblioteca, tive que buscá-lo em outras línguas, pois a editora brasileira já não mais existe.

Ao ler Selma em aulas de leitura literária na Universidade, não raro, ouvia de estudantes presentes: – Não vivo mais sem este livro! Incomodados com o estranhamento e a sensação de incompletude que Selma tem deixado, alguns destes, ainda hoje, o mencionam como o melhor e mais importante livro lido em suas vidas.

Se leres Selma, vais entender...

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Obs: Este trexto foi publicado originalmente no Jornal Tradição em 18 de outubro de 2024. Para ver e ler, clique em: O gosto pelas coisas simples | Jornal Tradição Regional


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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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