A Pedagogia é arte,
ciência ou nada disso?
Cristina Maria Rosa
Arte?
Ciência?
Profissão?
O que é a Pedagogia?
O Dia Nacional do Pedagogo – 20 de
maio – foi instituído pela Lei nº 13.083 a partir de 8 de janeiro de 2015. Decidi,
para comemorar, escrever algo sobre a profissão que exerço desde janeiro de
1990, quando a UFSM entregou-me o Diploma de Licenciada em Pedagogia. E, como
tenho apreço por indagar o que as pessoas que me cercam pensam, empreendi uma consulta
a um grupo de alunos e ex-alunos, em uma plataforma on-line.
Às vésperas da data tão marcante,
mensagens e mais mensagens foram chegando. A que atraiu de imediato a minha
atenção veio em forma de carta. Curta. Mas não deixou de ser uma carta. Uma
cartinha, eu diria. Nela, as seguintes palavras...
“Não leve a mal minha ignorância, mas
por que a existência de professores e de pedagogos? Não deveria ser uma única
atividade, a educação? Não imagino médicos atendendo pacientes e outro
profissional fazendo o diagnóstico. Por favor, me ajude! Como já recebi risadas
no privado, quero explicar melhor: não desprezo nenhuma das profissões, só penso
que deveriam fazer como na Medicina. Primeiro, Pedagogia e, depois, Especialização
em alguma matéria, como matemática, inglês... Não seria melhor? Alguém já pensou
nisso?”.
Sim, alguém já pensou nisso, eu
responderia. Mas, apesar disso, essa é uma interessante e pertinente questão a
ser considerada quando se aborda a formação docente. E formação docente significa as qualidades, habilidades, saberes e
sabores que são desejáveis e necessários e, sem os quais, um profissional da
educação não consegue exercer suas atividades.
E sim, há diferença entre um professor
(que pode ser até de cirurgia cerebral, por exemplo) e uma Pedagoga. Mas...
Onde reside a diferença? Como se
“formam” os profissionais que ensinam outros a serem o que quiserem? Quais as
habilidades que só os Pedagogos possuem? O que os diferencia das outras
atividades profissionais e dos demais professores?
Uma das pessoas que sim, “pensou nisso
antes”, foi Maurice Tardif. Sociólogo e Filósofo canadense, ao reunir resultados
de suas pesquisas na obra Saberes
Docentes e Formação Profissional[1],
elencou um grupo saberes que servem de base ao ofício de professor e indicou qual
a natureza desses saberes.
Ao demonstrar que “o saber literário
compõe o conjunto de saberes docentes ligados ao trabalho cotidiano em sala de
aula, mesmo quando esse trabalho não está diretamente ligado ao ensino de
língua e literatura”, Graça Paulino em Saberes
literários como saberes docentes (2004), extrapolou as formulações de
Maurice Tardif e, por isso, tornou-se uma herança intelectual potente. Atribuo
a essas duas fontes teóricas, meus saberes mais atuais quando preciso conceituar
o que é um profissional da educação e um Pedagogo.
Mas, há, ainda, poesia nesta seara...
Para o Pedagogo Lui Nornberg, este
profissional é alguém que “carrega água na peneira”. Lui refere-se ao poema O menino que carregava água na peneira,
de Manoel de Barros, uma belíssima metáfora para dizer o impossível tornando-o
possível.
Sim. Um Pedagogo é mais que um
professor, queridas e queridos alunos.
Um Pedagogo é alguém que pode “roubar
um vento e sair correndo com ele”, “criar peixes no bolso” e ser “ligado em
despropósitos”. Um pedagogo, uma pedagoga gosta “mais do vazio, do que do
cheio”, pois os “vazios são maiores e até infinitos”. Um pedagogo sabe que
“escrever” é o mesmo que “carregar água na peneira” e, então, aprende “a usar
as palavras”. Às vezes, pode “fazer peraltagens com as palavras” e é capaz de
“modificar a tarde botando uma chuva nela”.
O que seria de um Pedagogo sem as
palavras?
Sem a poesia que só existe com as
palavras?
O que seria de um Pedagogo sem a
Literatura?
Um Pedagogo se diferencia dos demais
professores porque possui, como ninguém, o saber – e poder que dele advém – de
capacitar cada novo exemplar da espécie humana em usuário competente da língua escrita.
É o Pedagogo que aprimora, em cada um de
nós, a arte complexa que é a linguagem, essa “faculdade cognitiva exclusiva da
espécie humana” (Bagno, 2014).
Por saber que a linguagem é a maior
conquista da espécie, o domínio dessa arte é raro, instigante, encantador e
inigualável e nós, sociedade, atribuímos a uma profissão – a Pedagogia – a condição
de ser portador desse poder.
Saber ler e saber ensinar a ler é o
que nos distingue!
Utilizar essa faculdade e tornar os
demais apaixonados pelo vigor e insondável beleza que advém da Literatura é
nosso compromisso!
[1] TARDIF, Maurice. Saberes
docentes e formação profissional. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes,
2002.
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