É possível aprender a morrer? Uma opinião publicada no Tradição
Cristina Maria Rosa
Profundamente inserida na tradição cultural do ocidente e ainda
bastante protegida das novas formulações acerca do que é “cultura”, a
Literatura como arte da palavra se mantém como consenso.
Em A literatura contra o efêmero, Umberto Eco escreveu: “A
literatura mantém a língua em exercício e, sobretudo, a mantém como patrimônio
coletivo. A língua, por definição, vai para onde ela quer, nenhum decreto
superior, nem político nem acadêmico, pode interromper seu caminho nem
desviá-lo para situações que se pretendem ótimas. A língua vai para onde quer,
mas é sensível às sugestões da literatura”.
Se “o mundo da literatura” pode ser “inspirador da fé na existência
de certas proposições que não podem ser postas em dúvida” ou um “modelo de
verdade, ainda que imaginário”, a defesa da literatura e de um grupo de obras –
o cânone literário – é objeto caro e discutível.
Entre clássicos sobre o cânone, ou seja, textos que apresentam e
defendem o grupo de obras imprescindíveis, inadiáveis, inimitáveis,
inspiradoras, essenciais ou o melhor do que produzimos em anos de letras no
papel, destaco Sobre algumas funções da literatura, de Umberto Eco; Contos
e Poemas para crianças extremamente inteligentes, de Harold Bloom; Por
que ler os clássicos, de Italo Calvino e A literatura em perigo, de Tzvetan
Todorov, para quem Literatura não é teoria, é paixão. Nos textos aqui citados, quatro
reconhecidos pesquisadores que impactaram com suas ideias e registros o conturbado
e interessante Século XX, indicam o que ler para aprender a morrer.
Umberto Eco ri de nossos limites. Nossos, da humanidade. Ele
reconhece que nos perturbamos quando da leitura dos clássicos não pelo fato de
serem capazes de identificar de uma forma essencial algo que é verdadeiro e
terrível. Nos perturbamos por reconhecermos que a modernidade dos clássicos é
devida ao fato de eles serem tragicamente obsoletos.
Tragicamente obsoletos!
Que expressão impactante e potente!
Para nosso consolo, se é que morrer pode ser consolável, Umberto
Eco elogia a capacidade que a literatura tem de nos contrariar. Como? Ao
afirmar a impossibilidade de mudar destinos. E argumenta pela necessidade de
criatividade e liberdade que ela nos oferece ao nos ensinar a morrer.
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Obs: Este trexto foi publicado originalmente no Jornal Tradição em 14 de novembro de 2024. Para ler, clique em: É possível aprender a morrer? | Jornal Tradição Regional
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