Gente pobre, de Dostoiévski
Eu recomendo...
Cristina Maria Rosa
Além de uma lista atualizada por mim ano a ano e partilhada nas redes
sociais (De A a Z o que gosto de ler), sugestões do que ler integra minha produção na extensão desde outubro
de 2015, através de “dicas literárias” ao Programa
Tons e Letras da Rádio, na Rádio FM Cultura de Porto Alegre (107.7).
A convite do jornalista Luís Dill, uma obra literária é indicada aos ouvintes. Em janeiro, para
mais uma dica do que ler para os pequenos, selecionei um fragmento de
gente pobre de Fiódor Dostoiévski. Leia o texto que selecionei:
“Vivíamos sossegados, Várienka; eu e minha
falecida senhoria, já velhinha. E é dessa minha velha que agora me lembro com
um sentimento de tristeza! Era uma boa mulher e não cobrava caro pelo quarto.
Estava sempre tricotando mantas de retalhos diferentes com agulhas de tricô de
um archin de comprimento; essa era a sua única ocupação. Até a luz nós
partilhávamos, de modo que trabalhávamos à mesma mesa. Ela tinha uma netinha,
Macha – me lembro dela ainda criança –, a menina deve ter agora uns treze anos.
Era tão levada, alegre, fazia-nos rir o tempo todo; e era assim que vivíamos os
três. Durante os longos serões de inverno, costumávamos nos sentar a uma mesa
redonda, tomar nosso chá, e depois nos pôr a trabalhar. E a velha, para
entreter a Macha e para que a travessa não faça folia, se põe a contar
historias. E que histórias! Não só uma criança, até uma pessoa sensata,
inteligente, se deixa enredar de tal modo que e esqueço completamente do
trabalho. E a própria criança, a nossa traquinas, fica pensativa; escolar a
bochechinha rosada na mãozinha, abre sua linda boquinha e, se a história
inspira um pouco de medo, não vai se agarrando toda na velha. Para nós, então,
que prazer era olhar para ela; em reparamos que a velinha está derretendo, nem
percebemos que a nevasca Às vezes recrudesce do lado de fora e varre a
tempestade de neve” (DOSTIÉVSKI, Fiódor. Gente pobre. Tradução, posfácio e
notas de Fátima Bianchi. Col. Leste. São Paulo, Editora 34, 2009, p. 21-22).
Editado pela 34 em 2009 no Brasil, Gente pobre pode ser a porta de
entrada para uma Literatura densa e repleta de significados.
Leia para os seus, e ouça o Programa Tons e Letras.
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