Três moças em uma encruzilhada...
Cristina Maria Rosa
Se tu ainda não conheces As Três moças de encruzilhada, do Mario Quintana, não sabes o que já perdeste. É um conto inserido em Sapato Furado (1994), um dos livros que apresenta a “prosa poética” do escritor aqui do Rio Grande do Sul. No livro, há "de tudo" de Quintana.
Como sabes, o poeta não escrevia apenas poemas...
Poemas nunca são “apenas”.
Expressei-me mal.
O que eu queria dizer é que nas
quarenta e oito páginas deste “Sapato”, há vinte e nove textos sobre variados temas,
indicados em um organizado sumário, ao final. Editado pela Global, é possível entrar
em contato com humor, precisão, delicadeza, originalidade. Mais. Com o
inusitado de uma personagem que não tem receio de se apresentar ao leitor: a Morte.
Assim mesmo, com letra maiúscula.
Sim.
Em Sapato Furado, esta velha senhora
é levada a sério!
Pois é...
Mas não é o livro e nem o conto que quero te convidar a ler...
O que eu quero é te contar que foi o conto de Quintana que nos
inspirou a dar nome às nossas três primeiras ovelhas crioulas aqui do sítio
Nonna Ambrogio.
Foi assim...
Sem nome, passaram a viver entre o gramado
e os arbustos. Comendo sem parar – tudo que é verde elas experimentam – se
recolhem a cada pequena ameaça de chuva, sol forte ou latido de algum de nossos
cães. Nessas andanças nutritivas, nos deram, por um tempo, a oportunidade de
observá-las.
Após suas decisões e indecisões, ocorreu um link com Quintana, um entre nossos autores prediletos
São três moças, nossas três ovelhas.
Sozinhas em “em bando”, enfrentam,
todos os dias, encruzilhadas.
Correr sítio acima ou disparar para
o canteiro de lírios? Fugir ou enfrentar os cães? Comer ou não as videiras?
Namorar ou não o carneiro Nero? Deixar-se tosquiar ou não? Balir ou silenciar?
Dar nomes...
A mais nova, filhote ainda,
mostrou-se a de maior personalidade e, por isso, a nomeamos “Sim”. De boca
cheia, grita por mais comida. Reúne as demais e as toca para o abrigo. Se
elas se revoltam, corre sozinha. Procura Nero como avalista de suas empreitadas ou como refúgio, quando as outras duas se enraivecem. Ao mesmo tempo, afronta o carneiro,
arrancando de sua boca um naco de grama.
A mais velha, forte, decidida, orgulhosa,
corajosa, nomeamos “Não”. Sempre que está contrariada, bate a pata direita
dianteira no chão, como a dizer: – Não passarás! É altiva, olha longe,
encara a todos antes de decidir. Não recua. Grita, se necessário. Ignora o
carneiro, que está louco por um namoro. Passa perto e dispara. Ela nega
encontros. Justifica-se a escolha.
E a terceira, quase uma solteirona
pois já é adulta e nunca namorou, demos o nome de “Talvez”. Talvez não é preta
nem branca e, ora corre, hora descansa; ora se empolga, ora respira; ora
observa, ora descarta; ora come, ora dorme.
Talvez, vez ou outra, segue o bando. Às vezes, faz carreira solo.
Três moças. Três ovelhas.
E a Morte?
Leia sobre ela em...
Mais...
Para saber mais sobre Mario Quintana,
Sapato Furado e As três moças de Encruzilhada, leia: https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2016/08/sapato-furado-de-mario-quintana.html
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