quarta-feira, 20 de maio de 2020

Pedagogia: um arte!


A Pedagogia é arte, ciência ou nada disso?
Cristina Maria Rosa

Arte?
Ciência?
Profissão?
O que é a Pedagogia?
O Dia Nacional do Pedagogo – 20 de maio – foi instituído pela Lei nº 13.083 a partir de 8 de janeiro de 2015. Decidi, para comemorar, escrever algo sobre a profissão que exerço desde janeiro de 1990, quando a UFSM entregou-me o Diploma de Licenciada em Pedagogia. E, como tenho apreço por indagar o que as pessoas que me cercam pensam, empreendi uma consulta a um grupo de alunos e ex-alunos, em uma plataforma on-line.
Às vésperas da data tão marcante, mensagens e mais mensagens foram chegando. A que atraiu de imediato a minha atenção veio em forma de carta. Curta. Mas não deixou de ser uma carta. Uma cartinha, eu diria. Nela, as seguintes palavras...

“Não leve a mal minha ignorância, mas por que a existência de professores e de pedagogos? Não deveria ser uma única atividade, a educação? Não imagino médicos atendendo pacientes e outro profissional fazendo o diagnóstico. Por favor, me ajude! Como já recebi risadas no privado, quero explicar melhor: não desprezo nenhuma das profissões, só penso que deveriam fazer como na Medicina. Primeiro, Pedagogia e, depois, Especialização em alguma matéria, como matemática, inglês... Não seria melhor? Alguém já pensou nisso?”.

Sim, alguém já pensou nisso, eu responderia. Mas, apesar disso, essa é uma interessante e pertinente questão a ser considerada quando se aborda a formação docente. E formação docente significa as qualidades, habilidades, saberes e sabores que são desejáveis e necessários e, sem os quais, um profissional da educação não consegue exercer suas atividades.
E sim, há diferença entre um professor (que pode ser até de cirurgia cerebral, por exemplo) e uma Pedagoga. Mas...
Onde reside a diferença? Como se “formam” os profissionais que ensinam outros a serem o que quiserem? Quais as habilidades que só os Pedagogos possuem? O que os diferencia das outras atividades profissionais e dos demais professores?
Uma das pessoas que sim, “pensou nisso antes”, foi Maurice Tardif. Sociólogo e Filósofo canadense, ao reunir resultados de suas pesquisas na obra Saberes Docentes e Formação Profissional[1], elencou um grupo saberes que servem de base ao ofício de professor e indicou qual a natureza desses saberes.
Ao demonstrar que “o saber literário compõe o conjunto de saberes docentes ligados ao trabalho cotidiano em sala de aula, mesmo quando esse trabalho não está diretamente ligado ao ensino de língua e literatura”, Graça Paulino em Saberes literários como saberes docentes (2004), extrapolou as formulações de Maurice Tardif e, por isso, tornou-se uma herança intelectual potente. Atribuo a essas duas fontes teóricas, meus saberes mais atuais quando preciso conceituar o que é um profissional da educação e um Pedagogo.
Mas, há, ainda, poesia nesta seara...
Para o Pedagogo Lui Nornberg, este profissional é alguém que “carrega água na peneira”. Lui refere-se ao poema O menino que carregava água na peneira, de Manoel de Barros, uma belíssima metáfora para dizer o impossível tornando-o possível.
Sim. Um Pedagogo é mais que um professor, queridas e queridos alunos.
Um Pedagogo é alguém que pode “roubar um vento e sair correndo com ele”, “criar peixes no bolso” e ser “ligado em despropósitos”. Um pedagogo, uma pedagoga gosta “mais do vazio, do que do cheio”, pois os “vazios são maiores e até infinitos”. Um pedagogo sabe que “escrever” é o mesmo que “carregar água na peneira” e, então, aprende “a usar as palavras”. Às vezes, pode “fazer peraltagens com as palavras” e é capaz de “modificar a tarde botando uma chuva nela”.
O que seria de um Pedagogo sem as palavras?
Sem a poesia que só existe com as palavras?
O que seria de um Pedagogo sem a Literatura?
Um Pedagogo se diferencia dos demais professores porque possui, como ninguém, o saber – e poder que dele advém – de capacitar cada novo exemplar da espécie humana em usuário competente da língua escrita.
É o Pedagogo que aprimora, em cada um de nós, a arte complexa que é a linguagem, essa “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana” (Bagno, 2014).
Por saber que a linguagem é a maior conquista da espécie, o domínio dessa arte é raro, instigante, encantador e inigualável e nós, sociedade, atribuímos a uma profissão – a Pedagogia – a condição de ser portador desse poder.
Saber ler e saber ensinar a ler é o que nos distingue!
Utilizar essa faculdade e tornar os demais apaixonados pelo vigor e insondável beleza que advém da Literatura é nosso compromisso!



[1] TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002.

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Alfabeteando...

Um "Alfabeto à parte" foi criado em setembro de 2008 e tem como objetivo discutir a leitura e a literatura na escola. Nele disponibilizo o que penso, estudos sobre documentos raros e meus contos, além de uma lista do que gosto de ler. Alguns momentos importantes estão aqui. 2013 – Publicação dos estudos sobre o Abecedário Ilustrado Meu ABC, de Erico Verissimo, publicado pelas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo em 1936; 2015 – Inauguração da Sala de Leitura Erico Verissimo, na FaE/UFPel; 2016 – Restauro e ambientação da Biblioteca na Escola Fernando Treptow, inaugurada em 25 de novembro; 2017 – Escrita da Biografia literária de João Bez Batti, a partir de relatos pessoais. Bilíngue – português e italiano – tornou-se um E-Book; 2018 – Feira do Livro com Anna Claudia Ramos (http://annaclaudiaramos.com.br/). 2019 – Produção de Íris e a Beterraba, um livro digital ilustrado por crianças; 2020 – Produção de Uma quarentena de Receitas, um livro criado para comemorar a vida; 2021 – Ruas Rosas e Um abraço e um chá, duas produções com a UNAPI; 2022 – Inicio de Pesquisa de Pós-Doutorado em acervos universitários. Foco: Há livros literários para crianças que abordem o ECA? 2023 – Tragicamente obsoletos: Publicação de um catálogo com livros para a infância.

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