Nem só de areias vive o Areal...
Cristina Maria Rosa
Pelotas é matriz de excelentes contos.
Conheço vários amigos
e amigas que, de tão “na cara” as evidências, se transformam em bons contadores
de histórias. Como Verissimo ou Saramago.
Não é o meu caso.
Eu me contendo em
escrever o que me contam. E, se alguém gosta, fico feliz da vida.
Este é sobre o Areal.
O “bairro” mais “avenida com adjacências” que conheço. Um belo lugar, repleto
de presente e, acabo de descobrir, com um passado surpreendente.
Já escrevi sobre o
Areal em Cobras no Laranjal, um de
meus livros mais biográficos.
Já morei no Areal.
Já dei aulas lá.
Minha padaria
predileta é lá.
O museu da Baronesa
significa muito para mim.
A Avenida já recebeu
muitas de minhas dores e, em caminhadas pelo canteiro central, elucubrações se
transformaram em contos ou projetos.
Tenho uma amiga que
tentou se suicidar nela, atirando-se sob os carros que insistem em correr
ali...
Foi ali que morou um
dos professores mais icônicos da UFPel e, ao passar em frente a antiga casa hoje
escola, sempre recordo seu sorriso.
Mas, sobre o Areal
como lugar geográfico, pouco escrevi.
Hoje, recebi um
presente.
Uns papeizinhos
guardados desde tempo remoto.
Na verdade,
fotografias de papeizinhos.
Papel e papeizinhos
oriundos de arquivos catalogados, divididos e subdivididos.
Nesses, a notícia de
que o Areal, em priscas eras, foi mar.
“Era mar há milênios!”,
disseram minhas fontes.
Em seu solo, “areia e
água salobra”, me informaram.
Curiosa que sou,
perguntadeira, inevitável saber como descobriram...
Na vontade de ter um
poço, “há muitos anos, furamos o jardim
e analisamos a água”.
E...
O “engenheiro que fez
o trabalho” contou “que era mar, aqui”.
Que lindo, eu disse.
Que lindo, mesmo,
morar no mar, sobre o mar, perto do mar, pensei.
E, com o laudo da
areia que um dia foi mar em mãos, fiquei pensando: acredito ter aqui um bom
material para um conto...
Sempre soube que
Pelotas era essa fonte infindável de memórias.
E informo: suprimo fontes com elegância!
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