Quando o vi, em meio a uma ninhada, não tive dúvidas!
E não foi por causa da vesguice, da magreza e das luvas pretas.
Ele nem sabia miar.
Só olhar.
Bastou.
- Esse é meu!
Eu disse, afobada, antes que alguém pudesse ver nele tudo que eu
vira.
Ninguém se interpôs.
Peguei no colo, enrolei em uma camiseta e lá estamos na foto.
Ele abraçado.
Eu abraçada.
Não tinha nome.
Eu sabia que alguns, em nossa casa, passam longo tempo sem nome. Tempo
suficiente para apresentarem-se. Uma vez escolhido o nome, nem sempre perdura.
Eventualmente, usamos.
Levado conosco, expressões como “nosso pequeno”, “filhote”, “magroleto”,
“vesgueto”, “pedacinho de gente” passaram a ser empregadas para chamá-lo, acalmá-lo,
alimentá-lo. E para descrevê-lo aos demais, em imagens no Instagram que “viralizam”.
Assim nasceu o “Noninho”.
Nos primeiros vinte dias, gelado sempre, extremamente magro, temi
pela sua vida. Não sabia miar, comer, ir ao banheiro. Não sabia pedir. Não sabia receber
carinho.
Mas sabia dormir.
Isso sabia.
Escorava o pescocinho sobre o corpo e ali ficava. Dorminhocava.
Como um Nonno. Como muito cansado, depois da colheita da uva. Como fingindo
estar atento, já sonhando. Disfarçando a velhice e projetando a próxima safra.
Noninho, disse eu.
Noninho ficou sendo.
Hoje, passados uns tempos – dois meses – Noninho é quase um jovem. Inteligente,
voraz, espoleta, curioso, ágil. Brincadeira predileta? Se disfarçar atrás de
uma folha. Medo? De nada. Passa pela Iris, Aquiles, Athena e Hórus, nossa trupe
de cães ferozes, com o mesmo passo que desfila quando quer parecer um leão.
Noninho aprendeu, rapidamente, todos os talentos de nossa família:
amor extremado, orgulho por existir, protagonismo e resiliência.
É um gato.
Tem 20 cm.
Olhos desalinhados.
Binocular.
Por não perceber a profundidade, confia em nós, adultos que o
conduzem.
Ao colo.
Ao solo.
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