Profesoras longevas
Cristina Maria Rosa
Um dos textos que
inseri em Memórias da Infância de João Bez Batti (2017), foi a partir de uma de suas memórias a mim "revelada". Bez Batti contou, em certa
ocasião, de pessoas de Pelotas que haviam sido suas "professoras". Um
prato e tanto para uma biógrafa professora. Leia o que escrevi:
Longevas pelotenses
Em uma casa de tecidos, João também trabalhou.
Por três anos.
1956. 1957. 1958.
Ali conheceu as gurias pelotenses.
Aos moldes das moças de Quintana, eram três.
Pelotenses, as de João.
De Encruzilhada, as do Quintana.
Mas três, as moças dos dois.
As de Quintana sonhavam enganar a morte.
As de João, conseguiram.
Presentes na memória de João, invadiram a minha.
Vida.
E passaram a existir desde então.
Como encontrá-las se não as conheço?
Como tomar um chá com bolo na confeitaria, se nunca as vi?
Como saber delas, de seus ais, seus encantos, seus namoros, seus passos
em Paris?
Só isso eu sabia: estiveram na França, nos idos dos 50. Estudaram por
lá. E voltaram, as três, para conhecer João.
Conheceram.
Observaram.
Leram seus desenhos.
Uma árvore.
Com raízes. Disse ele.
E desenhou no ar, para mim, a árvore de sua memória no papel para as
três moças.
As três longevas pelotenses.
Com detalhes, completou.
E eu imaginei a árvore.
E as mãos de João, hoje talhadas em pedra bruta, elas mesmas ferramentas
em tantos anos, voltaram a ser mãos de então. Os olhos, brilhando ao rememorar
árvore frondosa, Perspicilium, para que eu visse o passado.
Estou em busca delas, as três moças, desde então.
Planejo cada passinho.
Já reservei uma mesa.
Não abro mão de um café.
E já escolhi minha roupa.
Quero escutá-las.
E dar a notícia ao João.
Quero saber seus nomes.
E quero apresentá-los:
- João, estas são as três moças que te conhecem desde as raízes, quero
entoar.
Não perco esse café por nada!
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