Calça cor de creme
Cristina Maria Rosa
De manhã,
acordava em casa, quase sempre.
No
barraco de chão batido, rolava um café e um banho.
Depois, o
modelito para o translado: calças cor de creme, camisa colorida – vermelha,
quase sempre, amarela, azul ou verde, eventualmente. Raramente, branca.
Em dias
especiais, a beca poderia ser composta por um tom – a mais ou a menos – da
sempre impecável calça cor de creme. Era bege, para alguns. Cor de caramelo
para outros.
Todos já
entenderam.
Então, na
iminência do ônibus que o levava ao centro – ao trabalho – em uma banca ali
pertinho, adquiria o jornal.
Todos os
dias.
Qual
jornal? Não recordo.
Mas lia,
no ônibus.
Todinho.
Mesmo.
Sabia o
que ocorria na capital, nos bairros da cidade, alguma coisa de Brasília...
Sabia dos
empregos que, nos classificados, empresas ofertavam. Tanto que um dia se foi.
Se
apresentou na capital. Fez teste ao vivo e...
Deu um
show!
Quando
voltou, alguns poucos anos depois, contava barbaridades. Todos duvidavam.
Ele?
Jornal embaixo do braço ao chegar no velho e bom emprego, calças impecavelmente
frisadas, oferecia com algum desdém: alguém quer ler?
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