Cristina Maria Rosa
O que é extensão Universitária? Como estender aos demais o que aprendemos no mundo da ciência? O que são categorias de conhecimento? Por que a universidade pode e deve se comunicar cientificamente com a sociedade? Qual o papel social da Universidade e do conhecimento ali produzido? Essa e outras questões abarcam a discussão, que não é nova, a respeito da extensão universitária.
Freire, nos idos anos 60 do Século XX, no Chile e em exílio político, publicou um texto sobre o tema. Os atores eram outros, os problemas, parecidos: o impacto que os saberes e a linguagem dos cientistas causava nas comunidades onde buscava desenvolver técnicas e conclusões. Foi diante disso que o professor brasileiro refletiu. Em "Extención o Comunicación?" (Instituto de Capacitación e Investigación en Reforma Agrária. Santiago de Chile, 1969) propunha aos pesquisadores e extensionistas pensar sobre o dilema da comunicação entre o mundo do saber organizado em categorias e regido pela razão – o do saber universitário – e o mundo da vida mesma, em que tradição, crenças, hábitos e heranças são preponderantes. Para o autor, a questão estava nas mãos de quem propunha a mudança, ou seja, na sensibilidade de quem quer “humanizar o homem na ação consciente que este deve fazer para transformar o mundo” (Jacques Chonchol. Prefácio. 1968)
Penso que o conhecimento é um processo infindo e é constantemente adquirido quando as teses que dispomos são testadas e podem ser afirmadas, reformuladas, negadas, substituídas. Nada como um mergulho no mundo real, repleto de contradições e demandas de variados tipos para percebermos se o que planejamos é exequível, viável, pertinente, importante.
A extensão universitária é o grande prêmio de quem estuda. É nela que observamos a pertinência, a relevância, a adequação e mesmo o ineditismo do que descobrimos, projetamos, inventamos. É no campo – no caso das descobertas acerca da educação, na escola – que se operam as maiores e mais impactantes mudanças sociais que as descobertas científicas podem oferecer. É na vida de cada uma das crianças que estão na escola diante de um livro, por exemplo, de um conto maravilhoso, que a infância se torna infância.
Há muitas infâncias no Brasil sendo vividas concomitantemente mais há só um tempo – e bem restrito – para sermos crianças. Os infantes de nossa espécie conquistaram, nestes últimos 100 anos ou desde 1921, quando nasceu o Sítio do Picapau Amarelo, o direito de opinar. Ao ler e se defrontar com outras infâncias possíveis nos livros, suas tramas e personagens, podem aprender a preservar o que há de mais intenso nesse tempo: o direito de sonhar.
Conhecer a literatura é dever do professor e direito da criança. Extensão Universitária no campo da leitura literária é a verdadeira ponte entre o saber e o prazer. Uma ponte de saber e sabor ou "Uma rede de casas encantadas", como afirma Ana Maria Machado (2012)!
Nenhum comentário:
Postar um comentário